Como lidar com um planeta mais quente, com previsão de elevação das temperaturas, derretimento das calotas polares e a consequente elevação do nível do mar? A resposta mais óbvia é poluir menos e plantar mais árvores, mas na prática essas resoluções são bem mais difíceis de serem executadas diante de tantos interesses conflitantes.
Esse e outros temas foram conversados no Balbúrdia desta quarta (12), que trouxe o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e vereador de Natal, Robério Paulino (Psol), um dos organizadores da I Conferência Potiguar do Clima, que será realizada entre os dias 13 e 15 de abril.
Macau vai sumir?
“A temperatura média do planeta aumentou 10C nos últimos 100 anos, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Agora, a previsão é que possa subir novamente, entre mais 10C ou 20C até o final do século, o que pode levar ao derretimento dos polos e derretimento de geleiras. A gente não percebe, mas aqui, na Praia do Meio, o mar está subindo quatro milímetros por ano, serão quatro centímetros em dez anos, oito centímetros em 20 anos. Cidades como Macau e países como a Holanda podem desaparecer alagados em função do aquecimento da atmosfera, do planeta”, alerta Paulino.
Nordeste
“A maior repercussão disso no Nordeste brasileiro é um rápido processo de desertificação. No passado, nossos avós, para nos alimentar, plantavam numa área o feijão, macaxeira, milho e quando aquela terra ficava fraca, eles abandonavam aquela terra e iam pra outro pedaço. Essa terra abandonada sobre um processo de litiviação, quando a chuva vem e lava a parte mais fina da terra, que aterra rios e riachos, e na parte mais alta não nasce mais nada, ficam só os pedregulhos, não tem mais fertilidade alguma. 1/3 a Oeste de Pernambuco já é considerado clima de deserto e aqui no Rio Grande do Norte já temos várias áreas que também são consideradas desérticas, como na região perto de Lajes, e nas cidades da tromba do elefante”, aponta o vereador.
Transporte
Durante o encontro, também será discutida a falta de um transporte público eficiente em Natal, que gera uma sociedade depende de carros particulares e mais poluentes, devido ao alto preço do automóvel e maior saída de carros usados.
“Carros demais e ônibus de menos. Em Natal só tem lata velha, ônibus que soltam muita fumaça, as pessoas compram carros usados, que poluem muito. Vamos discutir também a questão dos nossos mangues contaminados”, destacou Paulino.
Energia Eólica
“Só está se falando do lado bom dessas usinas eólicas, porque nós geramos hoje 100% da energia que o Rio Grande do Norte consome, mas não fica praticamente nada aqui. O ICMS é recolhido em São Paulo, onde ficam a sede dessas empresas, mas elas deixam doenças, que sobrecarrega nosso sistema de saúde”, aponta o professor da UFRN.
Cindo milhões de mudas no Semiárido
Durante o encontro também será discutido o projeto para cultivo de cinco milhões de mudas de árvores para que sejam plantadas no Semiárido.
“A ideia é que tenhamos viveiros em todas as cidades. A principal discussão será convencer as prefeituras, a gente tá feliz que a Femurn [Federação dos Municípios do RN] esteja conosco porque não temos condições de continuar doando mudas como temos feito para todas as cidades, todo dia para um caminhão que leva 300 mudas, 500 mudas. Para as áreas urbanas até dá, mas para o estado inteiro não tem condição. A grande proposta é de cultivar cinco milhões de mudas. O professor Arnóbio [José Arnóbio de Araújo Filho, Reitor do IFRN] já autorizou que seja instalado um viveiro em cada campi do IFRN e com a entrada da Femurn vai ter um viveiro em cada cidade. Com isso, a gente espera produzir por ano um milhão de mudas e em cinco ou seis anos fazer o planto dessas cinco milhões de mudas no nosso estado. Seremos um exemplo nacional e internacional. Sei que não será fácil, mas há muita gente envolvida nisso”, planeja Robério Paulino.
Confira a íntegra da entrevista: