Interventora da Ufersa nomeada por Bolsonaro vai a encontro de reitores com Lula
A interventora da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), Ludimilla Oliveira, participou na manhã desta quinta-feira (19) de um encontro de reitores de universidades e institutos federais com o presidente Lula (PT). Bolsonarista, ela foi indicada ao cargo em 2020 pelo ex-presidente, mesmo tendo ficado em 3º lugar na votação para a reitoria.
Além de Oliveira, o encontro teve a participação de Daniel Diniz, reitor da UFRN, e de José Arnóbio, reitor do IFRN, ambos com campus-central em Natal.
Em sua fala, o presidente rechaçou a escolha das reitorias para os menos votados, e disse que respeitará a autonomia universitária.
"Não pensem que o Lula vai escolher o reitor que ele gosta. Quem tem que gostar do reitor são os professores da universidade, são os funcionários da universidade. É a comunidade universitária que tem que saber quem é que pode administrar bem por ela. Isso eu posso garantir para vocês, vocês vão ter", disse Lula.
A legislação prevê que o presidente da República pode escolher um dos três nomes da lista tríplice, sem a obrigação de nomear o primeiro colocado, mas é comum que se respeite a escolha do mais votado.
Com Bolsonaro no poder, entretanto, mais de 20 universidades e institutos passaram por intervenção, após o ex-presidente não escolher os primeiros colocados apoiados pela comunidade acadêmica.
Ludmilla Oliveira obteve 18,33% dos votos na eleição para a Reitoria da Ufersa de 2020, ficando atrás dos professores Rodrigo Codes, o mais votado, com 35,55% dos votos; e Jean Berg, o segundo, com 24,84%.
“Estamos saindo das trevas”, disse Lula
Ainda na reunião, o chefe do Planalto alfinetou a gestão passada, afirmando que a população viveu sob o “obscurantismo”.
"Não existe na história da humanidade nenhum país que conseguiu se desenvolver sem que antes tivesse resolvido o problema da formação do seu povo. Nós estamos começando um novo momento. Eu sei do obscurantismo que vocês viveram nesses últimos quatro anos e eu quero dizer que estamos saindo das trevas para voltar à luminosidade de um novo tempo", afirmou Lula aos reitores.
Ludmilla: plágio em doutorado, intimidação e desdém de cortes orçamentários
Em sua passagem pela Reitoria da Ufersa, Ludimilla acumula desgastes e embates com alunos. Em novembro do ano passado, uma comissão disciplinar confirmou os indícios de que a interventora plagiou trechos da sua tese de doutorado e recomendou a aplicação da pena de exclusão da discente.
O caso foi noticiado, com exclusividade pela Agência SAIBA MAIS. Das 195 páginas que compõem a tese de doutorado defendida pela reitora em 2011, em pelo menos 16 delas, há o que a comunidade acadêmica classifica como plágio. Isto é, cópias inteiras ou parciais de textos de outros autores, sem que a fonte seja citada ou haja uso de aspas, no caso de transcrições.
Dias depois, em uma reunião do Conselho Universitário (Consuni), a interventora intimidou Ana Flávia Lira, ex-presidenta do DCE da Ufersa e estudante de Direito.
“Você vai me ressarcir todos os segundos de falta de paz. A senhora vai me ressarcir tudo, tudo, tudo! Eu exijo tudo!”, disse, se dirigindo a Lira.
“Eu não plagiei tese, eu tenho minha consciência tranquila. A senhora vai pagar todos os segundos, todos os segundos, a senhora e quem fez isso comigo e minha família. Eu quero que fique registrado em ata porque eu não sou covarde. Venha dizer aqui presencialmente no Conselho, não fique atrás de uma câmera e não tire sua face daí não… conheça seu lugar de estudante, nem graduação a senhora tem pra questionar uma tese de doutorado”, atacou a interventora.
Em outubro, após o governo iniciar mais uma série de cortes nos orçamentos das universidades e institutos federais, Ludimilla foi a única reitora potiguar a não externar preocupação.
Indo ao sentido contrário do que foi afirmado pelos reitores da UFRN e IFRN, ela disse que não haveria atrasos de pagamentos.
“Na Ufersa não haverá atrasos de pagamentos e estão assegurados todos os seus compromissos. A restrição orçamentária anunciada pelo Ministério da Educação se refere a novos empenhos”, declarou a reitora sem, no entanto, divulgar os números relacionados à instituição.
Novo ministro da Educação, Camilo Santana aproveitou o encontro para reafirmar a necessidade de investimentos na educação e do respeito à autonomia universitária. Em uma rede social, após o evento, o ministro comentou:
“Fizemos um encontro em que ouvimos nossas instituições e reafirmamos o compromisso e o apoio total a elas e à autonomia que possuem. Juntos faremos uma educação mais forte. Como diz o presidente Lula, Educação não é gasto, é investimento”, pontuou Santana.