CULTURA

“Mãe Luiza, construindo otimismo”: quando a esperança se sobrepõe à violência

O cenário é semelhante: uma comunidade periférica em um ciclo extremo de violência e abandono governamental. A diferença é um final feliz. A avaliação é de Paulo Lins sobre sua mais recente publicação, “Mãe Luiza, construindo otimismo”, num comparativo ao seu clássico dos anos 90, “Cidade de Deus“. Palco da mais nova obra do escritor, o bairro de Mãe Luiza recebeu o lançamento do livro na última sexta-feira (05), com uma noite de autógrafo na Arena do Morro.

Mãe Luiza é uma comunidade que trabalha com o básico que todo ser humano pode ter, os direitos humanos: o direito à alimentação, ao ensino, ao carinho, à música, à arte, ao lazer”, afirma Lins.

O autor acompanha o desenvolvimento da comunidade desde os seus primórdios, narrando as dificuldades humanitárias por meio de moradores fictícios, mas também a evolução da violência, o abandono governamental e a realização de um trabalho que mudou o rumo da história para melhor. Isso porque, Lins complementa sua ficção com um epílogo de não ficção, que resgata os esforços de Padre Sabino Gentille, uma figura importantíssima na história da comunidade. Desde sua chegada, em 1979, o religioso pressionou o poder por estruturas públicas que melhorassem a vida dos moradores e ajudou a promover uma cultura de solidariedade que permanece até hoje.

Foi uma experiência linda saber que aquele bairro tão saudável fora uma favela violenta e insalubre que ficou no passado”, revela Lins.

O centro da primeira parte da obra é a família de José e Lucia, que foge da seca para a cidade grande acompanhada de seus filhos Regina, Neuza, Chico e Fefedo. No entanto, ao buscar abrigo na praia e nas ruas, enquanto procuram trabalho, os refugiados são hostilizados pela polícia e pelos moradores dos bairros nobres. Depois de encontrar refúgio na mata, eles se tornam alguns dos primeiros a construir moradias na futura comunidade de Mãe Luiza, assim nomeada em homenagem à parteira da favela. Enquanto isso, Fefedo, o rebelde da família, começa a se envolver no tráfico, tornando-se um dos criminosos mais temidos da área. Por outro lado, Chico, o estudioso, acompanha de perto com seus pais a onda de solidariedade que começa a surgir na região.

A segunda parte do livro retrata os esforços de emancipação da comunidade de Mãe Luiza. Durante dois meses, Lins entrevistou moradores e investigou a história de Padre Sabino, que liderou uma verdadeira revolução social após assumir a função de vigário paroquial de Mãe Luiza. Com o passar dos anos, a comunidade (hoje com mais de 15 mil habitantes) ganha escolas especiais, projetos para gestantes e espaços para idosos. A violência foi reduzida drasticamente, e os homicídios caíram pela metade. Com ajuda da Ameropa, fundação que acompanha Mãe Luiza desde 1992, foi construída a Arena do Morro, que oferece diversos eventos culturais, esportivos e de lazer para os jovens.

O livro, editado por Ion de Andrade, Tomislav Duchanov, Nicole Miescher e Lars Müller, traz ainda dados estatísticos e artigos ilustrados que documentam os diversos projetos sociais realizados na comunidade ao longo dos anos.

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