Edifício Master: as histórias de Esther, Alessandra e Antônio Carlos, e também as minhas e suas
Esses dias eu revi Edifício Master, do Eduardo Coutinho. Sempre que vejo esse filme tenho ainda mais certeza da grandeza deste mundo, embora desconheça os outros. E tenho ainda mais certeza da força das boas histórias. Qualquer pessoa tem uma história para contar. Em alguns casos, histórias. Em Edifício Master isso se mostra de maneira mais viva e até mesmo assombrosa.
O documentário acompanha a rotina dos moradores do prédio e são eles mesmos que contam suas histórias de vida. Edifício Master é um filme sobre a vida, com todas as implicações e desafios que ela possa ter. Não é sobre felicidade, é sobre a real busca por ela. Entre decepções, alegrias, derrotas e vitórias o Edifício surge com seus corredores estreitos e apartamentos simples para amparar essa multidão de quinhentos desconhecidos.
Os depoimentos se completam e traçam um perfil diferente do que se pode pensar a princípio sobre moradores de Copacabana, cartão postal que já ultrapassou fronteiras cariocas. Nem todos são felizes, nem todos se conhecem e nem todos têm grandes perspectivas sobre o bairro. “Aqui a gente só sabe que alguém morreu quando ela some”, desabafa o “intruso” natural da Zona Norte da cidade.
“A solidão machuca muito”, é o que conta a ex-costureira da alta sociedade Esther, uma senhora simpática e vaidosa que pensou em se atirar do Master após um assalto, mas que reencontrou a felicidade no companheirismo do namorado. A solidão também faz parte da rotina do aposentado Henrique. Viúvo e com os filhos morando nos estados unidos, o militar se apropriou da música My Way como lema de sua vida. Todos os sábados, ele lembra aos vizinhos que ainda está vivo, cantando My Way, com toda a certeza de que existe sim um caminho.
Já Antônio Carlos se descreve como um sujeito tímido, gago e emocional. Suas lágrimas de emoção ao lembrar-se de uma gentileza feita por um ex-patrão não são apenas de alguém sentimental, mas de quem tem muito a dizer ainda, de alguém que precisa compartilhar esses sentimentos. “O homem não chora, mas eu sinto muita falta de chorar”, desabafa Antônio Carlos para alívio de sua alma e de seus olhos marejados.
Um dos depoimentos mais verdadeiros de “Edifício Master” é feito por uma mentirosa assumida. Ela avisa ao próprio Eduardo Coutinho que mente muito bem, mas que não mentiu na conversa, porque é uma mentirosa verdadeira. Essa é Alessandra uma jovem de vinte e poucos anos que desnuda sua vida diante da câmera, com uma simplicidade espantosa. A infância que não teve, o pai autoritário, a gravidez na adolescência, e o trabalho como prostituta. Tudo isso é tratado com naturalidade pela sonhadora e simpática Alessandra que diz ainda não temer a morte, “se eu morrer, eu vou é ser feliz”. E quem não quer ser feliz?
Nem todos têm a coragem de Alessandra, a emoção de Antônio Carlos ou a confiança de Esther, mas a identificação com as personagens de Edifício Master é quase imediata. Um mergulho na alma dessas pessoas e também nas nossas. Tudo isso, em um mundo de doze andares, 276 apartamentos e quinhentos habitantes.