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Antes da internet e das redes sociais, havia um "acordo" velado entre jornalistas sobre o qual pesava o fato de que não poderíamos criticar-nos uns aos outros. É costume ver jornalista apontando o dedo para o restante da sociedade, mas para dentro da profissão, mirando o próprio umbigo, isso nunca foi "recomendado".
Noves fora um ou outro arranca-rabo entre "desafetos", o natural era que as críticas, pessoais ou profissionais, fossem empurradas para debaixo do tapete. Havia o corporativismo, mas nesse caso pesava também o fato de que veículos da velha imprensa são controlados ou financiados, na maioria dos casos, por empresários. Logo, prevalecia o famoso "manda quem pode, obedece quem quer dinheiro". Quer dizer, quem tem juízo. Mas a internet e as redes sociais arrancaram o filtro e as críticas, seja de colegas ou da própria sociedade, passaram a ser regra, ao invés de exceção. E aqui vai um adendo: uma coisa é a crítica, outra é o ataque e a perseguição. A violência contra jornalistas, que cresce em escalada assustadora no Brasil desde a eleição de Jair Bolsonaro, é para ser combatida a ferro e fogo. Sem tolerância. Assustadora também foi a eleição do deputado Albert Dickson (PROS) como parlamentar do ano. Uma eleição realizada por jornalistas que cobrem a Assembleia Legislativa. Ao todo, 29 colegas escolheram Dickson como o melhor e mais atuante deputado de 2021. E aqui não vai nenhuma crítica ao processo "democrático" da escolha. Mas ao recado que nossa categoria dá para a sociedade. Numa pandemia, eleger como melhor deputado um parlamentar formado em Medicina e que defendeu o tratamento precoce contra a Covid-19 estimulando o uso de um remédio sem eficácia comprovada para combater a doença que matou mais de 616 mil pessoas no país e quase 7.500 potiguares é um deboche contra as vitimas. Dickson foi pauta de matérias na imprensa local, nacional e internacional porque chegou a condicionar likes em seu canal do YouTube a pacientes que queriam se consultar com ele. O parlamentar do ano, na visão do Comitê de Imprensa da ALRN, não tem um único projeto de relevância que lhe garanta o título. Não me arrisco a dizer o que motivou os colegas a votarem em Albert Dickson. Penso, logo desisto. Mas ao menos descobrimos o tipo jornalista Ivermectina: Aquele que certos políticos autorizam o uso, ainda que a ciência diga que não têm eficácia comprovada.