Maior estudo sobre zika no Brasil mostra que 3 a cada 10 gestantes infectadas tiveram bebês com anomalias; no RN dados são imprecisos
Natal, RN 15 de mai 2024

Maior estudo sobre zika no Brasil mostra que 3 a cada 10 gestantes infectadas tiveram bebês com anomalias; no RN dados são imprecisos

10 de fevereiro de 2023
0min
Maior estudo sobre zika no Brasil mostra que 3 a cada 10 gestantes infectadas tiveram bebês com anomalias; no RN dados são imprecisos

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Pelos menos 1 em cada 10 mulheres infectadas durante a gestação pelo vírus da zika, tiveram bebês com algum tipo de anomalia, sendo 4% delas, a microcefalia. A conclusão é resultado de um estudo realizado com pesquisadores de 26 instituições brasileiras e publicado esta semana na revista The Lancet Regional Health – Americas.

O levantamento é considerado o maior e mais abrangente já realizado até aqui no Brasil, com análise de meta-dados. Para a pesquisa, foram analisadas informações de 1.548 gestantes das quatro regiões de maior incidência da doença: o Nordeste, Norte, Centro-Oeste e Sudeste.

No Rio Grande do Norte, assim como no restante do país, houve um estouro de casos de microcefalia em 2015 - ano em que o Ministério da Saúde declarou estado de emergência nacional - quando foram registradas 406 notificações no RN, sendo que apenas cinco foram confirmadas como sendo resultantes do zika vírus.

O baixo número de casos de microcefalia por zika no estado é resultado da falha no processo de investigação realizado pelas regionais de saúde, de responsabilidade tanto do estado quanto dos municípios.

A investigação fica a cargo dos agentes notificadores. O que aconteceu é que muitos notificam e esqueceram de concluir a investigação. Todos os meses pedimos a atualização dos dados. Outra coisa é que essas crianças nascem com uma expectativa de vida muito baixa e quando elas morrem, as unidades não têm a obrigação de concluir a investigação”, explica Humberto Tavares, que integra a equipe técnica do Programa Estadual das Arboviroses da Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap).

Além da zika, a microcefalia também pode ser causada por outras doenças que venham a acometer a mulher durante a gestação, como HIV, sífilis, toxoplasmose, citomegalovírus (vírus da família da Herpes)  e a rubéola que, assim como a zika, causam má formação do sistema nervoso central do feto, fendas palatinas, entre outras anomalias.

O Rio Grande do Norte teve em 2014 seis casos confirmados de microcefalia por zika em recém-nascidos. Em 2015, quando houve o boom de casos em todo o Brasil, foram confirmados apenas cinco casos no RN, número contraditoriamente menor do que no ano anterior. Já entre 2016 e 2020, houve apenas notificações, mas nenhum caso foi confirmado devido à falta de conclusão das investigações. Somente em 2021 houve a confirmação de um caso, outros dois foram confirmados em 2022 e, este ano, dois casos foram notificados até agora, sendo um em São José de Mipibu e outro em Monte Alegre.

A gestante pode ser infectada pelo vírus da zika em qualquer período da gravidez, mas o risco é maior no primeiro trimestre da gestação devido à formação dos túbulos neurais, entre outras coisas. Ao todo, 2,6% das grávidas infectadas podem desenvolver fetos com alguma síndrome congênita, segundo Humberto Tavares, da equipe técnica do Programa Estadual das Arboviroses da Sesap.

CASOS DE ZIKA NOTIFICADOS E CONFIRMADOS NO RN:

 Notificações de microcefaliaCasos confirmadosMicrocefalia por zika
201406--
2015406-05
2016172--
201731--
201824--
201917--
202016--
202109-01
202219-01
202302--

Dados subnotificados I Fonte: Sesap

TREINAMENTO, REPELENTE E MEMORANDOS

No último trimestre, a Sesap distribuiu quase seis mil repelentes para as unidades regionais de saúde, para que sejam entregues às gestantes dos municípios. Além disso, o setor de Arboviroses da Sesap enviou um memorando às regionais de saúde pedindo informações sobre os técnicos responsáveis por inserir os dados no sistema. Muitos deles relatam dificuldade em utilizar a ferramenta digital e, por causa disso, a Sesap planeja fazer um treinamento com esse pessoal junto ao Ministério da Saúde.

“Estamos fazendo um levantamento do perfil desses notificadores junto aos núcleos de vigilância para saber quem são e quais os perfis utilizados no Registro de Eventos em Saúde Pública, que é o programa onde é feito o registro de todas as anomalias congênitas, não só por zika, mas por outras infecções acometidas durante a gestação”, detalha Humberto Tavares, da Sesap.

O SURTO

Apesar do zika vírus já ser de conhecimento de médicos e cientistas desde a década de 1950, não havia relato de surtos até 2007. Até hoje não se sabe como o vírus se espalhou, nem como surgiram os surtos da doença. Uma das explicações para o caso brasileiro é que o vírus tenha sido trazido para o país durante a Copa de 2014.

“Não tem uma explicação para esse boom de casos. O vírus era conhecido desde a década de 1950 na África, mas até 2007 não havia relato no mundo de surto. Em 2007, observamos surtos na África, América Central e Guianas. Em 2014, ano da copa, tivemos a região com vírus, a hipótese é de que pessoas tenham trazido o vírus, que se alastrou. Não sabemos se o vírus já existia no Brasil, mas, de toda forma, ele não resultava em doença. Uma coisa que precisamos ficar atentos é que os casos caíram consideravelmente nos anos seguintes, porém, as gestantes continuam expostas à doença”, alerta Nívia Maria Rodrigues Arraes, pediatra e professora do Dep. De Pediatria Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que criou um grupo para fazer o acompanhamento médico, com equipe multidisciplinar, das crianças com microcefalia e suas mães no RN.

As crianças que nasceram com microcefalia durante o surto da doença observado em todo o país no ano de 2015, podem chegar aos 8 ou 9 anos em 2023. Porém, do grupo inicial de 70 a 80 crianças que eram acompanhadas pela equipe da universidade, restaram apenas 50. Algumas acabaram abandonando os tratamentos durante a pandemia da covid-19 e cerca de nove teriam morrido.

Essa é a primeira de uma série de reportagens sobre os efeitos do zika vírus no Rio Grande do Norte que a Agência Saiba Mais vai publicar a partir da próxima semana.

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