Quando a indiferença é o melhor ataque
Natal, RN 27 de abr 2024

Quando a indiferença é o melhor ataque

7 de fevereiro de 2023
4min
Quando a indiferença é o melhor ataque

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Por Cefas Carvalho

Nas últimas semanas lemos e vimos mais uma sequência de show de horrores e bizarrices proporcionado pela extrema-direita brasileira, como de costume. Teve de tudo um pouco. Jair afirmando que é italiano de direito (porque quer se exilar na Itália caso dê errado sua permanência nos EUA). E também Michelle que mandou pastor secar um espelho d'água da Alvorada, matando assim as carpas, para recolher as moedas atiradas por passantes que mantêm a tradição de pedir boa sorte desta forma. Além disso, vimos o deputado federal Nikolas Ferreira atacar com gordofobia a influenciadora Thais Carla e também um advogado bolsonarista que morreu após ter sido atingido acidentalmente com uma arma com que entrou no exame de ressonância magnética da mãe!!!

Como jornalista tenho por dever profissional a obrigação de ler notícias de todos os gêneros, incluindo barbaridades como essas acima. Mas o curioso é que para além dos portais, na verdade tive conhecimento de algumas e vi maior reprodução delas em grupos de zap progressistas e nas redes sociais de pessoas queridas assumidamente de esquerda. Sim, é isso, como acontece desde a pré-campanha presidencial de 2018, a esquerda repercute sistematicamente o conteúdo produzido por políticos, jornalistas e influenciadores de extrema-direita.

A intenção é boa, claro. Quando vemos um absurdo, uma bizarrice, a primeira coisa a fazer é denunciar, expor, pensamos. Mas é justamente essa exposição que dá combustível e visibilidade a pessoas que fizeram do ódio e do preconceito suas plataformas para a fama e em boa parte dos casos para a carreira política. Lembremos que o próprio Bolsonaro, deputado medíocre do baixo clero, começou assim, dando entrevistas bizarras para Luciana Gimenez e programa Pânico na TV que eram insistentemente disseminadas pela esquerda. Como denúncia. Mas serviram como propaganda. Afinal, quando recebíamos um vídeo do Jair falando que "ter filho gay é falta de porrada" mandamos para grupos de zap de amigos e familiares na ânsia de criticar tal monstruosidade, mas acabou caindo como uma luva para o io machista e o colega de trabnalho homofóbico que ambém pensavam a mesma coisa e encontaram alguém que falava isso em voz alta. Voltaram 17 e 22 sem pena em 2018 e 2022, claro.

Idem em relação às falas de Bolsonaro sobre "quilombolas que a gente pesa em arrobas e não servem nem para reproduzir" e "mulher tem que ganhar salário menos porque engravida". Denunciamos à exaustão por achar que estávamos combatendo racismo e machismo/misoginia e acabamos alimentando quem pensava e pensa exatamente igual ao Jair. Enfim, a esquerda fez boa parte da campanha de Bolsonaro em 2018.

E ainda que Jair esteja em desespero no seu auto-exílio na Flórida com medo de ser preso, a esquerda parece não ter aprendido com 2018 e mesmo com a vitória de Lula em 2022. Continuamos reverberando os despautérios da direita alucinada. Que interessa fazer piada com as carpas mortas a mando de dona Michelle? Que ela seja responsabilizada judicialmente pelo possível caixa 2 operado em pleno palácio. Falemos de Janja, primeira dama com atuação social e iniciativas. Que ganhamos viralizando vídeos de Nikolas Ferreira, cuja fala de caráter já conhecemos? Que seja encaminhado ao código de ética da Câmara e às vias judiciais. Por que ainda confirmar Eduardo e Carlos Bolsonaro, duas nulidades cuja única função na internet e quiçá na vida é proferir barbaridades para manter o pai genocida na mídia e o número de seguidores/apoiadores?

Que ganhem da esquerda a indiferença, que em caso de redes sociais e internet, é a melhor estratégia, o melhor ataque. Que falemos mais das ações do Governo Lula, das explosões de máquinas de garimpeiros na reserva ianomâmi, na visita presidencial em breve aos EUA, nos projetos do ressuscitado Ministério da Cultura. Ou a esquerda aprende a lidar com redes sociais e zap ou dará sobrevida a uma gente que vai entrar na lata de lixo da história.

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