Projeto da UFRN recupera memória dos antigos cinemas de rua de Natal
Natal, RN 12 de mai 2024

Projeto da UFRN recupera memória dos antigos cinemas de rua de Natal

8 de junho de 2023
Projeto da UFRN recupera memória dos antigos cinemas de rua de Natal

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Um projeto desenvolvido por três alunos da UFRN quer lembrar aos moradores de Natal sobre a necessidade de reavivar o Centro Histórico e reivindicar o direito à cidade. Chamado “Aqui já existiu um cinema”, a iniciativa nasceu do Trabalho de Conclusão de Curso em Arquitetura e Urbanismo de Wire Lima e também ganhará um filme-ensaio dos estudantes de Audiovisual Anthony Rodrigues e Ilany Régia.

Tudo começou quando Lima iniciou a preparação para o seu TCC. A ideia era fazer um projeto arquitetônico de reuso do antigo Cine Nordeste, inaugurado em 1958 e fechado em 2003. O prédio, com uma fachada composta por curvas e pelo painel do artista plástico Aguinaldo Muniz, teve a própria fachada e as paredes externas tombadas como patrimônio cultural do Estado, mas a instalação de uma loja de departamentos (hoje já fechada) modificou também a arquitetura interna. Atualmente, o imóvel se mantém abandonado.

Apesar do tombamento, a estudante teve dificuldades de encontrar informações básicas para conseguir projetar e ter ideias de zoneamento de áreas, como a planta baixa, cortes ou fotos. 

“Como todo edifício tombado ele deveria ter passado por um processo mínimo que é o levantamento dessas informações. Contudo, eu passei um semestre batendo na porta do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e na Fundação José Augusto para coletar essas informações e simplesmente não existe nenhuma informação sobre o bem”, conta. 

Só essa ausência, diz Lima, já seria um “absurdo”, mas ela diz que os órgãos não sabiam sequer quem era o dono da edificação. Ela também tentou localizar os responsáveis através dos cartórios, também sem sucesso. Com um semestre do curso já atrasado por conta desse contratempo e sem ter mais aonde recorrer, ela abandonou a ideia de realizar o projeto no Cine Nordeste e achou outro prédio histórico, a antiga sede da Secretaria Municipal de Tributação (Semut) em frente ao Sesc Cidade Alta. A paixão pelo cinema, entretanto, não a fez esquecer a ideia de reuso para esse tipo de estabelecimento. 

“Quando se vai a um cinema de rua, encontramos uma experiência multifatorial. O prazer de ir ao cinema está além do filme, está nas trocas interpessoais de cada espectador com possíveis desconhecidos. Quantas vezes não ouvimos nossos parentes mais velhos falando que se conheceram quando iam ao cinema, quantos casais não foram unidos nos balcões dos cinemas, quantas amizades e laços foram feitos a partir do cinema de rua?”, se pergunta Wire Lima. 

Para ela, a atual experiência massificada dos cinemas em shoppings traz uma sensação diferente, “áspera”.

“Você entra em um espaço privado e controlado, precisa ter o dinheiro para pagar o estacionamento, além dos preços exorbitantes que os cinemas de shopping cobram para ingresso”, aponta.

Direito à cidade

Outro ponto chave para a futura arquiteta é o direito à cidade. Frequentadora antiga do Centro Histórico, desde quando estudava em colégios na época do ensino fundamental, ela diz que os polos culturais da capital estão desaparecendo.

“E é justamente aí o erro da Cidade Alta. Os comércios estão fechando as portas e não estão sendo substituídos por equipamentos públicos que gerem o ir e vir da população. Quantos centros culturais não poderiam ocupar esses casarões abandonados?”, questiona.

Em outra pesquisa feita por Felipe Oliveira, foram contabilizados 36 cinemas de rua que já existiram em Natal, como o Cine Rio Grande, Cine Rex, Cine Rio Verde e Cine São Luis. Todos eles foram demolidos, fechados ou se tornaram algum tipo de comércio ou igreja, como o Cine Rio Grande.

“O que salva ainda é a produção alternativa. Existem cineclubes como, por exemplo, o Cineclube Gambiarra ou o Cineclube Mulungu, que promovem a exibição de filmes de maneira gratuita em espaços reduzidos”, conta.

Filme-ensaio

Além do TCC em Arquitetura, Lima também produziu lambes (um tipo de cartaz) para espalhar pela cidade. “E se o vazio desse casarão fosse preenchido por um cinema de rua?” é a pergunta de uma das folhas. No processo de tentar levar sua pesquisa para os muros fora da UFRN, Wire ainda conheceu Anthony Rodrigues, produtor cultural e estudante de Audiovisual que estava escrevendo um projeto de filme sobre os cinemas de rua da capital ao lado de Ilany Régia.

“Os lambes fazem parte do meu TCC e ele estava com a ideia de fazer um curta sobre o abandono dos cinemas de Natal. Assim, a gente vai continuar com a produção dos lambes com esse foco de educação patrimonial e também iremos produzir um filme sobre espaços culturais que existiram na cidade e sobre o abandono deles”, afirma.

A produção dos estudantes está sendo mostrada no Instagram @aquijaexistiucinema.

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