“Como aqui não tem regulamentação, a força do capital é grande no RN”, alerta diácono sobre parques eólicos e fotovoltaicos
Natal, RN 17 de mai 2024

“Como aqui não tem regulamentação, a força do capital é grande no RN", alerta diácono sobre parques eólicos e fotovoltaicos

8 de agosto de 2023
6min
“Como aqui não tem regulamentação, a força do capital é grande no RN

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No Balbúrdia desta terça (8), o diácono Francisco Adilson da Silva, coordenador executivo do Serviço de Assistência Rural e Urbano (SAR) da Arquidiocese de Natal, falou sobre a participação da Igreja Católica nas lutas sociais por alfabetização e distribuição de terras, além de, mais recentemente, nos questionamentos em torno da implantação de parques de geração de energias renováveis, sem o devido estudo sobre os impactos ambientais e sociais desse tipo de empreendimento.

No Brasil, a preocupação com a evangelização das pessoas levou a outras questões, como a necessidade de alfabetização e melhora nas condições de vida. Foi assim que o Serviço de Assistência Rural e Urbano (SAR) surgiu, há 74 anos. Era década de 1940 quando um grupo de padres começou a se questionar como fariam a evangelização de pessoas tão empobrecidas, com alto índice de analfabetismo e marcadas pela miséria.

A população do estado estava em área rural. Natal, na época, tinha de 45 mil a 46 mil habitantes. Foi a partir desse movimento que fomos congregando pessoas, nessa época não tínhamos universidade, nem movimentos sociais. O SAR surge como um braço da Igreja para as questões sociais e começa a trabalhar a questão da educação de base. No estado tivemos a primeira experiência de educação à distância com a Rádio Rural, escolas radiofônicas, o movimento dos trabalhadores e trabalhadoras, movimento sindical rural, a própria Fetarn, assistência técnica, criou-se a Emater...tudo isso foi nascendo a partir dessa ação que o SAR foi empreendendo em Natal”, relembra Francisco Adilson da Silva.

Com o decorrer do tempo, o Serviço de Assistência Rural e Urbano (SAR) também passou a atuar na questão da disputa por terra, defendo uma melhor distribuição.

Com o tempo observou-se, também, a questão da concentração de terras e o SAR enveredou também na luta pela reforma agrária. Tivemos momentos tensos durante a ditadura militar. A Rádio Rural foi invadida, tivemos pessoas presas, o pessoal do movimento de educação de base e do próprio SAR foram perseguidos como comunistas, veja só, nós que conhecemos a história da Igreja e sabemos da figura emblemática de Dom Eugênio Sales, que era bem conservador, era tido como comunista porque apoiava essas ações”, ironiza o diácono, que lamenta a persistência, nos dias atuais, do preconceito em torno do envolvimento de religiosos em questões e pautas sociais.

Quando começamos a nos envolver em ações sociais, até mesmo dentro da própria Igreja, até mesmo os padres e clérigos que não conseguem enxergar esse viés da própria fé, dizem ‘esse aqui não é petista, é comunista’...começam a dar os ‘istas’. Eu acho que isso é só ignorância, falta de conhecimento, inclusive, do ensino social da Igreja, que vai dizer que para professar a fé cristã é preciso se associar à luta pela vida. Jesus deixou isso muito claro”, avalia Francisco Adilson da Silva.

Teologia da Libertação

“Teologia da Libertação é uma teologia que vai unir a fé à realidade. Quando se fala nisso hoje, cai a casa. Ela procura fazer essa reflexão do agir de Deus na história. É a práxis de uma Igreja que, realmente, tem raízes no evangelho, na palavra de Deus. Se você olhar a história bíblica, dos profetas, o próprio Êxodo, é uma história muito interessante de compromisso, de quantos não deram a vida na luta pela justiça. Quem fala isso hoje acaba sendo mal interpretado”, critica Francisco.

Energias limpas

O diácono também comentou sobre a preocupação com o processo de implantação de parques eólicos e fotovoltaicos sem a devida consulta às comunidades locais. Além disso, ele ressaltou a desconsideração dos impactos ambientais que esse tipo de empreendimento pode provocar, como o risco de contaminação do lençol freático na região de Touros, onde foi autorizada a colocação de torres de energia eólica numa área de dunas, responsáveis pela captação da água da chuva que mantém o lençol freático.

Não somos contra energias renováveis, pelo contrário, sempre lutamos por energia limpa. O problema não está na energia em si, mas no modelo. Sabemos que toda ação humana traz sujeira e essas energias renováveis estão mostrando que elas não são tão limpas assim. Elas chegam nas comunidades sem um diálogo, o Brasil sempre adotou esse modelo do agro, do grande negócio. Quando você vai para Macau que chega ali no Mato Grande, em João Câmara, vai ver como a paisagem está modificada, mas não é só isso. Se fosse só a paisagem até engoliríamos, mas a questão é aquelas torres com grandes hélices trazem impactos severos para o meio ambiente e, consequentemente, vai reforçar as mudanças climáticas, que percebemos que já está acontecendo, e se agravando cada vez mais”, alerta o diácono.

A falta de regulação no Brasil é um fator que termina por ajudar as empresas estrangeiras não apenas na implantação de parques de geração de energia, mas também a ampliar o domínio e controle internacional sobre o território nacional.

"São empresas estrangeiras que estão chegando aqui e arrendando levas imensas de terra, que vai ficar sob seu domínio. Temos a questão agrária e hídrica. Dizem que as próximas guerras serão por água e nós estamos cedendo isso para as empresas de forma indiscriminada. O estado brasileiro não tem uma regulamentação, essas empresas vêm da Europa, América do Norte...e lá elas não fazem assim em seus países, porque lá tem regulamentação, como aqui não tem, a força do capital é grande e nossos governos ficam de mãos atadas. Aqui com o Governo do Estado tem sido complicado porque nem conseguimos dialogar e tem sido uma luta constante manter esse diálogo", aponta o coordenador executivo do Serviço de Assistência Rural e Urbano (SAR) da Arquidiocese de Natal.

Confira a entrevista completa, CLIQUE AQUI.

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