População em situação de rua recebe atendimento médico, corte de cabelo e aconselhamento espiritual em Natal
Natal, RN 13 de mai 2024

População em situação de rua recebe atendimento médico, corte de cabelo e aconselhamento espiritual em Natal

2 de outubro de 2023
6min

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Aos finais de semana, as ruas do centro de Natal costumam ficar mais silenciosas e vazias, conforme o comércio na Cidade Alta vai fechando. Porém, nesse último sábado (30), na casa que fica no encontro das ruas Professor Zuza com Santo Antônio, o movimento se estendeu por um pouco mais de tempo.

O lugar já é bem conhecido, é a casa de Cida Melo, moradora do centro da cidade que abriga pessoas em situação de rua em sua própria residência. Por lá, elas receberam atendimento médico, fizeram exames de hepatite B, glicemia, sífilis, teste para HIV, aferiram a pressão e receberam preservativos.

Aprendi com meu pai, ele sempre ajudou as pessoas, me espelho nele e na minha mãe. Meu pai fazia uma peixada no meio do quintal do sítio e todo mundo comia, lá em Touros. Ele não está aqui entre nós, mas com certeza está me aplaudindo e dizendo ‘essa é minha galega’”, relembra Cida, em meio ao passar de gente mais intenso.

Para dar conta da demanda, Cida recebeu ajuda de um grupo de estudantes de enfermagem da UNP, que além dos exames, também fizeram a higienização e curativos nas feridas de pessoas em situação de rua que passaram pelo local.

Foi bem tranquilo, todos os testes deram negativo, o que é muito bom”, relata Liviane Carvalho, estudante do 8º período de enfermagem da UNP

Já tínhamos feito atendimentos antes, mas não com a população em situação de rua. Foi uma experiência ótima, desmistifica a impressão que muita gente tem sobre essas pessoas”, completa Willian Andrade, estudante do 8º período de enfermagem da UNP.

Liviane e Willian são estudantes de enfermagem I Foto: Mirella Lopes
Liviane e Willian são estudantes de enfermagem I Foto: Mirella Lopes

Mas, além dos atendimentos médicos, também houve distribuição de alimentos, de kits com produtos de higiene pessoal e aconselhamento espiritual, realizado pela Comunidade Cristã Videira de Capim Macio e Candelária.

Aproveitar para me alimentar também da palavra de Deus né. Hoje quero viver uma vida sossegada, ficar bem com a sociedade, que quando vê o cara sair do sistema, discrimina”, conversa Zé, que passou a morar pelas ruas de diferentes cidades e estados há três anos, depois de perder os pais.

A ponte entre a iniciativa da igreja e dos atendimentos realizados pela enfermagem foi feita por Débora Ferreira, que também é estudante do 7º período da UNP.

“Quando entrei em contato, ela disse ‘já tem uma equipe aqui, mas vocês não podem juntar não?’ Hoje entendo por que a junção das duas igrejas, porque há uma necessidade de mais recursos, mais público. Deus conhece o coração de Cida e o coração das pessoas que alcançam ela. Nada do que entregamos foi sobre nós, foi sobre Deus fortalecendo o que colocou no coração dela, que tem respeitado essa missão”, acredita Débora.

Débora (2ª da esquerda para a direita), junto com os amigos da igreja I Foto: Mirella Lopes
Débora (2ª da esquerda para a direita), junto com os amigos da igreja I Foto: Mirella Lopes

Um abrigo para mulheres com filhos

Edivânia, depois da 1ª escova no cabelo I Foto: Mirella Lopes
Edivânia, depois da 1ª escova no cabelo I Foto: Mirella Lopes

A casa de Cida é um abrigo não apenas para as pessoas em situação de rua, mas para mulheres com filhos que não são aceitos pelos albergues do município.

“Meu plano é de ter um espaço maior porque aqui recebemos as mães que o albergue não aceita. Deixam a mãe, mas não aceitam a criança. Quem quer a mãe, quer os filhos. Qual a mãe que vai aceitar tirar os filhos dela? Quero um espaço para colocar os homens em um canto e as mães com os filhos em outro”, planeja Cida.

Foi assim que Edivânia, que aproveitou para fazer sua primeira escova nos cabelos, começou a morar por lá com a filha de três anos e a ajudar na organização da casa há um mês.

Nunca ajeitei os cabelos, amei! Ele tava caindo muito, mas a menina disse que eu cortasse de novo depois que ia diminuir”, conta orgulhosa.

Sou viúva e morava na rua. Eu quero voltar pra casa da minha mãe, mas antes quero me recuperar mais e ajudar dona Cida”, planeja.

Em busca do sonhado espaço maior, Cida fez um CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) e aguarda a resposta de algumas solicitações encaminhadas à Prefeitura do Natal. Enquanto isso, ela continua morando no albergue público, que se tornou sua casa.

Continuo morando aqui. Daqui eu só saio para o cemitério... ou quando o dono pedir a casa”, conta Cida aos risos.

Cida, durante o evento realizado na sua casa I Foto: Mirella Lopes
Cida, durante o evento realizado em sua casa I Foto: Mirella Lopes

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