Professores da UFRN decidem deflagração da greve em plebiscito
Os professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) aprovaram, no início da noite desta terça-feira (09), um indicativo de greve. A categoria vai decidir se adere à paralisação por meio de um plebiscito que acontece nos dias 15 e 16 deste mês. De acordo com Sindicato dos Docentes da UFRN (ADURN), caso a deflagração da greve seja aprovada, será por tempo indeterminado, a partir do dia 22 de abril.
Com a participação de mais de 250 docentes, a decisão foi tomada em assembleia que ocorreu de forma híbrida, ou seja, remota e também presencialmente no auditório Otto de Brito Guerra, localizado na reitoria da UFRN, campus Natal. “Foram mais de 2 horas de debate, em que foi assegurado o direito dos e das docentes, além de demais entidades que representam a comunidade acadêmica, de se manifestarem contra ou a favor da greve neste momento", declarou o presidente do ADURN-Sindicato, Oswaldo Negrão.
Caso os professores votem a favor da adesão à greve no plebiscito, a categoria se soma aos servidores técnico-administrativos da UFRN, que estão com as atividades paralisadas oficialmente desde o dia 14 de março.
De acordo com o ADURN-Sindicato, a última greve deflagrada pelos professores da UFRN foi em 2020. Porém, a deflagração ocorreu exatamente no dia em que a instituição suspendeu suas atividades, em virtude da pandemia do Covid-19. Antes disso, houve uma greve realizada pela categoria em 2016.
Atualmente, os professores demonstram insatisfação com a posição atual do governo federal de não dar nenhum reajuste salarial aos servidores em 2024. Além disso, dentre as reivindicações, estão a reestruturação da carreira e a recomposição dos orçamentos das instituições federais de ensino, como ressalta Rodrigo Almeida, professor do Departamento de Comunicação Social da UFRN: “A Universidade está passando por um momento muito complicado. Eu destacaria a questão da precarização, da estrutura. Eu sou chefe de departamento atualmente e tenho que lidar, todos os dias, por exemplo, com ar-condicionado quebrado, alunos que estão tendo que ser deslocados de sala. A gente também não tem salas suficientes”.
É importante lembrar que a UFRN começou o ano de 2024 com um déficit de R$ 4,2 milhões. E para além da questão das verbas orçamentárias, o professor Almeida pontua que a greve dos docentes pode se somar à luta dos demais trabalhadores da instituição. “A greve dos professores também tem um papel de apoiar a greve dos servidores técnicos-administrativos, que já estão paralisados desde março”, ressalta. “Além disso, temos que considerar a situação dos terceirizados, que muitas vezes têm os seus salários atrasados”.
O professor ainda avalia que o ponto principal a ser discutido para deflagrar a greve é o investimento na educação em geral. “A gente já esperou o máximo que podia. Para mim, esse é o momento de deflagrar a greve, para a pressão ser ainda mais forte”, diz, se referindo à mobilização nacional dos servidores federais da educação que lutam pelos direitos da categoria.
A assembleia desta terça (09) também contou com a participação de estudantes e de outros servidores da UFRN. Tazia Maia é dirigente sindical do Sintest, sindicato que representa os técnicos-administrativos da UFRN. Ela afirma que a decisão dos professores é essencial para apoiar a categoria a qual ela representa. “Estamos sempre juntos, porque a gente entende que a educação é responsabilidade de todos nós que fazemos essa universidade”, declara.
“A greve está crescendo muito forte. O governo federal chega para a gente e fala em negociação, mas o reajuste no salário continua zero para 2024. Que negociação é essa? Não é isso que a gente quer, e não vamos aceitar!”, argumenta Maia.
Na manhã desta quarta-feira (10), o Sintest/RN promove uma assembleia na reitoria da UFRN campus Natal, para avaliar a conjuntura e decidir os próximos passos.
A mobilização dos estudantes da UFRN
O movimento estudantil também tem demonstrado apoio à mobilização de greve dos professores da UFRN. Ana Beatriz Sá é estudante de Psicologia, representante da União Estadual dos Estudantes (UEE) e do Movimento Correnteza. Ela defende a importância do indicativo de greve ter sido apontado na assembleia desta terça (09). “Mais da metade dos presentes hoje na assembleia votaram a favor do indicativo de greve, então os professores estão favoráveis a lutar por um orçamento digno para a universidade”, ressalta.
“Existe muito o discurso de que realizar uma greve hoje no nosso país, uma greve dos profissionais de educação, é abrir espaço para a extrema direita. Mas o que abre espaço para a extrema direita é a conciliação com esse tipo de orçamento criminoso para a nossa universidade”, argumenta a estudante, se referindo ao déficit orçamentário que a UFRN vem enfrentando nos últimos anos e que foi agravado pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Para a classe estudantil, a votação da assembleia dos professores é mais um passo para uma grande mobilização. “Essa foi uma assembleia importante, mas a gente precisa ainda ter a tarefa de mobilizar estudantes, professores, para a gente poder de fato caminhar para um horizonte que a gente quer, que é o da construção da greve para um orçamento digno”, revela Sá.
O movimento formado pelos estudantes bolsistas da UFRN vem estudando a possibilidade de paralisação das atividades. Além do apoio aos profissionais da educação, os estudantes reivindicam a não redistribuição do trabalho do servidor para o bolsista, a revisão do regulamento das bolsas na UFRN e a recomposição do orçamento da educação, assim como o aumento no orçamento da assistência estudantil.
Na última semana, os estudantes bolsistas da UFRN se posicionaram, a partir de um formulário que contou com mais de 180 respostas, pela paralisação total da categoria. Segundo o Movimento dos Bolsistas da UFRN, um abaixo-assinado será entregue à Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PROAE), a respeito da decisão dos alunos.
Nesta quinta-feira (10), às 12h15, os estudantes realizam uma Assembleia dos Bolsistas da UFRN, em frente ao Restaurante Universitário (RU) Central, no campus Natal, para decidir o início da paralisação e o calendário de lutas deste momento.