Para que não se esqueça: Mossoró terá memorial às vítimas da Covid
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Para que não se esqueça: Mossoró terá memorial às vítimas da Covid

19 de dezembro de 2023
5min
Para que não se esqueça: Mossoró terá memorial às vítimas da Covid
Monumento deve ficar pronto em seis meses | Foto: Divulgação (PMM)

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Mossoroenses vitimados pela Covid-19 terão seus nomes marcados em um espaço na cidade. Um memorial em homenagem aos mortos pela pandemia será construído na Avenida Dix-Sept Rosado, ao lado da Catedral de Santa Luzia, no centro. 

A ordem de serviço foi assinada nesta segunda-feira (18) pelo prefeito Allyson Bezerra. A obra é uma das contempladas na primeira fase do programa “Mossoró Realiza”. 

Ao todo, mais de 700 nomes devem ser registrados no monumento. A previsão de conclusão é de seis meses. O investimento é de R$ 433.783,42.

Para Bezerra, o memorial vai buscar valorizar as vítimas da pandemia.

“Uma linda praça que vai homenagear todos os mossoroenses que partiram desta vida por conta da pandemia. Esse memorial é mais do que uma homenagem, é um alento às famílias e a todos que ficaram na saudade de seus familiares”, afirmou.

“Estamos buscando valorizar e deixar na história esses homens e mulheres mossoroenses que ficarão pra sempre na nossa eterna lembrança”, completou.

“Um filho jamais será esquecido, mas sempre que eu passar em frente a esse memorial eu vou lembrar cada vez mais. Foi muito emocionante. Me tocou profundamente”, afirmou uma mãe, que não teve o nome identificado. 

Com o início da obra, o trânsito será impactado na região. A via lateral à esquerda do local será interditada, bloqueando a passagem de veículos durante todo o período de construção do Memorial da Covid-19.

Quem serão os homenageados

A plataforma Inumeráveis é um memorial online dedicado à história das vítimas do

coronavírus no Brasil. O projeto foi criado em 2020 e conta com colaborações de todo o país, por meio de testemunhos enviados por amigos ou família.

Lá estão 20 mossoroenses com suas vidas narradas. É o caso, por exemplo, de Raneuma Francisca de Almeida Dantas, que morreu em 2020 aos 52 anos.

Raneuma era chamada de Pretinha, contou no relato a filha Daniela Almeida. Nascida em 1967, Pretinha conheceu seu marido Cláudio em 1995, vivendo com ele por 25 anos e tendo dois filhos. 

Daniela, na verdade, era sobrinha de Pretinha, mas criada pela mulher desde cedo, cultivavam uma relação de mãe e filha. Com a filha de Daniela, novamente, guardava um carinho de avó e neta.

“Às vezes, Pretinha até deixava de fazer alguns passeios e viagens só porque não queria ficar longe da neta. O seu amor pela filha mais velha de Daniela era especial e inexplicável; por ela, sentimentos de amor e carinho nitidamente transbordavam. Sua dedicação e cuidado para com ela eram tão grandes que queria mantê-la sempre por perto, protegendo-a e desejando-lhe sempre o melhor. Se fosse preciso, era capaz de mover montanhas só para lhe dar alegria”, registra o testemunho.

Pretinha, ainda de acordo com o relato, “foi uma pessoa que aproveitou bem a vida, amou verdadeiramente as pessoas e colocou alegria em tudo o que fez”. 

“Dona de um sorriso iluminado e de uma jovialidade invejável, era também vaidosa, fazendo questão de estar sempre bem vestida. Sua diversão preferida era ouvir Amado Batista tomando uma cerveja gelada. Com essa combinação, a animação nos churrascos de domingo estava garantida”, diz o texto.

“Quero seguir a vida levando no coração a coisa mais preciosa que ela me ensinou: amar a todos incondicionalmente", contou a filha Daniela no Inumeráveis.

A história da primeira vítima fatal da Covid-19 no Rio Grande do Norte também está lá. É Luiz Di Souza que, por mais de 20 anos, dedicou-se ao ensino superior como professor de Química na Uern. O relato no Inumeráveis foi contado pela filha de coração de Luiz.

“Desde os tempos em que fazia faculdade, sempre foi alguém diferente. Seus colegas o chamavam de Jimmy, em analogia a Jimmy Hendrix”, aponta o texto. O apelido, segundo a companheira Margareth, era porque “ele era um belo negro alto, magrelo, das penas finas” e usou durante muito tempo um “cabelão black power impressionante”. 

“Agora usava uma barba bem branquinha e o cabelo já estava curtinho”, lembra a esposa. 

Era um professor universitário dedicado, disse Margareth. 

Muitos de seus antigos alunos viraram amigos, e com alguns aos domingos “nos reuníamos para o café da manhã e para recitarem poesia”, contou Margareth. 

“A esposa conta que, por amor aos seus alunos tão queridos, Luiz inventava bolsas de estudos para que eles nunca desistissem de estudar: ‘mas essas bolsas ele pagava do próprio bolso’”.
Todos os relatos das vítimas de Mossoró presentes no Inumeráveis você tem acesso clicando AQUI.

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