"A retomada do cinema brasileiro incomoda porque a extrema-direita tem dificuldade de conviver com liberdade de expressão. A extrema-direita é totalitária, é burra. Eles querem acabar com essa liberdade que nós conquistamos", atacou Juca Ferreira, o ex-ministro da Cultura nos governos Lula e Dilma.
A pasta que ele dirigiu foi extinta pelo governo Bolsonaro. A depender das declarações recentes do presidente da República, a Ancine é a bola da vez.
Atualmente na secretaria de Cultura de Belo Horizonte, Ferreira foi uma das atrações do seminário nacional de Cultura e Resistência, que acontece nesta sexta-feira (02), em Natal. O evento marca o início das aulas do curso de formação “Cultura”, realizado pela Fundação Perseu Abramo em parceria com a Secretaria Nacional de Cultura do PT. O Seminário acontece na tenda do Festival Elas por Elas Cultura, Comunicação e Trabalho, instalada na Praça da Árvore, em Mirassol. O palco receberá, durante à noite, o evento de incentivo ao empoderamento feminino.
A ideia é refletir sobre os rumos dos programas culturais na contemporaneidade brasileira. Contestador ferrenho do governo Bolsonaro, Juca Ferreira não economizou críticas ao novo governo:
"Eles estão tentando destruir tudo. É até cansativo enumerar, porque é muita coisa...direitos sociais, reforma trabalhista, da previdência, além de atacar a vida democrática do país restabelecendo a censura. Soube também que agora eles vão dar prioridade de acabar com o SUS para privatizar a saúde no Brasil, então ele (Bolsonaro) representa a barbárie e o retrocesso", disse.
Sobre o panorama brasileiro no campo cultural, o ex-ministro destacou a tentativa do ex-presidente Michel Temer de extinguir o ministério que fomentava a área, ideia interrompida em razão da indignação popular e de movimentações feitas por diversos artistas em todo Brasil. Na era bolsonarista, os eventos de opressão cultural, segundo Ferreira, se repetem:
"Eles estão destruindo grupos de trabalho já com o nível de experiência alta, cortando verba, acabando com programas importantes. Agora, também tentam destruir um dos maiores sucessos do ministério que é a política para o cinema e para o audiovisual. A gente deixou uma captação por fora do orçamento que é a taxa cobrada por todos os meios que veiculam conteúdos audiovisuais, é o que tem permitido o crescimento do cinema brasileiro e a Ancine é quem administra isso de forma bem republicana", disse, em defesa da Agência Nacional de Cinema, ameaçada de extinção em declarações feitas pelo Presidente.
A Ancine é órgão oficial do governo federal e funciona de forma autônoma. Conta com diretoria, presidente e conselho. O uso do recurso disposto à agência se dá através de editais variados, em que artistas e produtores apresentam propostas, que são julgadas e aprovadas. Segundo o ex-ministro, as contas são prestadas publicamente:
"Eles espalharam uma série de boatos de que era corrupção e privilégios, mas não é verdade e eles sabem disso. Como não pegou, já que é tudo documentado e transparente, eles estão levantando um argumento moral que têm filmes que agridem a família brasileira... tudo isso é bobagem, é mentira. O que eles querem é acabar com a política", defendeu.
Segundo Juca, quando o ex-presidente Lula foi eleito, menos de dez filmes eram produzidos por ano no Brasil. Com as novas políticas de incentivo, a média evoluiu para mais de 150, como é hoje.
Também integrando a mesa, a Deputada Federal Benedita da Silva (PT-RJ) defendeu o combate ao racismo, homofobia, preconceitos e intolerância religiosa. A presidenta da Comissão de Cultura da Câmara disse que, mais do que lutar, é preciso escolher não morrer num governo que põe em ameaça as principais áreas de diálogo com o povo, que são a educação e a cultura.
"O governo tem medo do povo, da verdade. A cultura é uma coisa real, aberta, colocada. Ele não quer ouvir essa verdade. Foi uma eleição de irregularidades, inconstitucionalidade, fake news e outros instrumentos que agora o The Intercept está colocando, que são as manobras de Moro e Dallagnol pra evitar que Lula fosse candidato", disse.
A petista lembrou do ex-presidente Lula e disse que suas ideias, assim como o traço cultural que reside em cada indivíduo, não podem ser aprisionados.
"A cultura que querem matar, sobrevive muito além do que qualquer governo pode oferecer. Ninguém mata identidade."