Não houve nem deverá haver grande repercussão contra o decreto presidencial de Bolsonaro zerando a alíquota para importação de armas, assim como deu-se pouca importância a desregulamentação do registro e rastreio de armas de maior calibre e poder ofensivo nas mãos de "colecionadores" pelo Exército. Essa "apatia" é compreensível, uma vez que o foco e a prioridade da sociedade não tem sido a mesma do governo federal.
Neste momento, as ameaças representadas pelo Covid-19 nos parecem (e são) mais urgentes, mas os riscos à nossa sobrevivência (individual e como democracia) representados pela corrida armamentista patrocinada pelo presidente e sua trupe são igualmente reais.
O que está por trás do plano de liberação de armas?
Estudos, estatísticas e exemplos de políticas semelhantes, adotadas em outros países, comprovam que não é "a garantia à autodefesa do cidadão" diante da crescente violência urbana, como apregoam os seguidores do presidente. Há uma intenção política, sombria e nefasta, escondida neste argumento simplista e falso. Para compreender é necessário observar dois fatos. Um atual, outro histórico.
O fato atual são as reações de alguns setores radicais da direita republicana nos EUA à derrota de Donald Trump. No Arizona, onde Biden rompeu a tradição conservadora e venceu, grupos armados cercaram locais de apuração dos votos e, desde então, têm feito desfiles pelas ruas. Esta semana, quando se aproxima a confirmação oficial da eleição de Biden no Colégio Eleitoral, a direção local do Partido Republicano iniciou uma pesquisa, via twitter, sobre "quem estaria disposto a dar sua vida pela reeleição de Trump".
O fato histórico é igualmente ilustrativo. Na Alemanha de 1930, foi a atuação de grupos de milícias paramilitares de ultradireita, armados à revelia do controle do Exército alemão e diante da indiferença dos segmentos liberais e progressistas, que preparou o caminho e garantiu a ascensão do nazismo.
Evidente que a nossa realidade não é a mesma da Alemanha da República de Weimar nem o nível de armamento da sociedade brasileira é igual (por enquanto) a da norte-americana. Mas, sem contar o tanto que o capitão Jair Bolsonaro emula de Trump e Hitler, o cenário de crise global e o desgaste programado das instituições democráticas nos aproximam, perigosamente, desses dois exemplos.
Para que eles se repitam aqui, basta não fazermos nada.