Racismo nosso de cada dia: mortes e ocultação de uma chaga social
Natal, RN 26 de abr 2024

Racismo nosso de cada dia: mortes e ocultação de uma chaga social

10 de dezembro de 2020
Racismo nosso de cada dia: mortes e ocultação de uma chaga social

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Imaginem, apenas imaginem, que em um condomínio de luxo em Natal, o Green Village, por exemplo, duas crianças brancas, filhas dos moradores bem aquinhoados do dito condomínio, estivessem brincando na ruas do dito cujo, dentro dele, e fossem mortas por um tiro disparado por armas do Estado, que estavam, em tese, confrontando bandidos na frente do Condomínio. Imaginem a repercussão na mídia.

O BraZil, que nunca foi um país em que as etnias viviam em “harmonia”, só o sendo na mente dos intelectuais que no começo do século XX inventaram essa convivência harmônica, abre, no século XXI, as entranhas do seu racismo. A hipocrisia caiu, já que esse parte da população, insuflada pelo presidente-miliciano, resolveu expor sua face sombria e mostrar seu racismo com todas as forças.

O racismo ergueu-se basicamente após a onda reacionária que varre o mundo e TODOS os governos que insuflam essa coisa odiosa, são de EXTREMA-DIREITA. Todos! Não existe, no mundo, um governo progressista ou de Esquerda, que semeie o racismo.

Não é coincidência. Os reacionários nunca engoliram os negros como parte integrante de qualquer sociedade. Qualquer um desse campo que negue ser racista, estará MENTINDO. É algo entranhado nesse setor da sociedade. Eles veem os negros como uma raça inferior e é natural que a violência e a discriminação contra eles, seja minimamente repudiado. A reação oscila entre o silencio e o apoio.

No Rio Grande do Norte, onde a escravidão foi mais forte entre os povos originários, levando quase à completa extinção desses povos, teve no negro um elemento constituinte do processo de produção da cana-de-açúcar, basicamente no litoral, e, devido a baixa capitalização dos proprietários de terras, não teve a proliferação nas nossas terras.

Em 1870, dos 262 mil potiguares registrados no censo, 9,3% foi registrado como negros, sendo que os povos originários estavam ausentes desse censo. Em 2010, 140 anos depois, apenas 5% dos que responderam ao censo do IBGE se consideraram negros.

A questão racial, no BraZil, é questão de classe sim. Eis a questão. Tratar o racismo como um “desvio social” é, para mim, equivocado pois o racismo está intimamente ligado a um modo de produção excludente. O negro pobre é um pária. Um negro de classe média é “tolerado”. Um negro rico é “aceitado”, desde que incorpore seu lugar na elite, que é racista. Quando a riqueza deixa um negro branco e um “classe média” quase branco, é sinal de que o racismo não será combatido com sucesso num país de extrema desigualdade social.

No primeiro parágrafo dei um exemplo fictício, para ilustra o nosso racismo. A nossa hipocrisia. As duas vítimas mais recentes são as primas Emilly Victoria, de 4 anos, e Rebecca Beatriz, de 7, mortas enquanto brincavam na porta de casa, em Duque de Caxias, na sexta-feira (4). Engrossaram a macabra estatística que conta 12 crianças mortas no Rio de Janeiro.

Houve e haverá uma pequena comoção, mas em poucos dias elas serão esquecidas pela sociedade. Aqui no Rio Grande o racismo tem sua face, quer pela violência dos agentes do Estado, muitas vezes negros, quer pela sutileza de um racismo que se diz não racista, e não precisamos de grandes esforços para comprovar o que digo.

O racismo é uma chaga da nossa sociedade e caberá à essa sociedade acabar com ela.

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