O físico Ricardo Galvão, exonerado do cargo de diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) pelo presidente Jair Bolsonaro em 2019 após alertar sobre o desmatamento na Amazônia e defender os dados gerados pela instituição, foi o entrevistado do Programa Balbúrdia nesta quarta-feira (13) e alertou que o atual governo continua a ameaçar a ciência e o meio ambiente no Brasil.
“Ricardo Salles foi colocado lá claramente pra ser um ministro anti-meio ambiente. Ele não trouxe nenhuma proposta para o desenvolvimento sustentável do país, para a preservação da Amazônia. Ao contrário, ele procurou destruir o máximo possível toda regulamentação que havia”, declarou o físico, lembrando que uma das primeiras ações de Salles foi atacar o Inpe, quando disse que as informações não eram precisas.
“Os dados do Inpe eram uma pedra no sapato deles; os dados do Inpe são fortemente respeitados no mundo todo”, garantiu, ao apontar a relevância do sistema criado para monitorar o desmatamento da Amazônia, que já deu origem a mais de 1.300 artigos científicos e teses de doutoramento no mundo todo.
O cientista contou que diante dos recorrentes ataques foi ao Ministério, conversou com o secretário sobre a situação e uma semana depois foi “espinafrado” por ter tomado essa atitude sem pedir autorização ao chefe imediato, a quem se refere como “completamente ignorante” – o que o levou a denunciar o fato na imprensa internacional.
Ele estava no Inpe desde 1970 e cumpriria mandato como diretor até 2020. Com a exoneração, ele voltou a atuar na USP.
Naquele ano, Ricardo Galvão foi eleito pela revista Nature como uma das dez pessoas mais influentes para a ciência mundial em 2019. Em 2021 recebeu o prêmio internacional de Liberdade e Responsabilidade Científica da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS) justamente por sua defesa ao trabalho de monitoramento do desmatamento da Amazônia.
Para o físico, Bolsonaro sempre anunciou o negacionista que é e o desprezo à ciência. Ele cita o episódio em que o presidente disparou que Marcos Pontes é o primeiro ministro da Ciência e Tecnologia que sabe diferenciar gravidez da lei da gravidade, uma agressão a todos que o antecederam.
Quem ele estava acusando?, indagou, ao mencionar Renato Archer, José Israel Vargas, Marco Antonio Raupp e Sérgio Machado Rezende.
“Cientistas desse nível, ele despreza. Uma pessoa que pensa assim não pode ter nenhuma avaliação pela ciência”, lamenta Galvão, pesaroso também pelo corte recém-anunciado, de cerca de 90% dos investimentos em ciência: “É importante a população entender que vai ter consequências enormes para o futuro do país”.
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