Transposição do São Francisco: para converter eleitorado nordestino, Bolsonaro tenta se beneficiar de obra do PT do qual foi contra
Às vésperas das eleições de 2022, o presidente Jair Bolsonaro (PL) volta ao Nordeste para tentar converter um eleitorado que representa proporcionalmente 27% dos votos e que historicamente está alinhado ao petismo.
Dia 9 de fevereiro, o presidente vem ao Rio Grande do Norte para inaugurar um trecho da obra do Projeto de Integração do Rio São Francisco e utiliza as redes sociais para fazer comparações enganosas acerca das obras e exaltar a participação do atual governo.
Na verdade, a ideia de abrir braços do Rio São Francisco para levar água para o semiárido nordestino remonta ao século XIX, durante o governo de D. Pedro II. Mas só foi sair do papel realmente em 2007, no início do segundo governo Lula (PT).
O projeto inclui a construção de 477 km de canais e adutoras em dois eixos: o eixo Norte e o eixo Leste, levando água a cerca de 12 milhões de pessoas em 390 municípios.
Agora, embora tenha a chance de fazer fotos com a água jorrando, a verdade é que Bolsonaro pegou essa obra praticamente pronta dos governos petistas. Quando ele votou pelo golpe contra a presidenta Dilma Rousseff (PT), a obra já estava quase 90% concluída.
Proporcionalmente, o governo Bolsonaro foi o que menos contribuiu com a obra. É o que aponta os dados de relatórios oficiais do governo e está demonstrado nesta verificação do comprova.
Quando Bolsonaro foi eleito, em 2018, as obras do Rio São Francisco estavam quase 97% concluídas.
Com a alegação de que tudo o que o presidente Jair Bolsonaro faz a mídia tentar esconder, o governo na verdade tenta enganar a população sobre a participação do governo Jair Bolsonaro na execução da transposição, dando a entender que apenas por conta desta gestão o projeto, executado desde 2007, passou a caminhar para uma conclusão.
Mas nessa de coitadinho, está sendo disseminada mais uma fake news. Mais do que falar do teste de paternidade das obras de transposição do São Francisco, é preciso tratar da crise existencial do governo e da campanha antecipada de Bolsonaro para conquista do eleitorado nordestino.
Como se não bastasse não ter agenda para o país, minimizar uma doença que matou mais de 600 mil pessoas, estar envolvido em escândalos de corrupção, acusado de envolvimento com milícia, apostar na briga com governadores e prefeitos e no fechamento de instituições democráticas, Bolsonaro se volta para disputa eleitoral em 2022.
Trata-se de uma curiosa incursão do bolsonarismo para converter um eleitorado que representa proporcionalmente 27% dos votos e que historicamente está alinhado ao petismo.
Isso sem falar no palanque armado também para os ministros bolsonaristas – Rogério Marinho e Fábio Faria - que pleiteiam ser o “candidato de Bolsonaro” ao Senado, mesmo o presidente tendo quase 70% de rejeição entre os potiguares, de acordo com as últimas pesquisas de opinião.
Em 2014, Bolsonaro, à época deputado federal, classificou a obra de transposição como caos, e acusou o PT de não apresentar obras ao Brasil.
Agora, às vésperas da eleição, agradece o caos herdado, de quase 100% das obras concluídas.