Terra livre: Acampamento oferece três refeições por dia para 7 mil indígenas com alimentos produzidos pelo MST

Todos os dias, milhares de indígenas e profissionais de diversas áreas deixam suas barracas armadas sob lonas no espaço da Fundação Nacional de Cultura (Funarte) e seguem em romaria para a cozinha comunitária instalada a poucos metros, ao lado da tenda principal do Acampamento Terra Livre, maior mobilização de povos originários do Brasil que acontece até quinta-feira (14), em Brasília.

As bandeiras vermelhas do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra pregadas na parede improvisada, que separa a cozinha do espaço onde oito trabalhadores servem os alimentos, não deixa dúvidas sobre a origem dos produtos: sim, toda a comida consumida no ATL 2022 vem da agricultura familiar e tem o selo do MST.

A alimentação comunitária é fruto de uma parceria entre a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e o MST.

Marciano Rodrigues é indígena e coordenador regional da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) na região Sul. Ele conta que a Apib e o MST já firmaram outras parcerias, mas é a primeira vez que o ATL conta com um apoio tão robusto em relação à alimentação:

- Essa parceria com o MST já vem de há algum tempo, mas nunca assim, diretamente, com essa questão da alimentação. Em várias oportunidades eles nos apoiaram com doação de comida, algumas estruturas, já fizemos várias parcerias, mas deles serem responsáveis diretos pela cozinha, servindo mais de 7 mil pessoas diariamente, é a primeira vez, uma coisa muito bacana de se ver. E é uma parceria mesmo: da nossa parte, povos indígenas, estamos valorizando os alimentos que eles produzem, e eles nos ajudam alimentando o nosso povo. Com certeza essa parceria vai durar muito porque tem sido uma experiência muito bacana. A gente vê também a própria galera do MST comentando o quanto tem sido gratificando para eles participar desse momento”.

Marciano Rodrigues, coordenador regional Sul da Apib

Ao todo, 31 trabalhadores, supervisionados por três nutricionistas, estão focados na alimentação de aproximadamente sete mil indígenas, além da equipe de produção e profissionais de imprensa que cobrem o ALT.

Café da manhã, almoço e jantar foram garantidos pelos agricultores e agricultoras dos assentamentos da reforma agrária no Distrito Federal, Goiás, norte de Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

A agricultora Maria de Souza, 47, mora e trabalha no assentamento 8 de março, próximo a Planaltina, cidade-satélite de Brasília (DF). No campo, ela planta hortaliças, entre as quais se destacam alface, rúcula e cheiro verde. Maria foi convocada pela executiva do MST para ajudar a servir os indígenas do ATL e, mesmo com o cansaço já batendo no oitavo dia seguido, diz que sempre acorda feliz para recomeçar tudo de novo:

- É bom demais, porque a gente está servindo os índios, né ? É gratificante demais. O MST, ave maria, é bom demais ! É um cansaço grande, mas a gente acorda feliz de novo e vamos que vamos, até o final”.

Maria de Souza, agricultora do MST há 10 anos

Os alimentos trazem no cardápio variado a diversidade brasileira. São oferecidos mandioca, cuscuz, inhame, batata doce, banana, maçã e laranja. Mais de 400 Kg de carne também vem da produção orgânica dos pequenos agricultores.

Nesta terça-feira, o café da manhã servido ofereceu café com leite, duas bananas, pão com queijo e cuscuz com ovo.