Covid contribui para aumento de 100% na taxa de mortalidade materna no RN em 2021
Natal, RN 26 de abr 2024

Covid contribui para aumento de 100% na taxa de mortalidade materna no RN em 2021

27 de maio de 2022
9min
Covid contribui para aumento de 100% na taxa de mortalidade materna no RN em 2021

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A taxa de mortalidade materna no Rio Grande do Norte mais que dobrou neste último ano. Conforme dados registrados no Painel de Monitoramento de Mortalidade do Ministério da Saúde, houve um aumento de 103% na taxa de óbitos maternos entre 2020 e 2021. No ano de 2020 a razão de mortalidade materna foi de 72,5 por 100 mil nascidos vivos, enquanto em 2021 foi de 147,2 por 100 mil nascidos vivos - conforme a última atualização de dados. Número também superior à média nacional, que foi de 107 mortes, proporcionalmente. Segundo análise da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Rio Grande do Norte, a pandemia da Covid-19 e o contexto social devido ao isolamento contribuíram para o aumento da taxa. Em números absolutos, a quantidade de mortes passou de 1.070 em 2020, para 1.320 em 2021.

"As gestantes que contraem a doença apresentam risco de internação hospitalar aumentado, maior risco de necessitar de suporte ventilatório, maior possibilidade de admissão em UTI e maior risco de morte. Além disso, apesar das orientações para que o pré-natal seja mantido durante a pandemia, tem havido prejuízo no que diz respeito ao acesso, bem como à qualidade do serviço ofertado, contando ainda com o receio por parte da população em se expor ao risco do contágio, limitando, assim, a busca pela assistência oportuna e adequada. Outras doenças continuaram acometendo a população feminina, como hipertensão e diabetes, mas muitas mulheres deixaram de procurar atendimento médico por medo de contrair o coronavírus. As dificuldades também ocorreram devido à necessidade de internação, pela própria peculiaridade da doença, assim como por questões da demora para receber atendimento, problemas na rede regulatória e estrutura inadequada dos serviços. Uma triste realidade já existente, mas que ficou ainda mais evidente com a pandemia", alerta a médica Elvira Mafaldo, membro da secretaria executiva da Sociedade de Ginecologia do RN (Sogorn).

Apesar dos dados apontarem para uma maior taxa de mortalidade materna no RN, os números também podem ser resultado da lentidão para atualização das informações no sistema eletrônico.

"No Rio Grande do Norte as pacientes tiveram muitas complicações para continuar o pré-natal no SUS no período da pandemia. Além disso, o grande problema no estado foi relacionado à dificuldade que os profissionais intensivistas tiveram em lidar com as gestantes nas UTI’s. Muitas vezes, não houve a aplicação dos manuseios para tratamento da doença em tempo hábil - como a demora para intubação, por exemplo. E ainda a indicação de ações inadequadas, como a prescrição de cesáreas para continuidade do tratamento da Covid-19, resultando o agravamento do estado de saúde da mulher. Todas as gestantes do RN com Covid-19 em que foi realizado o parto cesáreo devido ao coronavírus, faleceram. Somado a isto, a inadequada distribuição das pacientes em unidades de tratamento intensivo em hospitais não especializados no cuidado com a mulher gestante, complicou ainda mais a atenção dada às mulheres grávidas. Contudo, este cenário foi uma realidade nacional. Então, essas diferenças nos dados também podem ser atribuídos às questões da atualização dos dados no sistema de informação da mortalidade materna quanto no registro dos nascidos vivos, porque as informações demoram a ser inseridas. Portanto, as taxas do RN não são tão diferentes das do Brasil", pondera Maria do Carmo Lopes de Melo, médica e presidente da Comissão de Luta pela Redução da Mortalidade Materna da Sogorn.

De toda forma, a informação torna ainda mais relevante a importância do dia 28 de maio, quando se celebra o Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna. A data visa destacar perante à sociedade a problemática da mortalidade materna, os óbitos de mulheres durante a gestação ou até 42 dias após o término da gravidez. Também se considera nesta categoria, a morte após um ano do parto, se houver causa relacionada com ou agravada pela gravidez, ou por medidas em relação a ela, como mortalidade materna tardia.

De acordo com o Ministério da Saúde, 92% dos casos de mortalidade materna são por causas evitáveis; dentre as principais, destacam-se a hipertensão, hemorragia, infecções puerperais e doenças do aparelho circulatório complicadas pela gravidez, pelo parto ou pelo aborto. Nestes últimos anos, mais uma causa foi somada a essa lista, o que gerou forte impacto sobre os casos: a Covid-19. Antes da pandemia, a média era de 50 por 100 mil nascidos vivos. Apesar de menor, a taxa ainda era alta se comparada ao ideal, a Organização Mundial de Saúde preconiza que a taxa deve ser inferior a 20.

A Covid-19 trouxe um agravamento na saúde materna em diversos sentidos. Primeiro pelo aumento da morbidade e mortalidade nas gestantes e puérperas acometidas pela doença, como também pelo afastamento das mulheres do consultório médico com temor em contrair a doença, e, dessa forma, descuidando de outras enfermidades, como hipertensão e diabetes. Além disto, diversas unidades básicas de saúde reduziram o atendimento devido ao isolamento social e de as unidades de terapia intensiva (UTIs) estarem superlotadas”, elenca os motivos Elvira Mafaldo, secretária executiva da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Rio Grande do Norte (Sogorn).

Com essa disparada de casos no contexto da pandemia, a especialista analisa, se tornou ainda mais difícil ao Brasil atingir a meta de redução da razão de mortalidade materna (RMM) para 30 mortes por 100 mil nascidos vivos até 2030, desafio esse assumido para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Infelizmente, o Brasil já não havia conseguido cumprir a meta prevista anteriormente de 35 óbitos por 100 mil nascidos vivos até 2015.

Para mudar esse cenário, Elvira Mafaldo elenca como necessário um planejamento reprodutivo adequado; o acesso aos métodos contraceptivos para os casais (conhecendo o mecanismo de ação, de efeitos colaterais, reversibilidade); o direito a consulta pré-concepcional; o acesso às vacinas e exames necessários para uma saúde adequada antes de engravidar; um pré-natal de qualidade e resultados de exames em tempo hábil, além da certeza de ter uma maternidade de referência onde a gestante possa ser atendida não só no parto, mas também caso haja alguma intercorrência durante a gravidez. “Somente assim, poderemos proporcionar à mulher uma melhor qualidade de saúde durante a sua vida reprodutiva e enfim alcançar a meta estabelecida ao País”, pontua.

"É de suma importância que as mulheres entendam a necessidade de início precoce do pré-natal, de realizar as consultas médicas regularmente e os exames em momento apropriado, bem como tomar as vacinas recomendadas para o período gestacional, inclusive a vacina para COVID-19. Também é preciso uma rede de profissionais capacitados para receber esta mulher, para que as orientem adequadamente sobre os sinais de alerta e sobre a importância de buscar um serviço de emergência na presença de determinados sintomas, assim como sobre a necessidade de usar um método contraceptivo seguro no puerpério", reforça a secretária executiva da Sogorn.

Para os próximos anos, a meta brasileira é reduzir para 30 o número de mortes de gestantes para cada 100 mil nascidos vivos até 2030.

"Considerando que a média de nosso índice no Brasil era de 50 mortes por 100 mil nascidos vivos e hoje já calculamos mais de 100, estamos ainda mais distantes da meta. Mas, para alcançar este objetivo é preciso um esforço conjunto dos gestores dos órgãos de saúde, profissionais e pacientes. Os órgãos de saúde fornecendo condições e estrutura adequada para os cuidados com a saúde da mulher. Os profissionais, capacitados, dando todo suporte e orientações a estas mulheres. As pacientes buscando o serviço de saúde assim que descoberta a gravidez, para um acompanhamento adequado.

Como ações deste esforço, é preciso um planejamento reprodutivo adequado; o acesso aos métodos contraceptivos para os casais (conhecendo o mecanismo de ação, de efeitos colaterais, reversibilidade); o direito a consulta pré-concepcional; o acesso às vacinas e exames necessários para uma saúde adequada antes de engravidar; um pré-natal de qualidade e resultados de exames em tempo hábil, além da certeza de ter uma maternidade de referência onde a gestante possa ser atendida não só no parto, mas também caso haja alguma intercorrência durante a gravidez", avalia a presidente da Comissão de Luta pela Redução da Mortalidade Materna da Sogorn.

Dados:

Mortalidade materna no Brasil e RN

A taxa de mortalidade materna aceitável para a Organização Mundial de Saúde é de 20 mortes a cada 100 mil nascimentos

Meta brasileira é de redução para 30 mortes por 100 mil nascidos vivos até 2030

Painel de Monitoramento da Mortalidade Materna do Ministério da Saúde (dados de abril de 2022)

Brasil

2019 - 57 mortes a cada 100 mil nascimentos

2020 - 67 mortes a cada 100 mil nascimentos

2021 - 107 mortes a cada 100 mil nascimentos

Rio Grande do Norte

2019 - 70,4 mortes a cada 100 mil nascimentos

2020 - 72,5 mortes a cada 100 mil nascimentos

2021 - 147,2 mortes a cada 100 mil nascimentos

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