Incorporada como matéria obrigatória ao programa pedagógico do curso de Comunicação Social da UFRN em 2022, a disciplina “Jornalismo em transição”, ministrada pela professora Socorro Veloso, debateu experiências distintas da mídia digital nesta quarta-feira (8). O bate-papo contou com a participação dos jornalistas Rafael Duarte, editor-geral da agência SAIBA MAIS, e Alice Andrade, que se debruça há alguns anos sobre a pesquisa de mídias negras.
Duarte lembrou que, como ex-estudante e jornalista formado pela UFRN, o fato de estar hoje na condição de diretor de um veículo de comunicação mostra que o surgimento de novas iniciativas no jornalismo digital, a partir da universidade, é perfeitamente possível:
– Eu nunca imaginei fundar um veículo ou coordenar uma redação com uma equipe de seis jornalistas. Se hoje estou cumprindo esse papel e ocupando esse lugar qualquer um de vocês pode estar também num futuro próximo”, disse.
O jornalista contou que a agência SAIBA MAIS completa 5 anos em 2022. Ele contextualizou o atual momento do jornalismo a partir do boom de veículos que ganharam força com as jornadas de junho de 2013 e falou sobre os processos de criação e produção do conteúdo produzido pelo veículo potiguar que conta ainda na equipe com outras cinco mulheres, a editora Cledivânia Pereira, as repórteres Jana Sá, Mirella Lopes, Isabela Santos, além da jornalista responsável pela distribuição de conteúdo Ulyana Lima.

Questionamentos sobre como participar de editais, os tipos de financiamento disponíveis e que cobrem os custos da agência, além de como manter a independência recebendo publicidade estatal foram temas abordados pelos estudantes.
– Em uma conversa com uma amiga jornalista de São Paulo em 2018, ela me convenceu lembrando que o direito à informação está previsto na Constituição e que a verba publicitária é pública. Se os veículos independentes não disputarem esses recursos, só mídias alinhadas idelogicamente à direita vão receber. Na França, há um fundo público para financiar veículos a partir de critérios pré-definidos, entre os quais a diversidade. O importante é ser honesto e transparente. Nós temos posição e lado, e mantemos a independência”, disse.
Mídias negras
Doutoranda em Estudos da Mídia pela UFRN, a jornalista Alice Andrade defendeu o conceito de “Aquilombamento virtual midiático”, uma proposta teórico-mercadológica para o estudo das mídias negras,
Através de um passeio pela história, ela lembrou que veículos com um recorte antirracista são “filhos” de mídias abolicionistas, criados por homens brancos progressistas, e veículos antiracistas surgidos ainda no século XIX a partir da revolta negros ex-escravizados recém-libertos, a exemplo “O Homem de Cor”, símbolo antiracista e principal inspiração para os atuais veículos digitais que abordam a pauta do racismo estrutural, como Alma Preta, Notícias Pretas, Geledés, entre outros.
– Essas mídias negras fortalecem a luta antirracista, tendo a comunicação em rede como ferramenta para enfrentar opressões”, destacou.