Mulheres de Currais Novos se articulam em fórum para discutir feminismo no Agosto Lilás
Natal, RN 14 de mai 2024

Mulheres de Currais Novos se articulam em fórum para discutir feminismo no Agosto Lilás

5 de agosto de 2022
6min
Mulheres de Currais Novos se articulam em fórum para discutir feminismo no Agosto Lilás

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No mês marcado pela conscientização pelo fim da violência de gênero, as mulheres de Currais Novos lançam neste mês o Fórum de Mulheres Curraisnovenses. A iniciativa está inserida dentro do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (COMDIM) da cidade. Um dos objetivos é ampliar e fortalecer as políticas públicas para as mulheres do município, e terá uma programação variada no Agosto Lilás.

Presidenta do COMDIM, Rayssa Aline foi uma das articuladoras do evento e diz que o Fórum surge para unificar e fortalecer o debate em torno das políticas públicas. A iniciativa terá um calendário unificado, especialmente nos meses de março e agosto, datas simbólicas para as mulheres. “A ideia é que a gente consiga criar a partir dessa organização o Plano Municipal dos Direitos das Mulheres do município”, afirma.

De acordo com a pedagoga Bárbara Mychayany, o Fórum surge com a proposta de ser permanente, “de agosto a agosto, com discussões permanentes sobre como transformar toda a nossa luta em realidade e em políticas públicas que funcionem”, afirma. Este ano marca ainda os 16 anos da instituição da Lei Maria da Penha, criada em 2006. Mas, para Bárbara, é preciso mais. “A Lei foi um avanço que nos trouxe um pouco mais de segurança, mas ainda temos muita pra ganhar e muitas vitórias a conquistar”. 

Para Bárbara, que também é educadora popular, “é importante que se desmistifique a ideia de que em briga de marido e mulher não se mete a colher”, alerta. “É preciso reeducar a sociedade, desconstruir essa organização social baseada nesse sistema patriarcal, machista, onde o homem é o centro dessa estrutura e ele determina todas as regras, faz o que quer e poucas vezes é punido”, afirma.

Em 2021, o Brasil registrou um estupro a cada 10 minutos e um feminicídio a cada 7 horas, segundo levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Segundo Bárbara, os dados merecem atenção. “O número de mulheres que morrem todos os dias é chocante e extremamente revoltante. O número de mães que ficam sem suas filhas, o número de mulheres que deixam seus filhos órfãos, então é importante debater desde dentro de casa, no seio familiar, a todos os espaço que nós ocupamos: escola, trabalho, movimentos sociais, partidos políticos”, ressalta.

De acordo com ela, as políticas públicas devem “oferecer uma segurança para sair desse lugar de vulnerabilidade, que é a mulher que sofre violência doméstica e permanece até os dias atuais”. 

“Os homens, em sua maioria, não nos querem nos espaços públicos”

Além da militância feminista, Mychayany atua como coordenadora do Cursinho Popular Carolina Maria de Jesus, que funciona em uma escola pública de Currais Novos. O projeto terá uma mesa dentro da programação do Fórum, intitulada “As múltiplas faces da violência contra a mulher”. 

“Estaremos discutindo onde essa violência respinga, onde ela afeta, então dentro dessa perspectiva nós vamos abordar a perspectiva sociocultural, histórica e jurídica. Eu tenho certeza que vai ser um debate muito importante, muito significante e que só contribuirá para a luta e para que nós consigamos a cada dia erradicar e acabar com a violência contra as mulheres”, destaca.

A pedagoga ainda encoraja outras mulheres a ocupar espaços em que não têm maior alcance. “É preciso que as mulheres entendam que os homens, em sua maioria, não nos querem nos espaços públicos. Querem apenas que a gente seja estatística, que a gente seja só a cota, que é de complemento das candidaturas, e nós precisamos ocupar as câmaras, as prefeituras”, pontua. “Precisamos ir para as câmaras não só locais, mas estaduais, federais e à presidência. Em todos os cargos que forem possíveis nós podemos e devemos ocupar porque quem pode falar por nós somos nós”.

Protesto reprimido pela PM deu forças, diz feminista e educadora popular

Em 29 de maio de 2021, data marcada por protestos contra o Governo Bolsonaro no Brasil inteiro, um grupo de mulheres de Currais Novos decidiu fazer uma manifestação simbólica pregando cartazes em uma praça no centro da cidade. Criticando a fome, o atraso na compra das vacinas e exigindo o impeachment do presidente, elas sofreram repressão do vereador Marquinhos Xavier (DEM) e, em seguida, da Polícia Militar. Bárbara e Rayssa estavam lá.

“Nós sofremos um xingamento social dentro da nossa comunidade, que passeou por todo todos os lugares da cidade”, lembra Bárbara. “Veio uma enxurrada dessas pessoas que querem que nos silenciemos, que a gente fique de cabeça baixa, obedecendo, que não lute pelos nossos direitos, que não sejamos expressivas na cidade”. Apesar de triste, a professora diz que o episódio a fez ver que estava no caminho certo.

De acordo com Rayssa Aline, a diferença de Currais Novos para outras cidades, sendo principalmente uma cidade de menor porte, é a auto-organização das mulheres e a constância do movimento. Segundo ela, mesmo as tentativas de silenciamento não calam as mulheres. “Ao contrário, o movimento enfrenta essas turbulências, os preconceitos, os retrocessos, e sempre dá uma forma de ressurgir e continuar”.

“Nós viramos referência”, ressalta Mychayany. “Eu digo ‘nós’ porque eu não estava sozinha, eu não faria sozinha. Eu estava ali como uma militante social e educadora popular. Porém chamamos atenção para outras mulheres e na pós-repressão vieram apoiadores, pessoas que não conheciam nossa militância, que não conheciam onde estávamos inseridas”, recorda. “Então eu trago essa experiência como positiva, apesar de traumática, apesar de ter sido pesada, mas acredito que nos encorajou e vai nos encorajar a cada dia que o sentimento de desistência por ventura vier aparecer”. 

Principais ações do mês

Segundo a presidenta do COMDIM, Rayssa Aline, as principais ações do Fórum de Mulheres, neste mês, serão nos dias 29 e 31 de agosto. “Dia 29 será o Fórum de discussão das mulheres, em que a gente estará trazendo Érica Canuto, promotora referência no Estado para fomentar uma discussão, junto com o juiz Dr. Marcos Vinícius”, avisa. O encontro ainda terá grupos de trabalho para elencar, entre algumas temáticas, os desafios e propostas para o próximo semestre.

Já no dia 31, a cidade recebe a I Mostra de Serviços de Proteção às Mulheres de Currais Novos. O intuito, segundo Aline, é levar o conhecimento à população. “Quais as instituições que nós temos em nosso município, como elas atuam, e como elas podem acolher a mulher vítima de violência”, exemplifica. 

Confira a programação completa:

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