Estudo avalia impactos e as estratégias das Organizações da Sociedade Civil para manter o trabalho na pandemia
Natal, RN 26 de abr 2024

Estudo avalia impactos e as estratégias das Organizações da Sociedade Civil para manter o trabalho na pandemia

4 de dezembro de 2022
5min
Estudo avalia impactos e as estratégias das Organizações da Sociedade Civil para manter o trabalho na pandemia

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Com atuação em causas de interesse público e promoção dos direitos humanos, a rotina das Organizações da Sociedade Civil (OSC) sofreu alterações com a pandemia de Covid-19. Entre 2020 e 2022, manter o trabalho com as comunidades diante do inimaginável e com históricos de defasagem econômica não foi fácil.

Diante desse cenário, os pesquisadores Domingos Armani e Moema Hofstaetter desenvolveram um estudo sobre os impactos e aprendizados coletivos de cerca de 40 OSCs, parceiras de Pão Para o Mundo (PPM) no Brasil, durante a pandemia da Covid-19. Para eles, “talvez um dos principais aprendizados do período foi o de que a ajuda humanitária deve se tornar um componente regular no portfólio de muitas OSCs”.

Em entrevista à Agência Saiba Mais, os pesquisadores avaliam que “a governança institucional foi desafiada a ser mais significativa, transparente e rápida para dar conta da urgência e seriedade das decisões e das medidas necessárias”.

Confira a entrevista.

Quais os impactos mais significativos da pandemia no trabalho das OSCs?

O maior impacto na dinâmica das OSCs foi a mudança forçada do modo presencial para o virtual, tendo efeitos negativos tanto na organicidade das equipes quanto na dinâmica de relação e de trabalho com as comunidades.

O contexto adverso também jogou luz sobre as fragilidades do desenvolvimento institucional de muitas OSCs, o que foi agravado pela sobrecarga de trabalho, pelo sofrimento individual e coletivo e pelo adoecimento.

Quais foram os aprendizados e inovações desta experiência tão desafiadora?

Descobriu-se que é possível realizar o trabalho social e viver a dinâmica institucional de forma híbrida, alternando momentos e atividades presenciais e virtuais.

Se aprendeu a usar novas metodologias e instrumentos baseados em novas tecnologias, inclusive para o campo da formação, da gestão e da execução de projetos.

Portanto, o arcabouço metodológico das OSCs teve de se adaptar para funcionar remotamente, seja para as equipes que atuam com formação, seja para as equipes que fazem atendimento direto. Os encontros virtuais se impuseram como metodologia.

Um aprendizado importante a partir da dolorosa experiência da pandemia foi a valorização do cuidado individual e coletivo como dimensão importante do desenvolvimento institucional das OSCs.

Mas talvez um dos principais aprendizados do período foi o de que a ajuda humanitária deve se tornar um componente regular no portfólio de muitas OSCs. Com as mudanças climáticas, fenômenos naturais e crises sanitárias e humanitárias recorrentes, vive-se em uma época na qual tornou-se importante que as OSCs estejam preparadas para o desenvolvimento de ações emergenciais e humanitárias, enquanto defesa de direitos.

Quais novas possibilidades essas organizações visualizam sobre sua evolução institucional futura?

A maior inovação e evolução institucional foi, provavelmente, a adoção de novos padrões internos e de gestão, desafiando as democracias internas e gerando abertura para coisas novas e para novíssimas formas de participação e transparência. Novos acordos, procedimentos e vínculos de confiança tiveram que ser construídos, desafiando os padrões da cultura institucional estabelecida, que por vezes não são tão horizontais e transparentes.

A governança institucional foi desafiada a ser mais significativa, transparente e rápida para dar conta da urgência e seriedade das decisões e das medidas necessárias.

Igualmente é certo que as emergências de todo tipo não vão desaparecer, pelo contrário, e seguirão afetando os mais pobres. As OSCs devem se qualificar para desenvolver iniciativas de ajuda humanitária como defesa de direitos.

Para tal, a articulação e atuação em redes é chave para novas respostas aos desafios de contexto: a ação política articulada em rede e o compromisso com o fortalecimento do campo das organizações de defesa de direitos e de direitos humanos.

Por fim, uma possibilidade futura é centrar peso na comunicação institucional que se revelou como o principal instrumento de ação social no período: sensibilização, articulação, formação e incidência política.

Que expectativas elas nutrem em relação à sua relação com PPM no que tange ao fortalecimento da capacidade de lidar com situações adversas e imprevistas?

Ampliação de acesso a recursos flexíveis por parte das OSCs uma vez que isto lhes proporciona mais estabilidade, previsibilidade, capacidades e força institucional, potencializando seu protagonismo e sua contribuição à sociedade, evidenciando a importância do apoio direto e indireto ao desenvolvimento institucional das OSCs como condição para seu maior protagonismo e efetividade.

Apoiar as OSCs na qualificação das ações humanitárias, de forma regular, como defesa de direitos e ação emancipatória com as populações mais vulnerabilizadas.

Apoio e fortalecimento das atuações em redes como modo de fazer frente a contextos complexos e favorecer a mobilização de recursos.

Investir em estudos, produção e sistematização de conhecimentos sobre os novos desafios do trabalho social e do desenvolvimento institucional no campo das OSCs.

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