Auto-organização das periferias é necessária para continuar falando de democracia, defende historiador
O Balbúrdia desta quarta-feira (21) debateu o poder e as práticas sociais da periferia em Natal e no Brasil. Para o convidado, o doutor em História Jandson Bernardo Soares, observar a necessidade da auto-organização nestes espaços é importante para continuar falando sobre democracia.
“Falar sobre as nossas necessidades de criação de espaços de audiência é altamente necessário também para a gente valorizar essa democracia que a gente tem”, defendeu.
Segundo ele, as periferias têm sim a presença da democracia institucional, inclusive porque se pode falar sobre questões ligadas à violência policial, criminalização das drogas e da liberdade educacional.
“Quando a gente fala desse problema, a gente tem que tomar cuidado para não confundir a maneira como as instituições e o racismo estrutural e a criminalização da pobreza se manifestam nas periferias, e aquilo que a gente tem como democracia no sentido das instituições”, explicou.
Para o doutor, não se pode falar que a democracia não existe na comunidade.
“Agora, a maneira como o Estado e as instituições se manifestam é uma outra coisa. A gente tem que pensar nesses níveis de violência que a gente sofre e que são direcionadas para esses espaços do medo que são construídos e que são hegemonicamente repetidos em espaços diferentes”, disse.
“Se eu digo que a democracia não existe, eu também começo a dizer que ela não importa muito porque eu consigo viver do mesmo jeito sem ela. E isso é uma falácia. Isso é uma mentira, porque o contrário da democracia é ditadura”, apontou.
Ainda na conversa, Soares falou sobre as periferias a partir da ótica social e não apenas geográfica. Crescido no loteamento José Sarney e posteriormente morador da Nordelândia, na zona Norte de Natal, ele comentou sobre as inquietações ao chamar alguém para sua casa, em que recebia a justificativa de que seria contramão quando, ao ter que ir para a zona Sul, não era considerado contramão da mesma forma.
Jandson também comentou sobre o transporte público que se insere, segundo ele, em práticas de microviolência.
“A primeira coisa é que o transporte público não passa por uma discussão do debate de quem usa. E com essas novas lógicas de organização em que as empresas basicamente dizem se é ou não lucrativo, isso acaba inviabilizando também a própria trajetória das pessoas na cidade, que obrigam a gente a normalmente atravessar a ponte”, afirmou.
De acordo com Soares, os próprios moradores da periferia devem pensar em estratégias para permitir a mudança de visões sobre as comunidades, e não esperar apenas o poder público agir.
“As periferias também podem criar exemplos ou dinâmicas positivas e propositivas de imagens, seja denunciando esses regimes de estereotipação, ou também demonstrando publicamente o que é que a periferia tem construído”, defendeu.
Assista a entrevista completa: