Cidade Alta: entre novos projetos de restauração e velhos problemas
Natal, RN 18 de mai 2024

Cidade Alta: entre novos projetos de restauração e velhos problemas

5 de maio de 2024
8min
Cidade Alta: entre novos projetos de restauração e velhos problemas

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Pode a cultura reerguer um bairro em queda vertiginosa de seu tradicional comércio de rua? Em 2019 assistimos um Beco da Lama todo grafitado dar sangue novo à região. A iniciativa da prefeitura, em parceria com artistas e apoiadores, ganhou a atenção das TVs, despertou a curiosidade da população e atraiu gente que pouco ou nunca pisava por aquelas bandas. Logo o Beco e adjacências ganharam novos estabelecimentos, reafirmando o perfil boêmio, artístico, cultural do lugar.

Naquele ano, artistas alertaram para a necessidade de um calendário de ações culturais no bairro para não perder o bonde de toda aquela efervescência. A prefeitura então lançou um edital vocacionado para a região. O resultado foi um ano repleto de atividades na Cidade Alta, o que ajudou a manter a frequência de um público renovado e a instigar os novos estabelecimentos a pensarem seus próprios eventos.

Porém, uma coisa chamava atenção. Muitos dos equipamentos culturais oficiais da Cidade Alta - por sinal, bairro mais bem servido nesse quesito de toda Natal - estavam, senão fechados, aquém de suas funções. E, trazendo para os dias de hoje, numa caminhada pela região, a percepção é a mesma.

O Museu Café Filho, onde o poema-processo foi lançado em 1967, está fechado. O IFRN Cidade Alta, no antigo Liceu Industrial, prédio centenário, está escanteado pela instituição desde a descida para as Rocas. Memorial Câmara Cascudo, aberto, porém com uma exposição permanente desinteressante. Galeria Newton Navarro, da Fundação Capitania das Artes, com programação irregular. Solar João Galvão, prédio de arquitetura elegante, poderia ser aproveitado para além da função de armazenamento do acervo documental da Fundação José Augusto.

Museu Café Filho, famoso Sobradinho, está fechado devido à imbróglio jurídico.

Que bom seria se esses equipamentos estivessem todos em pleno funcionamento, com programações instigantes. Poderia não resolver o problema do comércio, mas garantiria mais movimento para a Cidade Alta, servindo de espaços de lazer e cultura para os natalenses e turistas.

Mas há boas perspectivas. Prédios que antes estavam desocupados, deteriorando-se, vão ganhar - alguns já estão ganhando - restauração. É o caso da antiga agência do Banco do Nordeste, na praça João Maria, e da antiga sede da OAB, na subida da av. Câmara Cascudo. No entanto, a antiga Casa do Estudante, na praça Cel. Lins Caldas, segue prejudicada, praticamente esquecida.

Procurada, a Fundação José Augusto (FJA), por meio do Coordenador de Museus, Hárryson Magalhães, explicou que o fechamento do Museu Café Filho é em decorrência de um imbróglio jurídico com a empresa responsável pelas obras de restauro e requalificação do prédio, que não entregou tudo que deveria. A movelaria comprada, também não foi entregue inteiramente, só 30%. A FJA está tentando junto ao Ministério Público uma possibilidade de reabertura. Enquanto isso, a catalogação do acervo do ex-presidente Café Filho - biblioteca e coleção com mais de 10 mil fotos - que estava parada por falta de pagamento dos bolsistas, foi retomada.

Quanto ao Memorial Câmara Cascudo, não há projeto expográfico novo previsto para o espaço, que segue com exibição do pouco que sobrou do acervo de Câmara Cascudo quando este esteve sob a salvaguarda do Memorial, antes de ir para o Instituto Câmara Cascudo. O Memorial abre de segunda a sexta, das 8h às 14h, e o destaque é a biblioteca particular que existe no local.

Mas a FJA anuncia novidades. É a reabertura do Museu de Arte Sacra, anexo à Igreja do Galo. O espaço passou por reformas e a previsão de reabertura é até o meio do ano, sob a coordenação do Padre Murilo.

Quanto à antiga Casa do Estudante, a governadora Fátima chegou a anunciar em 2019 que passaria por reformas para abrigar a Secretaria de Mulheres, Juventude, Igualdade Racial e Direitos Humanos (SEMJIDH). O prédio também passaria a se chamar Casa Emanuel Bezerra, em homenagem ao estudante que havia sido presidente da casa e foi morto após ser torturado brutalmente nos porões da ditadura, em 1973. Procurada, a SEMJIDH não respondeu até o fechamento desta matéria sobre os motivos do planejamento para o espaço não ter ido para frente.

Quem também não respondeu até o fechamento desta matéria foi a Fundação Capitania das Artes, sobre o calendário de exposições da Galeria Newton Navarro.

Solar Tavares de Lyra, na av. Câmara Cascudo, vai abrigar Memorial da Assembleia Legislativa.

Quanto às novidades, a Assembleia Legislativa (AL) está em fase final das obras do Solar Tavares de Lyra, na av. Câmara Cascudo. O projeto de restauração é do arquiteto Haroldo Maranhão. O prédio, centenário, após as obras, vai abrigar o Memorial da Assembleia Legislativa e Cultura Popular, com previsão de inauguração até o final do ano.

Saiba+: Novidade na Cidade Alta: por dentro do Solar Tavares de Lyra

A assessoria da AL, entretanto, informa que outros três imóveis foram adquirido nas imediações do Solar Tavares de Lyra para também serem restaurados, compondo o Complexo Legislativo, onde vai funcionar a Assistência Jurídica, Escola da Assembleia, a Divisão de Saúde e Bem-Estar, praças de convivência, estacionamento com 60 vagas e um auditório com 220 lugares. O espaço terá acesso pelas Av Câmara Cascudo e Av do Contorno. Porém o projeto maior será iniciado somente em 2025.

A AL também adquiriu outro prédio importante na Cidade Alta, integrando o planejamento estratégico de valorização do corredor histórico de Natal. O imóvel é a antiga sede do Banco do Nordeste. Segundo a arquiteta Andrea Melo, da AL, o prédio, originário dos anos 70, de estilo brutalista, vai passar por retrofit - quando as principais características originais do prédio são preservadas no processo de requalificação. As obras vão começar no dia 6 de maio. No local vai funcionar a TV Assembleia, Rádio Assembleia e a diretoria de Gestão Tecnológica.

Restauração da OAB-RN avança. Projeto original é de abrigar o Memorial da Advocacia e um coworking.

Antiga Sede da OAB-RN, na subida da Av. Câmara Cascudo, é outro prédio centenário que está passando por restauração. A arquiteta responsável é Ilanna Paula Revorêdo, que informou que o projeto adota os princípios de mínima intervenção e retrabalhabilidade. As obras estão na segunda etapa, com restauração das esquadrias e revisão da parte estrutural dos pilares contemporâneos e alvenarias internas. Segundo o projeto original, o local vai abrigar o Memorial da Advocacia e um coworking.

Espaços abertos e com programação

Dos museus e galerias que se mantém abertos com programação, destacam-se a Pinacoteca Potiguar, com exposições coletivas e individuais. Atualmente, em cartaz, destaque para “Memórias do Mar”, de João Oliveira, e “Corpocidade”, de Fernando Gurgel. O funcionamento é de terça a domingo, das 8h às 16h. Com entrada gratuita.

O Instituto Câmara Cascudo, na antiga casa do mestre, na subida da av. Câmara Cascudo, é uma entidade privada mantida pela família do intelectual. É parada obrigatória de quem visita o Centro Histórico de Natal e deseja absorver um pouco de conhecimento sobre Cascudo e sua monumental obra, em um passeio íntimo por seus aposentos e peças do acervo preservado. Funcionamento de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h, com ingresso no valor de R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

Outra instituição notável é o Instituto Histórico e Geográfico do RN, associação com 122 anos de contribuição à cultura potiguar e que segue firme e forte. Em sua sede, conhecida como casa da memória, ao lado da Igreja Matriz de Natal, há exposições de peças históricas do acervo, venda de livros, visitas guiadas e programação de palestras e lançamentos de livros no auditório. Funcionamento de segunda à sábado, das 08h às 12h, com entrada gratuita.

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