Futebol Feminino: a história de superação da ex-jogadora e narradora esportiva Lange Brito
Natal, RN 16 de mai 2024

Futebol Feminino: a história de superação da ex-jogadora e narradora esportiva Lange Brito

6 de agosto de 2023
5min
Futebol Feminino: a história de superação da ex-jogadora e narradora esportiva Lange Brito

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Em 1979, o Brasil, mundialmente conhecido como o país do futebol, já era tricampeão mundial entre os homens. As mulheres, no entanto, ainda eram proibidas de participar da modalidade. Da conquista dos campos até os dias de hoje, são muitas as barreiras enfrentadas pelo futebol feminino. As diferenças são visíveis, mas ainda mais gigantes são as mulheres que têm lutado por avanços, construído histórias de superação e conquistado mudanças significativas.

A Agência de Notícias Saiba Mais conta a história da potiguar Marcelange Tomaz de Brito, que enfrentou o machismo, a falta de prestígio, condições precárias, mas não desistiu de, assim como a Rainha Marta —seis vezes melhor jogadora do mundo e maior artilheira em copas do mundo —, escrever seu nome no mundo da bola.

Nascida na capital potiguar, Marcelange iniciou sua carreira no futsal, superando a falta de oportunidades para meninas e a resistência até mesmo de pessoas próximas, que acreditavam que futebol era exclusivo para meninos.

"Tive que desconstruir esse pensamento preconceituoso".

Foi na Escola Estadual Augusto Severo, onde estudou, que Marcelange ingressou num time de futsal feminino. A experiência pioneira a levou a muitas outras. Com muita habilidade nos pés e personalidade marcante, ela defendeu o Neca Fotografia, o AABB Academia Movimento, o Time do Morro Branco, o IFRN e o ABC.

"Isso ocorreu quando eu tinha mais de 20 anos de idade, porque antes não tinham meninas suficientes para jogar".

Na época em que muitas meninas não tinham permissão dos pais para praticar esportes, Marcelange, carinhosamente chamada de Lange, precisou vencer o medo e a descrença da própria mãe, Socorro Paz de Brito, que se preocupava com os seus estudos e, principalmente, com a possibilidade da filha sofrer xingamentos e lesões.

"Os pais não deixavam as jovens praticarem esporte, então nós jogávamos com os meninos".

Um cuidado e proteção que, em pouco tempo, se transformou num apoio incondicional à escolha feita por Lange pelo futebol.

"Hoje, a família toda torce por mim".

Num cenário esportivo ainda permeado por preconceitos e tabus em relação às mulheres, Lange vivenciou situações difíceis, como a exclusão de meninas da quadra em detrimento dos meninos e a constante observação e julgamento de gênero.

"Os meninos não deixavam a gente jogar na quadra, porque eles eram prioridade. Tínhamos que jogar na areia".

O cerceamento às mulheres era reflexo de uma proibição que perdurou por 40 anos no Brasil. A seleção feminina chegou à Copa de 2023, com conquistas como a equiparação de diárias pagas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), porque muitas mulheres, como a potiguar Lange, imaginaram e lutaram para que fosse possível.

"Somos julgadas, questionadas e observadas diariamente. Antes eu ficava muito mal, mas hoje busco o respeito através do diálogo e com paciência".

Foto: cedida

Hoje, como narradora e comentarista esportiva, Lange enfrenta desafios similares, como questionamentos e falta de confiança, especialmente dos homens.

"Mas provei que entendo tão bem quanto eles".

Sua estreia no ramo de comentarista e narradora de partidas de futebol aconteceu na Copa do Mundo Feminina de 2015, entre amigas e amigos.

"Mas o momento mais marcante foi na Copa do Mundo Feminina de 2019, na Cervejaria Resistência, com arte, música, cultura e muita animação, junto com uma turma boa e acolhedora".

Consciente do papel da mídia na desconstrução de estereótipos e na promoção da visibilidade do futebol feminino, Lange avalia ser necessário que se torne uma prática rotineira na conscientização da sociedade. E, embora considere que o preconceito em torno da prática do futebol pelas mulheres esteja diminuindo gradualmente, Lange alerta que ainda há muito a ser conquistado no cenário esportivo para alcançar a igualdade de oportunidades.

"É fundamental investir em categorias de base, proporcionar estrutura e condições igualitárias para que meninas possam seguir seus sonhos no esporte".

A ex-jogadora e narradora também destacou a importância de políticas públicas de inclusão no esporte feminino, buscando o compromisso dos poderes legislativo e executivo para apoiar e valorizar as mulheres no esporte.

"Para promover a igualdade de oportunidades para as mulheres no esporte, é essencial investir nas categorias de base, oferecer uma boa estrutura e condições igualitárias, além de promover políticas de direitos no esporte".

Ela utiliza sua posição para incentivar outras mulheres a seguirem carreira no esporte e trabalha para promover a visibilidade e o respeito às atletas. Como conselho para jovens atletas, Lange ressalta a importância de nunca desistir.

 "Acreditar em suas capacidades, estudar e buscar conhecimento, além de encontrar alegria no esporte".

Para promover a igualdade de oportunidades e valorizar as mulheres no esporte, Lange enfatiza a necessidade de mudança de comportamento, acabando com o desrespeito estruturante. Além disso, ela defende a implementação de melhores infraestruturas, igualdade salarial, bolsas atleta estaduais e espaços humanizados para acolher atletas mães.

Com determinação, garra, resistência e luta, a potiguar Lange, ao lado de outros grandes nomes, como Marta, Cristiane, Formiga e Sissi, se desfizeram de estereótipos e mostraram que o futebol é uma modalidade para todas as pessoas, independentemente do gênero. A torcida agora é para o crescimento da modalidade.

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