Estudantes fecham BR-101 e denunciam “roubo” no aumento da passagem

Um protesto de estudantes fechou a BR-101 no início desta sexta-feira (17) em Natal, na altura do Via Direta, contra o aumento das passagens do transporte público. Nesta semana, a tarifa passou de R$ 3,90 no cartão (e R$ 4,00 em espécie) para R$ 4,50.

A ação contou com uma queima de pneus e foi finalizada às 8h30, quando as pistas foram totalmente liberadas.

Participaram do ato entidades estudantis, movimentos sociais e partidos políticos. Bianca Soares, da direção do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), criticou o preço que é pago hoje pela população natalense nos ônibus. 

“Pagar R$ 9 pra poder sair de casa e ir pro centro da cidade é um absurdo. Isso é negar o direito do nosso povo de ir e vir. A gente está fechando a avenida e vamos seguir exigindo que a passagem seja baixada e o passe livre [seja instituído] para os estudantes”, criticou.

Entre a população, o protesto ganhou apoio. Edilene Rocha, 60, estava numa parada próxima e disse que o aumento é abusivo. Para ela, a ação da Prefeitura é "desproporcional".

"Eu preciso passar horas na parada, os ônibus não param porque estão lotados e quando a gente pega ainda é cheio. Não tem conforto nos ônibus, é totalmente desproporcional para a população", lamentou.

Segundo a idosa, mesmo esperando para tentar buscar um veículo mais vago, ela não consegue vir sentada.

"Os empresários só pensam no bolso deles. Na população, não."

De acordo com Rocha, o novo custo com as passagens não a afeta tanto. Entretanto, ela se solidarizou com o restante da população, incluindo seus dois filhos que são dependentes do transporte público.

"Eu não tenho que pensar só em mim. Eu penso neles também. Muitos estudantes já vêm no limite, aí eles vão e botam um aumento absurdo desse, desproporcional, e não fazem melhorias, só querem ganhar", criticou.

Já uma aluna de Nutrição da UFRN, identificada como Yasmim, relatou sobre os ônibus sucateados e lotados.

"Eu já presenciei só esse mês umas duas pessoas passando mal pela superlotação dentro do ônibus, um senhor e outra moça. É um absurdo a gente no trânsito, tudo lotado. Não tem nem onde pôr o pé. Se a gente levantar um pé, já não tem como colocar mais no lugar, então é um absurdo esse aumento. Não houve nenhuma melhora nos ônibus, nada para que tivesse esse aumento", disse.

Diretora da União Estadual dos Estudantes (UEE-RN), Letícia Corrêa, exigiu a redução imediata do preço da passagem e o passe livre estudantil. 

“Se Álvaro Dias acha que pode atentar contra os nossos direitos, nós temos um recado pra dar: quem manda em Natal não é o lucro do patrão, é o povo organizado”, afirmou.

Tensão

Uma moto ainda tentou furar o bloqueio e passou por cima do pé de uma manifestante do PSOL. A estudante de Direito, que preferiu não ser identificada, disse que já vem pautando o transporte público na universidade desde que as aulas na UFRN retornaram após a pandemia, mas sem a volta dos ônibus que circulavam dentro do campus.

"Não é só aqui protestando que a gente se expõe e se põe em situação de perigo, mas também todos os dias quando a gente pega um circular completamente lotado. São muitos acidentes que tem na hora de subir num circular lotado às 10 horas da noite, porque os alunos querem sair do campus e não tem um transporte de qualidade", relatou.

De acordo com Camila Barbosa, que integra a sigla, o fato aconteceu logo no início do fechamento das vias, quando os estudantes iniciavam a formação de um cordão humano para bloquear a passagem dos veículos.

“Havia uma pressão muito grande para que furassem o bloqueio, e ela estava na frente, segurando uma faixa nossa, e uma moto acabou passando por cima do pé dela na hora, mesmo com todas as pessoas dizendo que podia fazer um desvio um pouco mais atrás, mas o cara passou com muita brutalidade”, explicou. 

De acordo com Barbosa, a estudante foi encaminhada a uma UMA para fazer um raio-x.

“O pé dela ficou doendo bastante. A gente pediu ajuda à polícia e aos bombeiros para chamar uma ambulância, e ela foi atendida”.

Álvaro Dias distorce e nega revogação do aumento

O prefeito Álvaro Dias foi logo à TV Tropical para uma entrevista, em que justificou o aumento como sendo uma “necessidade”. Ao vivo, o chefe do Executivo mentiu ao fazer o comparativo com outras capitais nordestinas.

“Natal ainda é, mesmo com esse aumento, a menor tarifa de transporte coletivo das capitais do Nordeste”, justificou.

A informação não é verdadeira. Hoje, Natal possui a quinta tarifa mais cara do Nordeste. Os R$ 4,50 cobrados na capital natalense ainda são maiores do que em São Luís-MA (R$ 4,20), Recife-PE (R$ 4,10), Teresina-PI (R$ 4,00) e Maceió-AL (R$ 3,49/R$4,00).

Ele se negou a atender o pleito dos estudantes e revogar o aumento:

“Não há a menor possibilidade, de maneira nenhuma.”

Marcos Alexandre, também do MLB, disse que o movimento sem-teto vai continuar se mobilizando até que a população consiga a diminuição do preço da passagem. 

“Nós conseguimos fechar a BR por mais ou menos duas horas, desde às 6h30 até às 8h30, conseguimos chamar atenção de todos os grandes veículos que ficaram ao vivo durante todo esse tempo, e conseguimos incomodar Álvaro Dias que teve que ir na TV às pressas para tentar se explicar pra população. Esse é só o início das grandes manifestações que vão acontecer”, disse.