Tudo em todo lugar ao mesmo tempo
Natal, RN 19 de mai 2024

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

22 de novembro de 2023
6min
Tudo em todo lugar ao mesmo tempo
Herri de Bles, Inferno. Século XVI / Foto: reprodução

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No domingo, quando o candidato de extrema direita, o tosco e alucinado Javier Milei venceu a eleição para presidente da Argentina, planejei que esse fosse o tema do meu texto da terça/quarta na minha coluna deste Saiba Mais. Afinal, é grande a relevância da eleição - e de seu resultado - de um país vizinho e poderoso e do contexto disso na América do Sul.

Contudo, a tragédia registrada no primeiro show da cantora estadunidense Taylor Swift no Brasil, quando uma fã morreu por desidratação (e outras mil desmaiaram e/ou passaram mal) e descobriu-se que a organização proibiu que 50 mil jovens entrassem com água em pleno Rio de Janeiro com calor de 40 graus, cogitei escrever sobre as nuances diversas dessa situação.

Mas já na segunda-feira li - aqui mesmo no Saiba Mais - que a vereadora em Natal Camila Araújo (União Brasil), certamente na fala do que fazer, apresentou na Câmara Municipal projeto de lei para proibir a participação de crianças em paradas LGBTQIAPN+ ou eventos similares. Moe para analisar como políticos de direita atualmene "jogam para a plateia" e tentam podar a liberdade alheia (enquanto fazem discurso hipócrita pela "liberdade de expressão").

Pois quando na terça à noite eu me preparava para escrever sobre um desses três assuntos, me informo sobre Israel ter concordado com um cessar fogo de cinco dias em Gaza. E assistindo a Brasil x Argentina pelas Eliminatórias da Copa vejo a triste ação dos PMs cariocas descendo a porrada nos torcedores argentinos na arquibancada do Maracanã com transmissão ao vivo e a cores para o mundo inteiro.

Complicado, portanto, escrever sobre um assunto só. A variedade de emas e a sequência de acontecimentos em uma semana agitada me lembrou o título do filme dirigido por Daniel Scheinert e Daniel Kwan (com Michelle Yeoh, Ke Huy Quan e Jamie Lee Curtis) que venceu o Oscar de melhor filme deste ano: Tudo em todo lugar ao mesmo tempo. Notícias do Rio, da Argentina, de Gaza, isso sem contar as muitas outras que nos chegam pelo universo quase sem fim dos famigerados grupos de Zap e pelas redes sociais. Globalização que chama, né?

Mas, vamos às citadas acima, ainda que como ´drops` de análises, só para eu não perder meu hábito de dar pitaco em (quase) tudo, de registrar os fatos e de dar a cara a tapa.

Sobre Argentina: É certo que a eleição de Milei, um aloprado que diz se comunicar e se aconselhar com seu cachorro morto, chocou o mundo e apavorou a Esquerda, mas também é certo que ele não vai conseguir implementar grande parte de suas pautas, como por exemplo a se romper laços com Brasil e China, os dois maiores parceiros comerciais dos portenhos. Ou seja, ou mantém seu discurso e não governa, ou administra e se queima com seu eleitorado. Não acho que tenha tantas semelhanças com Bolsonaro, como dizem, assim como a dinâmica política de Brasil e Argentina é muito diferente. A esperar.

Sobre show da Taylor Swift: Acompanhei as intempéries da turnê da artista (a mais bem sucedida do pop da atualidade) com atenção, tanto por acompanhar desde sempre a indústria cultural, como por razões pessoais: minha filha Ananda estava/está na Rio, posto que foi ao show, empreitada para qual se preparou há mais de seis meses. A atuação da empresa responsável pelo show foi desasrosa é [é puro suco de capitalismo. Como todo mundo que já foi em show de grande porte sabe, não é permitido entrar com comida e bebida menos por segurança e mais para o público ser obrigado a comprar os produtos licenciados para a área interna, ou seja, pelo menos 300% mais caros que o preço normal e enfrentando filas quilométricas. Que não se permita entrar com garrafas de 51 ou botijões de vinho acho compreensível (e correto) mas não poder entrar com água com o Rio vivendo recordes de calor em um estádio cercado com tapumes (aumentando a sensação térmica) era uma equação preparada para uma tragédia. Como aconteceu. Que o público consumidor não aceita mais isso e que mudem as leis sobre esse tipo de agressão, como já está acontecendo.

Sobre a ilustre (só que não) vereadora: Na linha das atuações de parlamentares-espetáculo como Nikolas Ferreira, Magno Mala, bolsofilhos, a proposta apresentada quer agradar (e alimentar com ódio e preconceito) a bolha de direita: a vereadora detalha que “todos aqueles movimentos realizados por entidades públicas ou privadas, que sob o argumento da conscientização da população para a causa, termina por expor às crianças qualquer tipo de nudez total ou parcial ou ambiente e condutas propícias a erotização infantil”. Na prática, tenta associar a população LGBTQIAPN+ à perversão, sexualidade e, por conseguinte, pedofilia. Claro que a proposta é inconstitucional (pais têm direito de levar os filhos em eventos que desejarem) mas fica o registro que em Natal temos uma vereadora que em vez de trabalhar pela população, pela sua comunidade, quer cercear os direitos alheios com justificativas canalhas. Pior: Camila Araújo é a mesma vereadora que, no início do ano, homenageou a empresa M7 business, tocada por Mário Borges, "o crente rader", investigado pela Polícia Civil por aplicar golpes de pirâmide financeira. A vereadora deveria escolher melhor quem homenageia em vez de se meter com as famílias alheias.

Sobre Gaza: Parece que Israel começou a sentir a pressão da opinião pública (e mesmo dos líderes) mundial, numa reversão da narrativa registrada nas últimas semanas. A reação desproporcional de Israel ao ataque do Hamas e a quantidade de alvos civis atacados e crianças mortas vem chocando o Mundo. A tragédia humanitária só não choca a extrema direita e os evangélicos brasileiros que criaram para eles uma "Israel imaginária". Mas isso é assunto para um outro texto.

Sobre Brasil x Argentina: A partida em si foi um jogaço com vitória para a seleção de Messi por 1x0 e o afundamento do Brasil na tabela e na questão moral. Mas o que vai marcar a noite deste jogo é a quase tragédia vista nas arquibancadas, com a junção da incompetência da CBF em não separar as torcidas rivais, como é de praxe em clássicos e jogos tensos, com a truculência já conhecida da polícia carioca, sempre disposta a bater primeiro e perguntar ou apaziguar depois. Quem assistiu a porradaria ao vivo e depois viu as imagens gravadas por torcedores sabe que foi um milagre torcedores portenhos não terem morrido, o que seria um escândalo mundial que marcaria o Rio e o Brasil.

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