TCC da UFRN reúne estudos sobre racismo na organização do conhecimento
Natal, RN 8 de mai 2024

TCC da UFRN reúne estudos sobre racismo na organização do conhecimento

14 de janeiro de 2024
4min
TCC da UFRN reúne estudos sobre racismo na organização do conhecimento
Maria Clara apresentando pesquisa em congresso na Universidade de Federal de Pernambuco (UFPE) | Fotos: acervo pessoal

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O racismo está enraizado na sociedade e, enquanto diversos movimentos tentam combatê-lo, o preconceito segue sendo perpetuado por instituições, inclusive na organização do conhecimento científico. A pesquisadora natalense Maria Clara Tavares da Silva, de 27 anos, decidiu mapear estudos críticos sobre racismo em uma base de dados dentro da biblioteconomia e da ciência da informação. 

A monografia “Racismo na organização do conhecimento: um olhar da produção científica na base de dados Scopus”, com orientação da professora Dra. Nancy Sánchez Tarragó, foi apresentada, em 2022, ao Curso de Graduação em Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Em dezembro de 2023, recebeu o prêmio de Melhor TCC da Região Nordeste no âmbito do concurso nacional promovido pela Associação Brasileira de Educação em Ciência da Informação (Abecin).

Depois de reunir estudos feitos sobre o tema em mais de 30 anos, Maria Clara entendeu que existia um mito sobre a biblioteconomia ser universal e neutra e que está sendo derrubado. “A gente sabe que não existe neutralidade, não existe imparcialidade. Essa é uma versão colonial, porque você ignora a pluralidade das existências”. Ela avalia ainda a biblioteconomia como elitista e diz que somente de uns tempos para cá a pesquisa social ganhou força na área. 

Maria Clara explica que os códigos das etiquetas nos livros das bibliotecas seguem tabelas da classificação decimal universal [Classificação Decimal de Dewey - CDD], o que chama de “Vade Mecum da biblioteconomia”. 

Cada número daquele significa uma coisa e existem tabelas de raça e de idioma. Os primeiros são sempre em inglês e pessoas brancas. O número 9 vem falar de línguas latinas e outras. E a de raça, da mesma maneira. Os últimos números diziam respeito a pessoas não brancas. Nessa ordenação, você percebe a origem disso tudo, o racismo, a relação de poder entre os termos. Está no sistema, no livro, mas antes de estar ali está na realidade das pessoas.”, expõe a bibliotecária, que durante a formação participou três anos do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) e fez parte do grupo de pesquisa Estudos críticos em Biblioteconomia e Ciência da Informação (ECBCI), junto com a orientadora do trabalho e a professora Gabrielle Francinne de Souza Carvalho Tanus. 

Destaca outra importante experiência, o estágio na Liga Contra o Câncer. O hospital oferece cursos de residência voltados à oncologia e, por essa razão, tem biblioteca. O espaço é usado não só por estudantes, mas também por médicos em pesquisas de estudos clínicos, no exercício da chamada Medicina Baseada em Evidências (MBE). 

“A Liga já não é um lugar comum, é destaque em tudo que faz. Toda escola só pode existir se houver biblioteca e a biblioteca só pode existir com bibliotecário. Lá eles têm essa biblioteca muito bem equipada que dá suporte para médicos e residentes. Os profissionais pedem ensaios clínicos para tomada de decisões. Então eles pesquisavam e resolviam fazer uma cirurgia, por exemplo. Eu conseguia ver o meu trabalho sendo aplicado de forma extremamente prática, mas também dava uma responsabilidade muito grande.”, lembra.  

Atualmente no mestrado, estuda a criação de uma rede municipal de bibliotecas escolares: “Há falta de valorização das bibliotecas. Se a gente cria uma rede em que todo o investimento circula dentro dessa rede, gera economia. Para um investimento governamental, de estado ou município, fica mais fácil colocar em prática, tentar criar um caminho para essa rede.”

Apesar da mudança de tema, diz que os estudos sobre racismo e ciência da informação não se esgotaram. Maria Clara pretende escrever um artigo para propor criação de instrumentos de reparação. 

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