Acorda, clubber: DJs natalenses mantém viva a cultura house 
Natal, RN 13 de mai 2024

Acorda, clubber: DJs natalenses mantém viva a cultura house 

7 de abril de 2024
8min
Acorda, clubber: DJs natalenses mantém viva a cultura house 

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Há quem diga que a cultura clubber ficou no passado, lá pelos anos 2000, mas em Natal, ela está mais viva do que nunca. Isso porque movimentos culturais do centro da cidade estão mantendo vivo o estilo musical que inicia no house, passa pelo techno e vai até o mainstream. São pessoas como Frank Aleixo, mais conhecido como DJ Pajux, que mantém esse movimento aceso nas ruas da Ribeira, em Natal. 

Clubber ou Clubbing é o termo associado a pessoas que frequentam danceterias, discotecas e clubes de música. Apesar de ser um movimento nascido nos Estados Unidos, que originou estilos musicais como o House e o Techno, expandiu-se para outros países e hoje é parte das noites boêmias em Natal. Seja em boates da zona sul ou em clubes da zona leste da cidade, em algum momento você já deve ter se deparado com batidas semelhantes a essa:

Em conversa com a Agência Saiba Mais, Pajux - DJ e Produtor Cultural - conta como foi sua trajetória no mundo das discotecagens eletrônicas.

“Antes de ser DJ eu fui da pista. Eu acho que essa é a realidade de muitos DJs, que antes de começarem a tocar tiveram momentos importantes e impactantes na pista de dança, que fizeram com que essa vontade, esse desejo de tocar despertasse”, explica

Foram momentos no antigo Galpão 29, localizado na Rua Chile, na Ribeira, com variados públicos, que fomentaram a vontade do Produtor Cultural de se tornar DJ.

“Na época eu consumia muito mais música pop, mas o Galpão era aquele lugar onde você ia ouvir aquela música pop, mas ao mesmo tempo você era apresentado a outras coisas. Outras coisas, outros universos e desde essa época eu já tinha alguns artistas, alguns DJs que me cantavam, me impressionaram justamente por essa habilidade de criar atmosferas e criar narrativas ali com os sets”, descreve Pajux.

A partir disso, Frank fez das noites eletrônicas um meio para transmitir sua arte em forma de mixagem. Natalense de Pajuçara, da zona norte da cidade, o DJ representa o lugar de onde veio pelo seu nome artístico. Pajux vem da palavra Pajuçara. Foi em 2011 que Frank se apresentou pela primeira vez como DJ Pajux, e desde então vem se destacando no estilo.

Durante a semana, o produtor ganha a vida lecionando, e aos fins de semana ele administra uma boate na Rua Chile - a Frisson - e se apresenta em festas pela cidade.

“Eu não sou DJ em tempo integral, para além de ser DJ, produtor cultural e agora administrando a boate que a gente abriu recentemente, sou professor. Esse é o trabalho que eu tenho durante a semana, No fim de semana a minha vida com produção cultural precisa coexistir com o meu outro trabalho, o que é uma realidade muito comum de artistas e agentes culturais na cidade”, comenta ele.

No entanto, o artista une forças e entusiastas do clubismo para movimentar as noites boêmias natalenses, com o clube Frisson, antes chamado de Yaras Porto. Janvita, uma das administradoras da boate, conta que essa é uma construção coletiva de pessoas do cenário alternativo, underground e eletrônico.

“Existe uma coletividade por trás da Frisson, que é construída através de pessoas que já fizeram evento na Rua Chile, no Centro Histórico e no Beco da Lama. O clube surge como essa possibilidade, da disponibilidade desse espaço pra gente”, pontua o DJ. 

Clube Frisson ocupa as noites da Rua Chile, na Ribeira - Foto: Pajux.

Administrada por Pajux, Janvita Ribeiro, Martina Farias, Vitor Ischa e Gabriel Greiner, entusiastas clubber’s que já produziram festas em outros espaços do Centro Histórico, a boate Frisson surge como um espaço para acolher todos os estilos undergrounds da cidade, seja clubber, brega, punk e até mesmo as ballrooms. 

A Frisson é uma reação que vem de uma diversão, de uma brincadeira do que a gente queria sentir e emanar. A sensação de estar na Frisson era algo que a gente queria muito transmitir, não só para as pessoas que enfim já costumavam ir para as nossas produções e festas, como também expandir isso para um novo público”, destaca Pajux. 

Apesar das dificuldades em empreender na Ribeira, o grupo se mantém firme na sua idealização do lugar como o futuro da cultura clubber em Natal.

Estamos começando do zero! A gente não tem financiamento algum, estamos tirando tudo do nosso trabalho mesmo, do nosso bolso e do nosso esforço. Além desse desafio, temos alguns problemas da própria cidade, como a questão do transporte público, por exemplo, que é bem precário e que acaba isolando um pouco a ribeira. Temos também a questão da iluminação pública, onde não há praticamente iluminação pública em frente ao nosso espaço e nem coleta de lixo”, aponta Pajux.

Clube Frisson tem grande adesão do público - Foto: Pajux.

No entanto, o DJ afirma ser recompensador ver a adesão do público, que marca presença na boate todos os fins de semana.

“A gente vai criando uma satisfação por ter um ambiente onde as pessoas podem se encontrar, gerando novas interações, novas memórias e novas possibilidades, até criativas mesmo. É muito gostoso receber artistas de diversos segmentos diferentes e perceber que de certa forma a gente está fazendo algo que está contribuindo para a cidade também”, comenta Pajux.  

De geração para geração 

Além de abrir um novo espaço e promover festas, uma das maneiras de perpetuar a cultura clubber em Natal é por meio de oficinas de mixagem, que ensina a jovens e adolescentes a arte da discotecagem.

“Fazer oficinas sempre esteve nos nossos planos, sempre quis fazer e agora que a gente tem nosso próprio espaço, ficou bem mais fácil executar esse tipo de projeto que antes ficava só na nossa cabeça”, explica Pajux.

Pajux ensina a arte da mixagem para jovens natalenses - Foto: Pajux.

O DJ conta que já ministrou oficinas semelhantes por meio do projeto MADA Faz Escola, uma ação sociocultural desenvolvida pelo Festival Música Alimento da Alma - MADA - que celebrou em 2023 25 anos de atividades no Rio Grande do Norte.

São ações como essas que insere os jovens adeptos ao movimento clubber na produção dos eventos. Um exemplo disso é Aeres Santos do Nascimento, 20, mas conhecido como Desktop is ou DJ Desk, que iniciou sua jornada pelas músicas eletrônicas ainda adolescente, entre 13 e 14 anos.

“Eu comecei a produzir música no início da adolescência, para criar novas amizades. Em 2019 lancei meu primeiro EP e conheci um pessoal da cena em João Pessoa (PB) que estava montando um coletivo de artistas independentes nordestinos da eletrônica”, conta Desk. 

Embora já tivesse uma experiência com a música, foi somente após a pandemia do Covid-19 que Desk passou a frequentar festas do gênero musical, apresentadas a ele pelo Disconexa, um projeto do selo musical potiguar Disconexa, que há quase 10 anos movimenta a noite alternativa da capital com eventos, mostras e outras ações.

Desk começou a discotecar em festas online durante a pandemia - Foto: Desk.

Em 2021, Desk integrou a coletânea Ruma, organizada pela Disconexa, e a partir disso começou a se interessar pela discotecagem. “Antes eu só brincava em festas online na pandemia e acabei tomando gosto. Toquei pela primeira vez numa festa pós pandemia”, explica o DJ.

Atualmente ele atua como DJ em festas da capital com a Bala Prod, um coletivo formado por Desk e outros artistas. Mesmo sendo novo na cena clubber, Desk afirma que deseja atuar como DJ profissionalmente.

“Criar e espalhar música me faz sentir vivo, por criar memórias para mim e pra quem tá na pista. Quero continuar criando memórias por muito tempo”, destaca Desk. 

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