Cortes no IBGE devem prejudicar censo das pequenas cidades, alerta especialista
Natal, RN 5 de mai 2024

Cortes no IBGE devem prejudicar censo das pequenas cidades, alerta especialista

29 de maio de 2019
Cortes no IBGE devem prejudicar censo das pequenas cidades, alerta especialista

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Importante instrumento para a criação de políticas públicas nas áreas da saúde, previdência social e educação, entre outras, o Censo de 2020 vai sofrer com cortes de 25% e com a diminuição no número de questões. Na noite desta terça-feira (28) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística anunciou as alterações na mais completa pesquisa demográfica nacional.

A pesquisa, importante para responder as perguntas: quantos somos? como somos? onde vivemos? e como vivemos? vai ser aplicada em cerca de 71 milhões de domicílios, tendo nove perguntas a menos no questionário básico e 26 no questionário completo, destinado a uma mostra de 10% das casas.

O IBGE, apesar de reconhecer que as mudanças têm relação com os cortes de 1/4 do investimento no Censo, afirma que a diminuição de questões segue uma tendência internacional e visa a operação mais simples e ágil.

"O mundo inteiro está caminhando para uma otimização da operação censitária", disse a presidente do IBGE, Susana Cordeiro Guerra. Segundo ela, preocupações com a hipertrofia do Censo já vinham sendo manifestadas há alguns anos por entidades representativas de demográficos e estatísticos.

Porém, o demógrafo potiguar Flávio Freire diz que há diferença entre a base dados do Brasil e os demais países:

Os países que diminuem ou diminuíram o questionário do censo, em geral, têm bases de dados de registros administrativos, ou de pesquisas amostrais sistemáticas que complementam as informações não coletadas no censo”, ressaltou o especialista, que também disse que “não temos pesquisas amostrais que cumpram essa função. A PNAD, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, de fato faz perguntas sócio-econômicas e demográficas importantes, mas tem um desenho amostral que não consegue fornecer respostas e indicadores para o nível municipal”, afirmou.

O especialista compara os gastos com de Brasil e EUA com o Censo. Segundo ele, mesmo bem menor, o questionário dos americanos custa mais caro quando dividido para o número da população:

O censo brasileiro não é um censo considerado caro. A estimativa inicial do IBGE era gastar R$ 3,1 bilhões com o censo 2020. Segundo as estimativas populacionais, isso equivaleria a um gasto de por volta de R$ 15,00 por habitante. Se o orçamento for o proposto pelo governo, de 2,3 bilhões de reais, o censo 2020 custará algo em torno de R$ 11,00 por habitante. O Censo americano é estimado em 190 reais por habitante, e tem um questionário de apenas 10 perguntas”, comparou.

O demógrafo tem trabalhos nas áreas de demografia espacial e projeções populacionais e mostra-se preocupado com o futuro, principalmente nas pequenas cidades:

Perde-se muito, sobretudo no nível municipal. A única base de dados mais abrangente com informações sócio-econômicas municipais no Brasil, é o Censo”, disse.

Corte no censo será de R$ 800 milhões

A presidente do IBGE, Susana Cordeiro Guerra, explica as mudanças no Censo 2020.

O Censo brasileiro é realizado a cada 10 anos e é a única pesquisa domiciliar que vai a todos os 5.570 municípios do país. Seu objetivo é medir densidade populacional e oferecer um retrato da população brasileira. As informações obtidas subsidiam a elaboração de políticas públicas e decisões dos governos relacionadas com a alocação de recursos financeiros. Para 2020, o IBGE pretende mobilizar até 190 mil recenseadores. Já está previsto para o final de setembro desse ano o censo experimental em Poços de Caldas (MG), uma espécie de ensaio geral.

O orçamento estimado inicialmente para a operação censitária de 2020 foi de aproximadamente R$3,1 bilhões, mas o IBGE trabalha atualmente com uma redução de 25%. A meta é investir em torno de R$2,3 bilhões. Susana afirmou estar consciente de que não haverá condições de destinar ao Censo o que foi previsto originalmente, uma vez que há um contexto de restrição fiscal e econômica do Brasil que atinge não apenas o IBGE, mas todos os órgãos do governo.

Ao mesmo tempo, ela negou ter recebido qualquer orientação do governo federal para reduzir os questionários.

"Nunca houve uma ordem para diminuir o número de perguntas. O IBGE é um órgão de Estado. Eu aceitei assumir a presidência com a condição de ser técnica e de gerir um órgão de Estado. A única coisa que houve foi um quadro de restrição orçamentária. Mas o IBGE tem total autonomia e independência para decidir como vai se adequar a esse contexto. E mesmo sem a restrição orçamentária, nós estaríamos tomando as mesmas decisões que estamos tomando nesse momento", disse Susana. De acordo com ela, o IBGE vem fazendo ajustes relacionados à sua folha de pagamento, ao número de equipamentos, aos treinamentos e aos métodos de supervisão, avaliação e coleta.

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