Na contramão da realidade nacional, em que os times masculinos são, por via de regra, os grandes destaques dos clubes, as jogadoras do Cruzeiro de Macaíba assumem o protagonismo com a camisa celeste. Distante da realidade ideal, a equipe dribla a falta de incentivo e briga por vaga na elite do futebol feminino no Brasil.
Na próxima quarta-feira (8), a equipe disputa com o Botafogo da Paraíba uma vaga direta para a fase mata-mata da Série A2 do Brasileirão. A partida é em João Pessoa (PB), no Almeidão. Se vencer, ganha não só o direito de continuar na briga pelo título, como também faz história no Rio Grande do Norte. É a primeira vez que a raposa potiguar encara uma competição nacional. Também é inédita no Estado a participação de um time feminino na Série A2 do Campeonato Brasileiro de Futebol.
O time está no Grupo 3 da segunda divisão e ocupa, neste momento, a segunda posição na tabela com 7 pontos, oriundos de uma derrota, um empate e duas vitórias. No total, são 36 clubes divididos em seis grupos cada. Avançam para a próxima fase os dois melhores colocados de cada grupo e os quatro melhores terceiros lugares. Os quatro clubes que se classificarem para a semifinal, alcançam o acesso à Série A-1, espaço dedicado à elite do futebol feminino no país.
Artilheira do clube e a nona maior goleadora da Série A-2, segundo contabiliza a Confederação Brasileira de Futebol, Deize Alexandre da Silva, de 19 anos, conta que a expectativa é maior diante do último jogo da fase.
"O fato de ser artilheira aumenta a responsabilidade. Espero fazer mais gols e ajudar a equipe", relata. A camisa 8 do clube conta com o apoio dos pais, a dona de casa Alcilene Targino Alexandre, e do ex-jogador de futebol e hoje motorista José Ubelino da Silva Neto. O pai, inclusive, é ex-jogador do Botafogo-PB, time que a meia encara amanhã: "Mas nesse jogo ele vai torcer por mim", brinca.
Criado em 1936, desde outubro de 2016 o Cruzeiro tem uma equipe feminina. "Nós estamos cientes do que devemos fazer. A vitória nos coloca não só na próxima fase da competição, como também marca o futebol feminino do Rio Grande do Norte. Apesar de só termos três anos, nós queremos ser essa história. Está dentro do nosso objetivo traçado desde o início do projeto", conta Bernardes Filho, técnico do elenco. "Quando falamos de mulher no esporte, as dificuldades aumentam", completa.
Segundo ele, a equipe também encara desafios fora dos gramados, como a falta de dinheiro para a passagem de ônibus das atletas e a falta de alimentação. Nas últimas semanas de preparação, as meninas treinaram menos de duas horas durante as terças, quartas e sábados, dias de treinamento, por causa das condições precárias. O cenário é similar ao de muitos times amadores no Brasil.