Gilson, Maryland, Crispiniano ou Haroldo: quem vai comandar a gestão cultural do RN a partir de 2023 ?
Natal, RN 19 de mai 2024

Gilson, Maryland, Crispiniano ou Haroldo: quem vai comandar a gestão cultural do RN a partir de 2023 ?

19 de dezembro de 2022
11min
Gilson, Maryland, Crispiniano ou Haroldo: quem vai comandar a gestão cultural do RN a partir de 2023 ?

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O comando da gestão cultural no Rio Grande do Norte está em disputa no PT e também fora das instâncias do partido. O trabalho do jornalista, escritor e poeta Crispiniano Neto à frente da Fundação José Augusto vem sendo avaliado internamente pelo Governo e a chefia da pasta pode mudar.

Sobre a mesa da governadora Fátima Bezerra já chegaram ou estão para chegar quatro nomes ligados ao setor: o do ex-chefe da regional Nordeste do Ministério da Cultura Gilson Matias; o da jornalista, professora do IFRN e realizadora audiovisual Maryland Brito; o do ex-secretário municipal de Cultura de Parnamirim Haroldo Gomes; além do próprio Crispiniano, que ainda pode seguir no cargo.

Fátima ainda não decidiu e aguarda uma indicação consensual das principais correntes do PT para confirmar o próximo gestor da pasta. Nos últimos 15 anos, quem apresenta pela legenda o nome para administrar a cultura é a CNB, corrente liderada pelo deputado federal eleito Fernando Mineiro. Foi assim no governo Wilma de Faria e Iberê, com Crispiniano Neto, em um período do governo Robinson Faria, com Crispiniano Neto de novo após a saída de Rodrigo Bico (na época filiado ao PT e militante da Avante), e durante os quatro anos da gestão de Fátima, novamente com Crispiniano.

A cultura é uma área em que o PT não aceita terceirizar para aliados, especialmente agora, no terceiro governo Lula, com a promessa de recriação do Ministério da Cultura tendo à frente Margareth Menezes, uma mulher nordestina.

O setor será turbinado com recursos federais em 2023 com as verbas das leis Aldir Blanc 2 e Paulo Gustavo, esta voltada exclusivamente para o audiovisual. Somando as duas fontes de receita, quase R$ 80 milhões serão injetados no setor cultural só no Rio Grande do Norte.

Pelo menos três fontes lotadas no Centro Administrativo informaram à reportagem que o favorito para assumir a pasta é Gilson Matias. Atualmente, ele atua na assessoria responsável pela agenda administrativa da governadora.

Promessas e desafios

Um dos desafios do próximo gestor é a criação da secretaria estadual de Cultura, com orçamento e estrutura próprios. A ideia é um sonho antigo de artistas e trabalhadores do setor. A Secult é também uma promessa de campanha de Fátima, mas que não saiu do papel no primeiro mandato. A FJA funciona hoje como um órgão ligado à secretaria de Educação. O Fundo Estadual de Cultura é outra pauta fundamental que precisa estar na ordem do dia. O rombo de quase R$ 2,6 bilhões herdado da gestão anterior deu ao governo petista o argumento para adiar a execução das duas principais reivindicações do segmento A partir agora, com Lula na presidência, a volta do MinC e parte da dívida sanada, a futura gestão da Cultura estadual vai precisar executar o que, até o momento, não passou de promessas não realizadas.

A Agência SAIBA MAIS procurou os quatro nomes cotados para dirigir a Fundação José Augusto para ouví-los sobre a possibilidade de assumir o posto ou, no caso de Crispiniano Neto, dar sequência à gestão. Nenhum deles se coloca como "candidato à vaga". Um se diz a serviço do Partido, dois admitem incentivos do setor cultural para topar o desafio e o atual diretor do órgão espera permanecer onde está para dar sequência ao trabalho, mas entende a dinâmica da política se for substituído.

Confira o que disse cada um:

Crispiniano Neto: “É natural,  costumo dizer que estou sempre pronto para ficar e pronto para sair"

Crispiniano Neto é o atual diretor da Fundação José Augusto / foto: reprodução

O jornalista, poeta e cordelista Crispiniano Neto dirigiu a Fundação José Augusto em quatro governos diferentes: Wilma de Faria, Iberê Ferreira de Souza, Robinson Faria e Fátima Bezerra. A possibilidade de troca no comando da cultura, portanto, é encarada como algo natural por ele:

- Vejo com a maior naturalidade, é próprio do cargo de confiança. Mudou o governo, tem outra composição política no bloco que elegeu governadora. Não me foi comunicado, mas se tiver que sair, sairei com a maior naturalidade. Costumo dizer que estou pronto para ficar e estou pronto pra sair também”.

Apesar de não ter sido comunicado sobre a mudança na gestão, Neto sabe que há nomes cotados para assumir o lugar dele. E elogia os concorrentes:

- Os nomes que estão colocados na ‘boatosfera’ são muito bons e merecem uma oportunidade. Obviamente eu gostaria de ficar, até porque pegamos o osso quando cheguei. Havia uma situação de terra arrasada, sem orçamento. Dos 30 milhões no orçamento, R$ 25 milhões era para pagar a folha. Sobrou R$ 150 mil por mês e quando veio a pandemia diminuiu mais. Depois melhorou um pouco, mas veio a queda do ICMS”, lamenta.

O atual diretor da Fundação José Augusto avalia que a gestão do PT mudou a cultura de eventos enraizada no Estado. E inicia um balanço da gestão lembrando que faltam apenas detalhes burocráticos para efetivar a implementação do Fundo Estadual de Cultura e do Plano Estadual de Cultura, ambas pautas históricas do setor e já aprovadas pela Assembleia Legislativa:

- Historicamente, a gestão cultural no Rio Grande do Norte foi uma gestão de eventos. Mas pensamos algo maior. Inauguramos um sistema de diálogo com as câmaras setoriais, chamamos os artistas para conversar. Conseguimos abrir todos os espaços culturais que encontramos fechados: Biblioteca Câmara Cascudo, Forte dos Reis Magos, TAM, Teatro de Dança... o Papódomo e o Museu da Rampa, que não eram nosso; estamos abrindo as Casas de Cultura. O Fundo Estadual de Cultura só depende de um acerto com a Seplan, o Plano estadual de Cultura já foi aprovado pela ALRN e depende só de uma sanção da governadora... então seria interessante uma continuidade, mas entendo que política é assim. Eu digo aqui que a hora da colheita está chegando”.

Gilson Matias: “Meu nome está para o Partido”

Gilson Matias foi ex-chefe da regional Nordeste do MinC / foto: arquivo pessoal

Gilson é professor aposentado do Estado e militante do setor cultural. Na gestão da ex-ministra da Cultura Martha Suplicy, no governo Dilma Rousseff, ele assumiu a chefia regional Nordeste do MinC, deixando a pasta em 2016, após o golpe que levou Michel Temer à presidência da República. Antes da pasta, Matias trabalhou na secretaria executiva do Ministério da Educação, em Brasília. Ele milita na Avante, corrente liderada no Estado pela governadora Fátima Bezerra. Há uma sinalização na CNB para que a corrente também o apoie. Oficialmente, ninguém do grupo confirma.

Por telefone, Gilson desconversou sobre a possibilidade, disse que não estava sabendo de qualquer articulação, mas destacou que o nome dele está à disposição do PT:

- Meu nome está para o Partido. Se estarei em Natal, no Rio Grande do Norte ou em Brasília é o Partido quem vai dizer. Até mesmo se eu não estiver em lugar nenhum. Eu não estou sabendo (do nome dele cotado para dirigir a Fundação José Augusto). Até porque todo dia aparecem novos nomes”.

Matias contou que, recentemente, os ex-chefes das regionais do MinC durante os governos Lula e Dilma entregaram um documento para a equipe de transição do governo federal sugerindo, entre outros pontos, que a próxima gestão da pasta crie representações estaduais, ao invés de regionais. Seria uma forma, na visão dele, de aproximar mais o poder público federal dos municípios:

- Só em Minas Gerais são 800 municípios, na Bahia tem quase 600. No Nordeste, são 1.100 cidades para uma representação regional dar conta. Sempre defendi que a representação fosse estadual. Quando assumi a chefia da regional do MinC tinha que morar em Recife porque a sede fica lá. Eu preferia viajar de carro para poder ir parando de município em município e chegar mais próximo das cidades. Espero que haja essa mudança”, disse.

Maryland Brito: “É um cargo desafiador”

Maryland Brito é professora de produção cultural no IFRN

Outro nome forte é o da jornalista, professora de produção cultural do IFRN e diretora do audiovisual Maryland Brito. A candidatura dela vem sendo costurada pelo segmento cultural. Procurada pela reportagem, Maryland disse que soube da movimentação espontânea do setor, tem sido incentivada por amigos mas ainda não conversou sobre a possibilidade com ninguém do PT, incluindo a governadora Fátima Bezerra:

- Não houve contato ou articulação nem da minha parte nem da parte do governo. Algumas pessoas da cultura vieram falar comigo e é o que eu posso dizer. É um cargo desafiador”.

Além da experiência de já ter trabalhado na Fundação José Augusto como assessora de comunicação, na primeira gestão de Crispiniano Neto à frente da pasta, Maryland pode aumentar o número de mulheres em posição de destaque gestão de Fátima. Atualmente, apenas três mulheres compõe o 1º escalão do governo: Íris de Oliveira (Sethas), Virgínia Ferreira (Sead) e Maria Luiza Tonelli (Semjidh). Embora não seja um órgão da Administração Direta nem tenha orçamento próprio, a FJA tem status de secretaria.

No governo Dilma Rousseff, Maryland trabalhou na assessoria de comunicação do Ministério dos Direitos Humanos, na secretaria destinada a atender pessoas com deficiência. Chegou a ser adjunta, o segundo cargo mais importante da pasta.

Haroldo Gomes: “Vamos torcer por quem a governadora escolher”

Haroldo Gomes foi gestor da cultura por 10 anos em Parnamirim / foto: reprodução

Haroldo Gomes é mais um gestor cotado para o cargo. Ex-secretário municipal de Cultura de Parnamirim por 10 anos, estreitou laços com o segmento cultural e admite que ouviu pedidos de artistas e produtores para assumir a pasta. Ele destaca, no entanto, que não conversou com ninguém do PT nem do Governo sobre a possibilidade, mas se diz feliz com a lembrança, o que classifica como um reconhecimento:

- Ouvi de algumas pessoas da cultura (pedidos para pleitear a FJA), mas não conversei com ninguém. Eu tenho o perfil sossegado, quieto. Sou mais de ouvir do que de falar. Ao lembrar do meu nome as pessoas reconhecem que a gente fez um bom trabalho em Parnamirim, e isso me deixa feliz. Mas de forma concreta não tive contato com ninguém do governo. Vamos torcer para quem a governadora escolher, com certeza será um bom nome. Se houver um convite, é um desafio que a gente tem que considerar. Mas estou muito satisfeito na chefia de gabinete da Sethas, trabalhando com a secretária Íris, uma mulher extraordinária. Eu gosto muito de viver o momento”.

Além da atuação como gestor em Parnamirim, Gomes trabalhou em Ongs e assumiu nos anos 1990 a coordenação nacional da Pastoral Operária, substituindo Gilberto Carvalho, que mais tarde veio a ser nomeado ex-ministro da Casa Civil do governo Dilma e ainda hoje é um dos auxiliares mais próximos do presidente Lula.

A indicação dele para a FJA conta com o entusiasmo do padre Murilo, religioso muito próximo da governadora Fátima Bezerra.

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