A Associação dos Ciclistas do Rio Grande do Norte (Acirn) convocou um protesto para a tarde desta quinta (04), a partir das 17h, da esquina das Avenidas Salgado Filho com Alexandrino de Alencar, no bairro do Tirol, em Natal.
O local é o mesmo onde será construída uma trincheira, um tipo de túnel, que na justificativa da Secretaria de Mobilidade Urbana de Natal (STTU), vai reduzir os engarrafamentos e dar maior vazão ao tráfego de veículos no local. No entanto, os ciclistas argumentam que a obra é agressiva e vai no caminho contrário do que vem sendo realizado nas capitais vizinhas, como João Pessoa e Fortaleza, que têm priorizado a construção de ciclovias e ciclofaixas para incentivar o uso da bicicleta na cidade.
“É de conhecimento mundial que esse tipo de obra, além de danos ao ambiente urbano, não resolve o problema do trânsito, cuja causa maior é, justamente, o excesso de infraestrutura pró carros, em vez de outros modos de mobilidade, como transporte público e bicicletas. Esse tipo de obra é resultado de uma mentalidade urbana atrasada e ultrapassada no mundo todo. A prática atual não é construir isso, mas demolir essas infraestruturas e melhorar o ambiente na superfície para uso de pedestres, ciclistas e transporte público”, traz um trecho do manifesto publicado em redes sociais.
No último dia 20 de abril, a Prefeitura de Natal divulgou o resultado da concorrência pública para a realização da obra. A vencedora da concorrência que teve o critério de menor preço foi a empresa POTIGUAR CONSTRUTORA LTDA, com uma proposta de R$ 24.246.597,73. A segunda colocada foi a TCPAV – TECNOLOGIA EM CONSTRUÇÃO E PAVIMENTAÇÃO EIRELI, com proposta de R$ 25.117.369,41. O resultado foi republicado no dia 27 de abril por incorreção.
A obra, orçada inicialmente em R$ 25 milhões do Ministério do Desenvolvimento Regional, com contrapartida de R$ 88 mil da Prefeitura de Natal, deve ser concluída num prazo de nove meses. Quando o serviço foi anunciado, em maio do ano passado, moradores e comerciantes da região criticaram a falta de estudos para a realização da intervenção, considerada de grande impacto.
Os cálculos da STTU

Pelas contas da STTU, a obra deve absorver o fluxo de veículos dos próximos dez anos, que deve passar dos atuais 65 mil veículos para 95 mil veículos por dia.
Durante a construção da trincheira, o cruzamento da Avenida Salgado Filho com a Alexandrino de Alencar ficará parcialmente interditado durante nove meses. Nesse período, apenas uma mão na Alexandrino e outra na Salgado Filho deve continuar aberta ao tráfego.
Quando o serviço for concluído, o semáforo de três tempos que existe hoje no local será substituído por um para pedestres.
Áreas esvaziadas…

Consultado anteriormente pela Agência Saiba Mais, o especialista em trânsito e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Rubens Ramos, alerta que obras como trincheiras tendem a deixar o ambiente hostil a humanos. Como exemplo, ele citou as áreas onde serviços semelhantes foram executados para a Copa de 2014 e que tiveram a vida comercial esvaziada, como a região da Avenida Capitão Mor-Gouveia, perto do Sebrae, o final da Romualdo Galvão, a Jerônimo Câmara e a Avenida Lima e Silva.
Adeus sombra…

Ramos também demonstrou que para executar a obra seria necessária a derrubada de todas as árvores localizadas no canteiro central da Alexandrino de Alencar, além daquelas na Avenida Salgado Filho que ficam a até 500 metros do cruzamento.
Ao ser procurada para explicar essa questão, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur) afirmou que só seria possível saber o número de árvores derrubadas, depois que elas fossem tombadas.