Experiência potiguar de dessalinização de água com tecnologia da China poderá ser replicada no Amapá
Natal, RN 18 de mai 2024

Experiência potiguar de dessalinização de água com tecnologia da China poderá ser replicada no Amapá

12 de julho de 2023
7min
Experiência potiguar de dessalinização de água com tecnologia da China poderá ser replicada no Amapá

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Há seis meses o povo Mendonça conquistou uma vitória histórica: três comunidades que compõem seu território indígena passaram a ter abastecimento de água potável devido à implementação de um sistema de dessalinização de água que usa tecnologia chinesa.

As comunidades indígenas de Serrote de São Bento, Amarelão e Assentamento Santa Terezinha localizadas em João Câmara, município potiguar da região do Mato Grande, são agora assistidas com água própria para o consumo humano.

A experiência do Rio Grande do Norte já se tornou referência para o Brasil, podendo ser replicada no estado do Amapá, que vive dilemas similares aos enfrentados pelos Mendonça no território potiguar.

O sistema implementado em João Câmara foi apresentado ao governador do Amapá, Clécio Luís (Solidariedade), e ao senador Davi Alcolumbre (União Brasil), dia 7 de julho em uma visita junto ao ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes. 

“Nós temos realidades hídricas muito diferentes neste Brasil de dimensão continental. Então, procuramos conhecer experiências tecnológicas já existentes e que sirvam para solucionar problemas que existem em outros locais”.

Ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional Waldez Góes. 

“O Amapá é um estado que, na foz do Amazonas, requer muito o uso desse tipo de tecnologia de dessalinização, uma vez que o Atlântico está salinizando bastante o arquipélago no Bailique, que tem mais de 60 comunidades e 18 mil pessoas vivendo com muita dificuldade em termos de água para consumo humano. E a experiência aqui do Rio Grande do Norte será importante para o trabalho que desenvolveremos no Amapá”, completou.

Na ocasião, a governadora Fátima Bezerra (PT), afirmou:

"Esta era uma antiga reivindicação daquela comunidade, que é indígena e agora passa a ter acesso à água de qualidade, em quantidade, e que será modelo para o estado do Amapá”.

Esse intercâmbio de experiências é visto com bons olhos por Tayse Campos, liderança indígena do Amarelão, uma das comunidades beneficiadas pela chegada da água potável. 

“Quando falamos em políticas públicas é positivo que os governantes conheçam experiências que deram certo para avaliar se elas se adéquam a outras realidades”, afirma Tayse.

A realidade dos Mendonça

(CPFL / Divulgacão)

A liderança afirma ser "um marco histórico ter água potável, de qualidade, à disposição de todos os moradores da comunidade [do Amarelão]", apesar do projeto não ter solucionado todos os problemas de acesso à água vivenciados pelos Mendonça na região.

Tayse conta que a comunidade está localizada em uma região semiárida, com pouquíssimos reservatórios naturais de água. Segundo ela “nos poucos que existiam a água não era potável”.

Devido à falta de fontes de água potável, "nosso povo sempre procurou estratégias de convivência com o semiárido, como, por exemplo, cavando cacimbas (buracos) para conseguir água do subsolo e pegando água em açudes próximos", relata Tayse. 

Em 2006, a comunidade foi contemplada com o Programa 1 Milhão de Cisternas Rurais da Articulação do Semiárido Brasileiro. Segundo Tayse, “a maioria das famílias recebeu cisternas de placas de concreto construídas no quintal de casa, onde elas armazenam água das chuvas nos períodos de inverno para beber e cozinhar durante os períodos de estiagem”.

Equipamento chinês dessaliniza 80 mil litros de água por dia

Projeto de dessalinização no interior do RN vira referência nacional CPFL / Divulgacão

Essa situação de baixa disponibilidade de água, com a necessidade de uso de carros pipa, água salobra de poços ou cisternas de água de chuva, foi caracterizado pelo Governo Chinês, em estudo apresentado ao Governo do Estado do Rio Grande do Norte, como indicador de que as comunidades de João Câmara possuíam acesso inadequado à água, segundo os parâmetros da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Para garantir que essas comunidades passassem a ter o que a OMS considera como acesso básico à água e com isso garantir o mínimo de segurança hídrica, o governo estadual firmou parceria com a China, sendo montada uma estrutura que permite dessalinizar 80 mil litros de água por dia.

O ato de transferência do sistema de dessalinização foi assinada pelo embaixador chinês Tum Tim Xau e pela governadora Fátima Bezerra, resultando em um investimento de R$ 8 milhões doado pela China ao Rio Grande do Norte.

A cooperação é uma compensação ecológica do estado Chinês e é, segundo o embaixador, resultado de “uma combinação das concepções que a China vem pegando, e o Brasil também, de sustentabilidade, de desenvolvimento verde e também de redução da pobreza”.

"Nossa expectativa é ampliar parcerias exatamente como essas. Do ponto de vista de trazer desenvolvimento com inclusão social, com geração de emprego, com cidadania para o nosso povo", afirmou a governadora Fátima.

Entenda como funciona a tecnologia chinesa

Tecnologia chinesa vem sendo usada em João Câmara / foto: Sandro Menezes/Assecom

O complexo foi construído pela empresa estatal chinesa State Grid em parceria com o grupo CPFL Energia na comunidade Serrote de São Bento, onde a água é captada a 150 metros de profundidade. A estrutura é composta por um sistema inteligente de abastecimento de água e um sistema de energia solar que torna o projeto autossustentável energeticamente.

Após captada, a água com alta concentração de sal passa pelo processo de dessalinização com o uso da tecnologia de membrana de osmose, a Osmose Reversa de Água Salobra (BWRO).

Durante esse processo, 85% do volume de água se transforma em água potável. A água é então distribuída por uma adutora com extensão de cinco quilômetros que abastece as três comunidades a partir de chafarizes. No total, cerca de três mil pessoas são beneficiadas.

É preciso mais

Apesar do avanço apresentado pelo projeto, Tayse Campos afirma haver ainda problemas a serem solucionados. É que a água que chega “só é suficiente para beber e cozinhar e o único chafariz construído na comunidade [do Amarelão] fica distante quase 3 km de algumas residências, dificultando o acesso”.

Segundo ela, existem “famílias que só tem dois idosos na casa, ou famílias de mães solos com crianças que ficam distantes e não tem nenhum meio de transporte para se deslocar com essa água”.

Segundo a liderança, a comunidade continua sem acesso à água suficiente para lavar louça, tomar banho, lavar roupa, plantar e demais necessidades. Dessa forma a comunidade segue sendo abastecida com caminhões pipa da prefeitura com água para os afazeres domésticos. Mas ainda assim a água é insuficiente.

Questionada como as comunidades enxergam a solução para esse problema, Tayse afirma que elas seguem reivindicando há anos que seja construída uma adutora no território e encanada a água para as casas.   

- As famílias não se recusam em pagar pela água consumida, como se faz nas cidades, mas queremos água encanada e até hoje não temos".

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