Jones Manoel vem a Natal após expulsão do PCB e quer continuar batalha por revolução socialista
Natal, RN 16 de mai 2024

Jones Manoel vem a Natal após expulsão do PCB e quer continuar batalha por revolução socialista

30 de agosto de 2023
5min
Jones Manoel vem a Natal após expulsão do PCB e quer continuar batalha por revolução socialista

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Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

O historiador, influenciador e militante comunista Jones Manoel está em Natal para uma série de atividades na UFRN, após sua polêmica expulsão do Partido Comunista Brasileiro (PCB).

O pernambucano é um dos convidados do IV Seminário Marx Hoje, que acontece na universidade entre esta quarta-feira (30) e sexta-feira (1). Mesmo depois de deixar os quadros do Partidão, onde integrava a direção estadual e o comitê central, Jones não arrefeceu. 

À agência Saiba Mais, com quem conversou por telefone nesta terça (29) após desembarcar na capital potiguar, diz que já esperava que a chegada do governo Lula “iria provocar abalos nas organizações comunistas”.

“O golpe de 2016 abre uma nova conjuntura histórica em que a classe dominante brasileira, passa a uma ofensiva de explicitar de maneira clara e transparente os limites da democracia burguesa. O governo Bolsonaro leva isso a níveis estratosféricos, inclusive com declarações odiosas do Paulo Guedes dizendo que empregada vai para a Disney, e acho que esse cenário político facilitava o crescimento de organizações comunistas, porque as contradições de classe estavam ali postas de maneira visceral”, argumenta. 

“A volta de um governo de conciliação de classes, com o refortalecimento de um discurso participacionista de que dá para participar agora das decisões, dá para fazer mais políticas públicas, necessariamente ia gerar crises e certa desorientação. Eu não esperava evidentemente, individualmente, ser expulso do partido, mas uma certa crise, um certo abalo de rumos era esperado”, afirma.

Um dos motivos da saída da antiga sigla de Luiz Carlos Prestes foi as críticas públicas à participação de um membro do comitê central em eventos da Plataforma Mundial Antiimperialista (PMAI). Jones e outros expulsos acusam a entidade de promover uma desidratação do Movimento Comunista Internacional, a qual o PCB tem formalmente relações.

Em Natal, o historiador vai participar de ao menos duas discussões diferentes. A primeira será o minicurso “De Palmares até o socialismo: aportes para uma teoria da Revolução Brasileira” nesta quarta (30), das 14h às 18h. A revolução, para ele, segue no horizonte, mesmo com o racha atual – que diz ser um processo nacional e não envolve somente o Partido Comunista. Buscando dirimir as crises, Manoel pleiteia a realização de um 17º Congresso Extraordinário do PCB.

“A gente entende que o partido é muito mais que uma legenda jurídica, do seu registro no TSE. O partido é um instrumento político da classe trabalhadora, da juventude trabalhadora, para fazer política de maneira independente, para pautar os interesses do nosso povo trabalhador e lutar pela revolução socialista”, reivindica. 

“Então todos os que estão comprometidos com esse horizonte podem e devem se somar na luta para reorganizar o Partido Comunista, prezando pela continuidade e aprofundamento da sua Reconstrução Revolucionária. Acho que [a expulsão] é um episódio momentâneo que causa muito impacto, choque nas pessoas, mas é continuar fazendo o que eu sempre fiz: militando de maneira organizada, disciplinada, tentando contribuir com os debates, escrevendo, viajando o Brasil, produzindo, tentando dar uma contribuição para que o marxismo se torne a alma viva do nosso povo trabalhador”, pontua.

Outra atividade na capital será a mesa de discussão “Quem é a classe trabalhadora e por que ela (ainda) é revolucionária?”, que acontece na quinta (31) ao lado de outros debatedores. Segundo o palestrante, as novas dinâmicas do trabalho – como a uberização da economia e o trabalho informal -, aliado ao que considera uma crise do novo sindicalismo brasileiro, impactaram na organização da classe trabalhadora.  

“Agora isso não nega o potencial revolucionário da classe trabalhadora. Esse potencial se dá porque ela é única e exclusivamente produtora de toda a riqueza que existe no Brasil e no mundo, e não desfruta dessa riqueza, porque essa riqueza é apropriada privadamente”, afirma.

“Tem uma famosa tirada irônica do filósofo brasileiro Álvaro Vieira Pinto que ele pergunta porque os ricos não fazem greve, e respondem: ‘porque não trabalham’. Só faz greve quem trabalha, então esse potencial conflitivo é intrínseco ao sistema capitalista, de que a classe que produz toda a riqueza não se apropria dela, pelo contrário”, explica Jones.

A questão, para o professor, é que sentido político se dá a essa contradição. Neste caso, diz o pernambucano, depende do trabalho político, organizativo e comunicacional dos comunistas de mostrar que essa contradição pode ser resolvida de maneira revolucionária.

“Só que isso pode não acontecer nunca e pode acontecer daqui a três anos, quatro anos. Depende da correlação de forças, da nossa tática, da nossa estratégia, de como a gente está se organizando, de como a gente está conseguindo se comunicar com a classe trabalhadora”, aponta.

“A revolução socialista é uma possibilidade histórica sempre aberta enquanto existir capitalismo. Se essa possibilidade histórica vai se efetivar ou não, aí depende da boa e velha política. Depende de quem ganha, como se fala muito no movimento estudantil, os corações e mentes da classe trabalhadora”, conclui.

O IV Seminário Marx Hoje é aberto para o público interno e externo da UFRN. A programação completa pode ser acessada clicando AQUI.

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