Espécie de peixe descoberta no RN homenageia presidente Lula
Natal, RN 20 de mai 2024

Espécie de peixe descoberta no RN homenageia presidente Lula

22 de outubro de 2023
6min
Espécie de peixe descoberta no RN homenageia presidente Lula

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Na Caatinga do Rio Grande do Norte, recentemente, uma espécie de peixe foi descoberta já ameaçada de extinção. Para ter mais visibilidade, recebeu nome que homenageia o presidente Luís Inácio Lula da Silva: Hypsolebias lulai. Os detalhes da descoberta foram publicados em artigo nesta sexta-feira (20), na revista "Neotropical Ichthyology".

A descrição da espécie de água doce foi realizada por uma equipe de cientistas do Instituto Peixes da Caatinga – a organização atua em defesa da biodiversidade e da conservação dos peixes desse bioma – em colaboração com as universidades federais da Paraíba (UFPB) e do Rio Grande do Norte (UFRN), além da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e da Universidade de Taubaté (Unitau).

Mas tudo começou quando o agricultor Alberto Gomes pescou o animal desconhecido, em agosto de 2022, na bacia do rio Trairi, mais precisamente no assentamento Recanto II, município de Lagoa Salgada (a cerca de 70 km de Natal).

Fisicamente, o H. lulai se diferencia dos demais apresentando listras e uma faixa azulada na parte dorsal dos machos, enquanto as fêmeas são menores e possuem uma coloração amarronzada. O tamanho do maior animal encontrado foi de pouco mais de 5 cm.

A fotografia foi enviada ao biólogo professor da UFPB Telton Ramos, que mobilizou equipe de cientistas e organizou uma expedição, cujo financiamento foi viabilizado por meio dos seguidores do Instituto Peixes da Caatinga nas redes sociais. Essa colaboração entre população e cientistas na coleta de dados em uma pesquisa é parte do conceito de “ciência cidadã”.

Hypsolebias lulai fêmea | Fotos: Instituto Peixes da Caatinga

Ainda sobre nomenclaturas: o grupo de peixes da nova espécie é conhecido popularmente como “peixes das nuvens" ou “peixes anuais”. Quem explica é Telton Ramos: “As pessoas pensam que esses peixes caem dos pingos das chuvas, por isso é chamado de peixes das nuvens. São chamados também de peixes anuais porque aparecem de ano em ano”.

A denominação científica do gênero é Hypsolebias, que possui agora 35 espécies, pertencentes à família Rivulidae, ordem Cyprinodontiformes, com distribuição neotropical (nas Américas).

Já o nome lulai tem o único objetivo de chamar atenção. E está conseguindo. Desde a publicação do artigo, veículos de todo o Brasil têm se interessado pelo bichinho nordestino.

“Utilizamos o nome do presidente Lula pra poder divulgar a diversidade que esses peixes apresentam e também o grau de ameaça em que eles se encontram atualmente. Esse foi o nosso principal intuito: ganhar visibilidade para que a gente possa desenvolver essa estratégia de conservação em parceria até com o governo também”, explica o potiguar que está entre os autores da pesquisa, o biólogo pesquisador da UFRN Yuri Abrantes. Também assinam o artigo os pesquisadores Fábio Origuela, Dalton Nielsen e Silvia Lustosa-Costa.

Grupo arrecadou recursos pelas redes sociais | Foto: Instituto Peixes da Caatinga

Os peixes das nuvens são os mais ameaçados do Brasil, detalha Yuri: “Realizamos avaliação seguindo os critérios da IUCN [International Union for Conservation of Nature] e concluímos que a espécie já pode ser considerada como Criticamente Ameaçada (CR) pelos seguintes motivos: a espécie apresenta uma reduzida distribuição geográfica e presença de impactos relacionados à agropecuária em sua área de ocorrência”.

Yuri diz que, a partir do achado, é preciso cobrar do órgão licenciador, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do RN (Idema), a inclusão desse grupo de peixes nos estudos técnicos que legalizam empreendimentos na Caatinga, além de sugerir a criação de uma unidade de conservação visando a proteção do animal.

Nome de Lula é usado para chamar atenção da comunidade em geral | Foto: Instituto Peixes da Caatinga

A pesquisa não identificou empreendimentos no local, mas o grupo tem estudos em andamento na região Oeste do estado, onde identificaram empreendimentos de construção civil, eólicos e petrolíferos que impactam populações de peixes das nuvens.

Além da Caatinga ser o bioma mais ameaçado do país, o ambiente e o ciclo de vida desses animais favorecem a escassez de indivíduos. “É um grupo que ocorre em ambientes relativamente pequenos, em poças/ lagoas temporárias, que só enchem no período da chuva. Quando isso acontece, esses peixes aparecem porque os ovos deles estavam enterrados no substrato. O ciclo de vida deles é muito rápido. Quando a lagoa enche, os ovos eclodem e a população se estabelece. Eles vão passar em torno de quatro meses se reproduzindo o tempo todo e enterrando os ovos. O que que acontece? A lagoa vai secar completamente e todos esses peixes vão morrer, ficando apenas os ovos ali. Só na próxima chuva, depois de mais ou menos um ano, é que vão aparecer novos exemplares. Por isso, as pessoas pensam que eles vêm nas chuvas”, elucida o professor Ramos.

Com um inverno generoso em 2022, os peixes foram levados até reservatórios de água. Por isso, o senhor Alberto pescou o animal em pequeno açude. Em campo, os pesquisadores encontraram do peixe em três locais na zona rural de Lagoa Salgada.

Pesquisadores coletaram exemplares em Lagoa Salgada | Foto: Instituto Peixes da Caatinga
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