Izabel Hazin: o povo palestino tem o dever de resistir
Natal, RN 28 de abr 2024

Izabel Hazin: o povo palestino tem o dever de resistir

12 de novembro de 2023
19min
Izabel Hazin: o povo palestino tem o dever de resistir

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O povo palestino tem não somente o direito, mas o dever de resistir. Cada palestina/o que segue viva/o é portador/a da condição de tradução viva da nação”. Essa é a perspectiva da professora do departamento de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Izabel Augusta Hazin, sobre o papel do povo palestino no conflito com Israel, que ela classifica de genocídio.

Uma coisa é estar em guerra com países ao redor, outra coisa é ser submetido à uma iniciativa de aniquilamento”, avalia Hazin, que tem na sua família uma história marcada pela imigração da Palestina.

A Palestina sempre foi constitutiva de nossa saga familiar. O conflito atual, portanto, nos toca de muito perto”, afirma Hazin.

O desabafo de Isabel surge em meio ao silêncio da comunidade internacional perante os ataques que acontecem na Faixa de Gaza, ainda que existam descumprimentos às resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU) a respeito da terra palestina.

A comunidade internacional tem um papel importante na defesa do princípio de cidadania e direitos da humanidade mais básica, mas tem-se omitido miseravelmente nesse caso”, denuncia a professora.

Para ela, “é uma experiência muita dura, para cada uma/um que acredita em ter humanidade, perceber que há um outro que quer seu aniquilamento não por conta de algo que você fez, mas por algo que você é”.

Como membro de uma família imigrante palestina em Pernambuco, o tio de Izabel Hazin, o professor Hissa Mussa Hazin questiona a narrativa internacional que muitas vezes destaca exclusivamente o direito de Israel se defender, enquanto aponta para o histórico de opressão e colonização enfrentado pelos palestinos.

Há 75 anos os palestinos foram atacados, invadidos, massacrados e colonizados por um povo estranho a sua cultura, procedentes principalmente do leste europeu, mas também da Inglaterra, da França e principalmente, dos campos de concentração nazistas”, historia o professor.

 Imagem: AFP

Como país invadido e com direito a se defender, a Palestina vive em guerra com seu opressor, bem armado e bem treinado pelos seus eternos aliados. Já os palestinos, além de viverem em um território controlado por Israel, sem status de País, não possuem exército nem armas sofisticadas. Mas isso não os impediu de lutar por seu País, por sua liberdade e por sua dignidade”, avalia Hissa Mussa Hazin.

Ao abordar o recente ataque do Hamas em outubro, o professor Hazin vê isso como um ato de um povo oprimido em busca de liberdade, destacando as retaliações esperadas de Israel. Ele argumenta que esse é um esforço para chamar a atenção para a discriminação racial e a limpeza étnica promovida por Israel.

É mais um desdobramento do conflito travado pelos exércitos de Israel e a resistência palestina, independentemente do nome que a imprensa internacional queira atribuir. É um ato lícito de um povo oprimido em busca de liberdade”, afirma Hissa Mussa Hazin.

Ele critica o descumprimento sistemático das resoluções da ONU por parte de Israel e sugere a necessidade de revisão nas regras ou considerar alternativas, dada a continuidade do conflito e a falta de mudanças significativas.

Como não muda a postura dos Estados Unidos nem a de Israel, resta-nos duas alternativas: ou mudam as regras da ONU ou esta deixa de ser o fórum para decisões dessa natureza. Enquanto nada disso acontece, a guerra continua e milhares de palestinos ainda morrerão, milhares de crianças serão assassinadas, e o mundo discutindo um corredor para uma ajuda humanitária”, pontua.

O professor, assim como sua sobrinha Isabel Hazin, destaca a importância de entender o conflito além da narrativa hegemônica da mídia.

Leia na íntegra a entrevista com os professores Izabel Hazin e Hissa Mussa Hazin:

SAIBA MAIS: Professora, sua família tem uma história marcada imigração da Palestina. Pode compartilhar conosco um pouco dessa experiência e como ela influenciou sua perspectiva sobre o conflito atual?

IZABEL HAZIN: A Palestina, para a garota que eu fui, não foi mais um nome de um país distante de que a gente ouve falar na escola, depois na imprensa, nas conversas de umas/uns e de outras/os. Nas falas da minha mãe, de meus avós, na sonoridade do sobrenome que portamos, a Palestina sempre foi constitutiva de nossa saga familiar. O conflito atual, portanto, nos toca de muito perto. É isso que marca nossa perspectiva sobre a Palestina desde sempre, e nesses dias atuais.

SAIBA MAIS: Como psicóloga, como você analisa o impacto emocional que o conflito entre Israel e a Palestina pode ter nas comunidades envolvidas, considerando sua própria vivência nessa área?

IZABEL HAZIN: O nome real desse conflito se chama genocídio. Uma coisa é estar em guerra com países ao redor, outra coisa é ser submetido a uma iniciativa de aniquilamento – os judeus, por exemplo, sabem muito bem do que se trata. É uma experiência muita dura, para cada uma/um que acredita em ter humanidade, perceber que há um outro que quer seu aniquilamento não por conta de algo que você fez, mas por algo que você é. O impacto emocional disso é arrasador, a começar pelas crianças. Perde-se a fé no sentido de aconchego humano, e se passa para uma vivência de expectativa da morte – a sua e de quem lhe cerca – a qualquer momento. Esta vivência gera terror (a pior forma do medo), desamparo, e ódio.

SAIBA MAIS: O povo palestino tem o direito de resistir. Pode elaborar mais sobre essa perspectiva e como vê o papel da comunidade internacional diante dos acontecimentos na Faixa de Gaza?

IZABEL HAZIN: O povo palestino tem não somente o direito, mas o dever de resistir. Cada palestina/o que segue viva/o é portador/a da condição de tradução viva da nação. É preciso defender a terra dos ancestrais, da própria história. Isto precisa ser feito sem que se confunda a resistência do oprimido com a ignomínia assassina do opressor. Alguns povos, ao longo da história, não percebem a importância disso, e tendo sido oprimidos, passam à condição de opressores, e, ainda pior, racistas genocidas. A Palestina precisa ter a grandeza de se mostrar melhor que isso. A comunidade internacional, por sua vez, tem um papel importante na defesa desse princípio de cidadania e direitos da humanidade mais básica, mas tem-se omitido miseravelmente nesse caso. Pior, alia-se ao opressor, fornece o equipamento bélico que está transformando Gaza no maior cemitério de crianças do mundo. O papel da comunidade internacional, em termos gerais, tem sido um ultraje aos princípios de respeito à cidadania que muitos vivem ressaltando, até por conta de tê-los em sua história e em seus lemas nacionais, como é o caso da “liberdade, igualdade e fraternidade”. Para alguns?

HISSA MUSSA HAZIN: A mídia internacional reproduz a narrativa de Israel e dos Estados Unidos, que defende o direito de Israel se defender dos ataques terroristas do Hamas. Mas este direito de defesa é só de Israel? Há 75 anos, os palestinos foram atacados, invadidos, massacrados e colonizados por um povo estranho à sua cultura, procedentes principalmente do leste europeu, mas também da Inglaterra, da França e principalmente dos campos de concentração nazistas. Há mais de dois milênios vivendo na Europa, eles eram realmente europeus. Chegaram lá com a ajuda de americanos e ingleses e, pouco depois, em 1948, fundaram seu país sobre os escombros da Palestina, então um protetorado inglês desde o fim da Primeira Guerra.

Nesta primeira grande guerra entre Palestina e Israel, milhares de civis palestinos foram brutalmente assassinados pelos terroristas do Irgun, Stern e Haganah. Além das mortes, invadiram o território da Palestina e tomaram centenas de cidades e aldeias, fazendo mais de 700.000 refugiados que se espalharam pelo mundo. Desde então, como país invadido e com direito a se defender, a Palestina vive em guerra com seu opressor, bem armado e bem treinado pelos seus eternos aliados. Já os palestinos, além de viverem em um território controlado por Israel, sem status de país, não possuem exército nem armas sofisticadas.

Mas isso não os impediu de lutar por seu país, por sua liberdade e por sua dignidade. Sem armas e sem apoio político internacional, os palestinos que estavam na Cisjordânia, na Faixa de Gaza ou na Jerusalém Oriental, juntamente com milhares de refugiados na diáspora palestina, lutaram com as armas que tinham ao seu alcance. Primeiramente em conflitos armados, ou promovendo escaramuças. Depois, nas rebeliões populares denominadas intifadas, quando lutavam armados de fundas, badoques, boleadeiras e pedras. Por diversas vezes, a resistência palestina tentou o caminho da diplomacia, mas sempre foi traída por Israel que sistematicamente descumpriu os acordos internacionais, expandindo suas colônias em território palestino.

O ataque do Hamas em 7 de outubro é mais um desdobramento do conflito travado pelos exércitos de Israel e a resistência palestina, independentemente do nome que a imprensa internacional queira atribuir. É um ato lícito de um povo oprimido em busca de liberdade. O Hamas sabia e a população de Gaza também sabia das retaliações que seriam impostas por Israel. Mesmo assim, essa era a única forma de chamar a atenção do mundo para o apartheid na Palestina, na discriminação racial, do processo de limpeza étnica que vem sendo promovido por Israel. E agora, os crimes de guerra cometidos por Netanyahu nos ataques às populações civis.

SAIBA MAIS: Diante das resoluções da ONU sobre a terra palestina sendo descumpridas, como você percebe o papel das instituições internacionais e qual seria, na sua visão, a abordagem mais eficaz para abordar essas questões?

IZABEL HAZIN: Volto-me com esperança para os países do sul emergente, e guardo a fé e a esperança que o Brasil, com o senso de justiça histórica do presidente Lula, pode vir a desempenhar um papel importante para construção do amanhã. Revendo a história, tenho fé nas ações de cidadania, via boicotes os mais variados, como se fez outrora em reação ao então Estado racista da África do Sul. Apelo aos grupos religiosos mundo afora, e suas autoridades – se muitas guerras se fazem em nome desses grupos, são ainda eles que divulgam narrativas de entendimento, generosidade, amor ao próximo, e paz. Apelo aos países que compõem o Comitê Olímpico Internacional, no sentido de impedir a participação, nestes que surgiram na Grécia Antiga como jogos da paz, de países-membros criminosos de guerra. Apelo a cada uma e cada um para que não perca a fé.

HISSA MUSSA HAZIN: Quando não são vetadas por aquele que tem direito a veto, as resoluções da ONU são sistematicamente descumpridas por aquele que é protegido pelo que tem direito a veto. Na prática, dá no mesmo, e uma resolução vetada pelos Estados Unidos ou uma resolução que é descumprida por Israel não leva a nada para mudar o rumo do conflito. Como não muda a postura dos Estados Unidos nem a de Israel, resta-nos duas alternativas: ou mudam as regras da ONU ou esta deixa de ser o fórum para decisões dessa natureza. Enquanto nada disso acontece, a guerra continua e milhares de palestinos ainda morrerão, milhares de crianças serão assassinadas, e o mundo discutindo um corredor para uma ajuda humanitária. Não se discutiu até agora o porquê de o acordo de Oslo ter sido descumprido por Israel.

SAIBA MAIS: A mídia hegemônica muitas vezes não reflete a realidade do conflito. Como podemos buscar uma compreensão mais equilibrada e informada sobre a situação na Palestina?

IZABEL HAZIN: Não tenho a fé ingênua na existência de uma mídia “isenta”, 100% comprometida com os “fatos” – até porque os tais fatos são construções e representações humanas. Mas não posso ignorar a existência de um verdadeiro lobby de formadores de opinião no manejo das informações. Isso é verdadeiro para as redes sociais, com suas usinas de fake-news, mas é igualmente verdadeiro para a grande imprensa, dita “hegemônica”. Podemos sobreviver em meio a esse ecossistema de desinformação deliberada com o esforço da busca pela diversidade de fontes, manutenção do senso crítico, abertura para ouvir quem pensa diferente. E aqui voltamos a uma questão anterior: ser capaz de considerar opinião diversa, e não enviar um drone ou míssil em sua direção – é esse o caminho da redenção.

HISSA MUSSA HAZIN: A compreensão do problema fica comprometida por reproduzir exclusivamente o pensamento e a narrativa e refletir os interesses de um lado apenas da questão. O direito de se defender foi concedido exclusivamente a Israel (pela grande maioria dos governantes mundiais, o Brasil inclusive), mesmo que às custas de um novo holocausto, de um genocídio cada vez visível e ao mesmo tempo cada vez mais naturalizado nas palavras dos dirigentes dos Estados Unidos e Israel. A limpeza étnica é um processo antigo, mas nunca foi tão eficaz e perceptível como agora. Mas isto não está em questão. Os 10, 20 ou 30 mil palestinos que ainda morrerão não importam. Mas continuamos a ouvir sobre os 1400 mortos do lado de Israel, das crianças que foram degoladas pelo Hamas, pelos 210 cidadãos de Israel que foram sequestrados e feitos reféns, etc. O que há de verdadeiro nesse discurso? O que de fato é verdadeiro e o que é fake? Não sabemos e talvez nunca venhamos a saber.

SAIBA MAIS: Como podemos promover uma compreensão mais profunda das injustiças sofridas pelas comunidades palestinas?

IZABEL HAZIN: A compreensão mais profunda resulta necessariamente de um espaço de diálogo. Diálogo não é recitação de mantras por séquitos, e sim o esforço de ouvir, avaliar, e ter a grandeza de, eventualmente, ressignificar (na direção de mudar). O avanço na compreensão da tragédia palestina começa pelo resgate da voz palestina – desde o mais simples agricultor da Cisjordânia ao intelectual em Jerusalém, Gaza, Ramallah. Continua com a consideração dos demais envolvidos na gênese da história, como a comunidade árabe-muçulmana e demais etnias do Oriente Médio – incluídos os Judeus. Mas dito de forma mais simples, o avanço na compreensão dessa tragédia demanda de cada um de nós a recuperação da centralidade de princípios éticos e morais – “Não matarás!”; segue com a recuperação de princípios de justiça histórica – a Palestina é parte constitutiva do território que vai do Jordão ao Mediterrâneo; e se conclui com a postura de defesa intransigente, mesmo à custa da própria vida, de que nenhum/a palestino/a pode jamais se dobrar ao tacão de nenhum invasor-usurpador. “Palestina vive” está inscrito nos muros mundo afora não como um desejo (apesar de também sê-lo), mas como, justamente, um dever de justiça.

HISSA MUSSA HAZIN: Esbarramos no mesmo problema. Se a mídia hegemônica não está preocupada em refletir a realidade do conflito, menos ainda estará interessada em divulgar as causas que levaram o povo palestino a se rebelar e atacar o Estado de Israel com fogos e mísseis fabricados literalmente em fundo de quintal. As mídias sociais poderiam ter um papel fundamental, mas através delas as pessoas reproduzem os mesmos discursos e narrativas que ouvem na grande mídia. Resta-nos acreditar que o genocídio televisionado que assistimos todos os dias confortavelmente sentados em nossas poltronas possa sensibilizar a maioria da população mundial.

SAIBA MAIS: Como as experiências vividas por sua família influenciam as abordagens de resolução de conflitos e justiça social?

IZABEL HAZIN: Assim como tudo aquilo que nos toca mais diretamente (e família é carne, afeto, história) naturalmente nos chega com mais força. Muitos de nós têm se debruçado, avaliado, opinado em redes sociais sobre uma outra guerra da contemporaneidade, como a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. São guerras, eventos, que tratamos na terceira pessoa. Mesmo tomando ciência das mortes e insultos de toda e qualquer guerra. Mas, parafraseando Brecht, quando o usurpador invade sua casa, pisoteia suas flores, agride um dos seus, aí a coisa passa a ser tratada na segunda pessoa, e na primeira. Minha história familiar me atravessa no compromisso com a Causa Palestina nesse horror. É muito mais do que notícias na TV.

SAIBA MAIS: É possível falar em construção de um caminho rumo a uma paz duradoura na região, considerando o histórico complexo do conflito entre Israel e a Palestina?

IZABEL HAZIN: Como psicóloga, acredito que a manutenção de uma postura de fé e esperança não á garantia de sucesso em nenhuma empreitada, mas a completa ausência dessa fé e esperança é sim, garantia, de fracasso. A construção difícil, árdua desse caminho começa pelo esforço em manter a fé, a esperança. “Palestina Vive” como ato interno de fé. A partir daí, se avança na direção de outros pontos já discutidos em outras respostas.

HISSA MUSSA HAZIN: Isso estava devidamente previsto no Acordo de Oslo: Israel retiraria seus exércitos dos territórios palestinos, os assentamentos israelenses seriam interrompidos, e terras seriam devolvidas aos palestinos. A Autoridade Palestina faria um governo parcial, com alguma autonomia, e depois de 5 anos, o status seria renegociado para um país soberano. Mas nada foi cumprido por Israel. Pelo contrário: desde então, o apartheid se intensificou, muros foram construídos, checkpoints foram espalhados para garantir os novos assentamentos em terras palestinas. No fim, o plano de paz implodiu. Mas nem tudo está perdido: mais do que nunca, o mundo está sensível à causa palestina. Basta que o acordo de Oslo seja restabelecido, que os assentamentos sejam retirados da Cisjordânia e o status de país para a Palestina seja aceito pelos Estados Unidos. O reconhecimento de Israel como país pelos palestinos e da Palestina pelos israelenses está implícito. Com um ato simples assim, milhares de vidas seriam poupadas e a história do mundo reescrita.

SAIBA MAIS: Como a comunidade acadêmica pode contribuir para aumentar a conscientização e promover uma discussão mais aprofundada sobre o conflito e suas ramificações?

IZABEL HAZIN: A comunidade acadêmica pode ajudar MUITO, desde que ela siga fiel àquilo que lhe é mais peculiar, e que ao longo da história tem-lhe custado caro: RIGOR no trato dos dados, HUMILDADE na consideração de fontes diversas de conhecimento, HONESTIDADE e CORAGEM para rever conclusões, INTEGRIDADE para não alugar retórica para causas espúrias (muitas vezes sabendo disso). Da mesma forma que manifestei minha descrença numa imprensa “isenta”, não tenho como eludir o fato de que o conhecimento é sempre atravessado por uma visão de mundo, pelo “espírito do tempo”, e para muitos, haveria todo sentido no engajamento do “intelectual orgânico” na defesa de causas que incluísse uma leitura compromissada da realidade. Sim, isso é perfeitamente possível na comunidade acadêmica, desde que grupos não-alinhados com essa postura não sejam “cancelados”. Não tenham seus livros queimados. A academia é o lugar sagrado do contraditório – é por aí que ela fará seu papel.

SAIBA MAIS: Por fim, em sua trajetória, como você vê o papel das novas gerações na busca por soluções e na promoção de um entendimento mais profundo e empático sobre o conflito entre Israel e a Palestina

IZABEL HAZIN: Comento com meus filhos jovens que eles têm sangue palestino, mas devo confessar que não encontro (ainda) muita ressonância nessas conversas... À medida que o tempo passa, e as gerações se sucedem, fatos históricos fundadores, aqueles tão caros para os mais velhos, começam a cair no esquecimento, a perder centralidade. Mas sem o engajamento da juventude, não há esperança possível. Meu marido, neste momento residindo numa comunidade de forte presença muçulmano-palestina nos arredores de Paris, me contou que, nesses dias, voltando para seu alojamento, foi abordado por uma jovem estudante franco-palestina, com seus panfletos na mão, que se aproximou, e perguntou, olhos nos olhos, se podia lhe oferecer um dos panfletos, e contar com seu apoio à Causa Palestina.  Ele me disse o quanto o emocionou o engajamento, a fé, a intensidade do ato daquela jovem. E respondeu a ela que sim, que ela podia contar com o apoio dele, com o que recebeu o panfleto, e ganhou um sorriso. Sem as novas gerações não haverá saída. As novas gerações serão a vanguarda dessa, e de tantas outras empreitadas nobres que temos pela frente.

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