Dois anos da chancela da Unesco: entenda o que é o Geoparque Seridó
Natal, RN 1 de mai 2024

Dois anos da chancela da Unesco: entenda o que é o Geoparque Seridó

18 de abril de 2024
7min
Dois anos da chancela da Unesco: entenda o que é o Geoparque Seridó
Geossítio Açude Boqueirão, em Parelhas. Imagem: Silas Costa/Geoparque Seridó.

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No último dia 13 de abril, o Geoparque Seridó comemorou os dois anos da chancela da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que reconheceu o território como indispensável para a geologia internacional. A Agência Saiba Mais conversou com o professor Marcos Nascimento, do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e coordenador científico do Seridó Geoparque Mundial Unesco, que falou o que significa um geoparque e sobre a importância dessa chancela.

O professor conta que, em 2010, começou a primeira etapa da construção do projeto de geoparque no território: um inventário do patrimônio geológico. Doze anos depois, houve a efetivação da chancela de Geoparque Mundial da Unesco, tornando o Geoparque Seridó parte oficial do Programa Internacional de Geociências e Geoparques.

Nascimento explica, então, qual seria o significado de um geoparque. “Não se trata de uma área de proteção ambiental ou mesmo uma unidade de conservação. Não é, por exemplo, uma lista de monumentos naturais, nem um parque temático”, pontua o coordenador científico.

“Na verdade, um geoparque mundial da Unesco é considerado, hoje, uma nova forma de gestão territorial do século 21”.

Como descreve o professor, o conceito trata de áreas geográficas únicas e unificadas que têm um patrimônio geológico de relevância internacional, e que é gerenciado por meio de um trabalho de educação, conservação e desenvolvimento sustentável, com o foco principal no turismo.

“O geoparque vem para dar ao território essa característica de relevância internacional desse patrimônio geológico, que é uma parte do patrimônio natural, e a ele se soma o patrimônio biótico – a biodiversidade, com fauna e flora – e o patrimônio cultural”.

Para Nascimento, as quatro características de um geoparque são bem definidas no Geoparque Seridó, sendo elas:  a visibilidade, um patrimônio geológico de relevância internacional, a gestão – que, apesar de ser feita por seis municípios, dentro de um consórcio público, conta também com um comitê técnico –, e o trabalho em rede, favorecendo os atores que estão dentro e fora daquele território.

Geoparque e o território: gestão e importância

O território do Geoparque Seridó envolve o território de seis municípios, sendo eles: Cerro Corá, Lagoa Nova, Currais Novos, Acari, Carnaúba dos Dantas e Parelhas. Dentro desse território, existem 21 geossítios, locais de interesse geológico, que podem ser áreas privadas ou públicas.

Geossítio Xiquexique, em Carnaúba dos Dantas. Imagem: Marcos Nascimento/Geoparque Seridó.

Nascimento destaca que  as áreas de interesse, ou geossítios, que são públicas estão sob gestão das prefeituras; já as privadas, são geridas pelos seus proprietários. “Aqueles que fazem o Geoparque buscam sempre o diálogo com esses atores para favorecer os diferentes usos dos geossítios. Porém, infelizmente, até o momento, o Geoparque não é proprietário de nenhum geossítio, para assim facilitar o uso da melhor forma”, afirma. 

“Nas áreas públicas, temos uma facilidade melhor de diálogo com o poder público, com os municípios. Quando é privada, às vezes o proprietário não tem interesse que o local seja um atrativo turístico, por exemplo, e hoje ele pode até querer fechar”, explica o professor.

“Quem protege esses locais são as categorias de unidades de conservação e as áreas de proteção, dentro da legislação nacional, porém a maioria desses locais ainda não são unidades de conservação. O Geoparque contribui na promoção dos atores [públicos e privados] para buscar essa proteção”, pontua Nascimento.

Ele ainda ressalta o que tem sido feito pelo Geoparque para que essas áreas sejam protegidas. “Estamos fazendo o levantamento de todos os locais, para sugerir em quais podem ser criadas unidades de conservação. Também estamos fazendo um mapeamento, descrições em detalhes e dialogando com atores das áreas de geologia, biologia, do patrimônio cultural – como o pessoal da arqueologia e sociologia”, explica. “Para que possamos delimitar melhor essa área e, no futuro, em parceria com o poder público, submeter ao Idema [Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente] ou às secretarias municipais de meio ambiente, a criação de uma unidade de conservação”.

“Temos o diagnóstico dos locais que mapeamos, os 21 geossítios, e sabemos que a maioria está junto à iniciativa privada. O que temos agora é o diálogo, para montar parcerias e permitir com que o uso científico, educativo e turístico seja realizado da melhor forma com a filosofia do geoparque, beneficiando em primeiro lugar a população local”, explica o professor.

A respeito da relevância de um geoparque, Nascimento destaca a visibilidade desse território a nível internacional, mas também regional e local. “A população tendo esse entendimento e compreensão dessa importância do patrimônio natural e cultural, passa a se empoderar disso e a atuar em favor desse território”, ressalta o professor.

Antes de ser Geoparque Seridó e o que mudou

O coordenador científico conta que, desde 2010, quando atores se uniram para a construção de um projeto de geoparque na região do Seridó, até a chancela da Unesco foram doze anos de um projeto “aspirante a geoparque” [sic], com várias ações, principalmente na educação e no turismo.

Imagem: Joadson Silva/Instituto Seridó Vivo.

Na educação, o professor destaca o projeto “Os cinco sentidos do Geoparque Seridó”. A ação, que já capacitou mais de 4 mil professores e estudantes a respeito da geodiversidade e do patrimônio geológico, já se desdobra em outras.

No turismo, existe, por exemplo, cursos de capacitação para guias e condutores locais. Na questão turística, Nascimento também destaca o trabalho dos artesãos, pois, com o geoparque, “muitos evoluíram, até do ponto de vista de sensibilização ambiental, social e econômica com a produção do artesanato tematizado”, diz o professor.

“Tudo isso se potencializou muito de dois anos para cá, pois quando recebemos a chancela em 13 de abril de 2022, a gente percebeu que a visibilidade do território aumentou significativamente. Só para ter uma ideia, em 2022 foram quase dez mil visitantes que mapeamos – em parceria com guias e condutores locais – que foram visitar o território para conhecer o que é um geoparque e seus atrativos”, avalia Nascimento. “Nesses dois últimos anos, tudo o que a gente já havia realizado teve um aumento exponencial”.

Geossítio Açude Gargalheiras, em Acari. Imagem: Marcos Nascimento/Geoparque Seridó.

Canais do Geoparque Seridó
Para acompanhar as atividades do Geoparque Seridó ou mesmo entrar em contato com a equipe, a pessoa interessada pode entrar nos canais de comunicação, que podem ser conferidos no site.

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