Quando Bach dá o tom na break dance
Natal, RN 17 de mai 2024

Quando Bach dá o tom na break dance

15 de novembro de 2023
8min
Quando Bach dá o tom na break dance
Camarão Crew e Willy Helm (de bermuda) estudaram composição de movimento e inseriram dramaturgia para contextualizar o breaking / Foto: Cynthya Campos 

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Já não cabem nos dedos das duas mãos o tempo que Michael “Skimó” Stefferson tem como profissional de dança de rua. E como amador, é preciso voltar aos anos 2000, para contar o início dessa sua trajetória. Naquela época, quem se interessava pela cultura de breakdance era influenciado pela Red Bull BC One, uma das maiores competições do estilo do mundo, na qual concorrem milhares de bailarinos. Nas periferias de Natal, longe das grandes metrópoles onde ocorriam as competições, era assistindo o DVD desse evento que todo aspirante a B-girl ou B-boy, como Skimó, iniciava a sua carreira, de forma autodidata.  

“Também víamos outros vídeos e juntávamos uma galera para trocar experiências, evoluir passos”, conta o bailarino, que só em 2012 entrou para um grupo de maior porte e passou a enxergar a dança com maior profundidade.

Cinco anos depois, ele juntou mais gente interessada em levar o breaking potiguar a sério e ajudou a fundar, no bairro de Felipe Camarão, o grupo Camarão Crew que, além de reunir pessoas em torno das artes urbanas, tem a intenção de fazer do breaking uma ferramenta de estudo e produção cênica. Esse objetivo foi alavancado quando Skimó virou aluno do curso de licenciatura em dança, na UFRN, já no ano seguinte.

“Ter começado uma formação acadêmica foi primordial para o engajamento na área, em geral. Através da universidade, tive a oportunidade de refletir sobre minha prática, bem como ampliar meu repertório motor e defrontar com outras estéticas. Embora já fosse B-boy e atuasse na área competitiva há mais de 10 anos, o espaço acadêmico ofertou outras ferramentas que pude ampliar o trabalho que já vinha desenvolvendo”, reflete Skimó que, aos 28 anos, consegue sobreviver de sua arte, dando aulas em academias e se valendo de projetos acadêmicos e editais culturais.

A dança como um escape

Os B-boy Skimó, Suav e Versati, do Camarão Crew / Foto: Cynthya Campos 

Foi justamente um edital, lançado pelo Sebrae-RN, que deu forma ao primeiro espetáculo que Skimó participa, com incentivos financeiros, o “Mais que 6 Danças Para 1 Fuga”, que o público verá, gratuitamente, nesta sexta, 17, no TECESol. A apresentação foi criada pelo bailarino Willy Helm com o Camarão Crew e mistura o movimento rápido e potente do break dance interpretado ao som de música barroca, aliado a elementos audiovisuais e dança contemporânea.

O resultado é cheio de originalidade, já que reúne Willy, um bailarino de experiência nacional, acostumado aos palcos de grandes teatros, e um grupo de dança de rua formado em Felipe Camarão. O título remete aos seis trechos nos quais se divide o espetáculo e à “fuga”, estilo musical barroco trabalhado com maestria pelo compositor Johann Sebastian Bach.

"Além disso, fuga é também o que o breaking propicia para quem o dança. É um escape, uma válvula, a fuga de uma dureza de uma realidade”, reflete Willy Helm, referindo-se à origem desse estilo, que se apropria de espaços públicos para acontecer e que é movido por pessoas que têm de superar dificuldades para fazer a sua arte.

“Juntos, estudamos composição de movimento e inserimos dramaturgia, contextualizando a cultura hip hop e a vida cotidiana desses dançarinos”, completa o bailarino. 

Foram seis meses de concepção e ensaios para chegar à versão final, uma fusão de influências, perspectivas e possibilidades de interpretação e de expressão. Mas o início se deu mesmo nas fatídicas horas vagas da pandemia, que Willy optou por preencher com produção criativa.

“Eu já tinha uma vontade de fazer uma pesquisa que trouxesse uma movimentação potente, visceral e genuína para o contexto musical e barroco deste ícone que é Bach”, conta o bailarino que, em mais de 30 anos de carreira, já passou por companhias consolidadas nacionalmente, como as paulistanas Cisne Negro e Balé da Cidade de São Paulo.

“Então, conheci o Camarão Crew, na pandemia, e uni essa minha vontade de desenvolver algo inovador sobre Bach, com o trabalho original desses B-boys”.

Dar visibilidade ao breaking

Espetáculo levou seis meses de concepção e ensaios / Foto: Cynthya Campos 

Durante a concepção do espetáculo, todos tiveram acesso a um banco de músicas de Bach, tocadas em violão solo, de uma forma simplificada.

“Eles foram ouvindo e escolhendo as que mais se identificaram. Daí mergulhamos a esmiuçar essa musicalidade, como traduzi-la em movimento”, detalha Willy.

“A partir desse momento, busquei desenvolver um olhar sobre as danças urbanas, especificamente uma interpretação do breaking, como uma subdivisão apta a promover desdobramentos cênicos a partir de suas ferramentas corporais”, completa o bailarino, que no espetáculo atua com multitarefas: direção de movimento e concepção, coreografia, dramaturgia e figurino.

Skimó diz que o grupo ainda não possui uma bagagem consistente de apresentações com maior refino de produção, mas que “com a chegada de Willy Helm, que se tornou o nosso primeiro diretor artístico, somando sua experiência com a do grupo”, esta bagagem já está sendo bem melhor formada.

“A colaboração dele tem sido de grande importância para o coletivo, porque até o momento o Camarão Crew atuava de maneira bastante informal”, diz o B-boy, elencando dificuldades já conhecidas, desde a falta de políticas públicas voltadas a esse tipo de arte até a ausência de um espaço adequado a ensaios. “Queríamos ter a opção de não estar sempre a ensaiar na rua, mas não há escolha”, relata.

“O que move o grupo é a possibilidade de criar um espaço de atuação múltipla, buscar uma melhor condição de trabalho e reconhecimento da nossa profissão, isto é, ser dançarino ou dançarina de rua, mas com a possibilidade de atuar em diferentes contextos, e não só apenas das danças ditas urbanas”, planeja Skimó. Levar o breaking para espaços culturais convencionais, como teatros, em produções concebidas para uma caixa cênica, é meta do grupo, diz Willy, o que proporcionará maior visibilidade a esta expressão artística.  

E o que o público verá nos 40 minutos de duração do espetáculo “Mais que 6 Danças Para 1 Fuga”? “Verá o resultado de uma pesquisa sincera”, adianta Willy.

“O que cada um vai sentir na plateia, é único.  Mas asseguro que verão algo que não é comum de se ver; uma fusão de duas realidades distintas que certamente proporcionará uma boa fruição artística para quem a assistir”, convida o bailarino.

A conferir!

SERVIÇO

Mais que 6 Danças Para 1 Fuga

Local: TECESol (Rua Governador Valadares, 4853, Neópolis – Natal)

Data: 17/11/2023

Horário: 22h

Evento: “30 anos em 30 horas” do Grupo de Teatro Clowns De Shakespeare

Entrada gratuita, sujeita à lotação do espaço (sem retirada prévia de ingressos).

FICHA TÉCNICA: 

MAIS QUE 6 DANÇAS PARA 1 FUGA

Direção de movimento e concepção | Willy Helm

Coreografia e dramaturgia | Willy Helm, Camarão Crew, Bboy Suav, Bboy Versati

Intérpretes-criadores | Michael Skimó, B-boy Suav e B-boy Versati, com a participação em vídeo dos artistas Bboy Josa (Camarão Crew) e Bboy Madruga (Camarão Crew)

Figurinos | Willy Helm e Mainá Santana

Confecção de Figurinos | Lina Confecções e Gapix

Trilha sonora | compilação de várias peças de Bach, executadas em violão solo

Iluminação | Cléo Morais

Registro de Vídeos Solos | Roger Martins

Registro de Espetáculo em Vídeo | Gênesis Rodriguesz

Edição de Vídeo e Entrevistas | Willy Helm

Fotos | Cynthya Campos 

Design gráfico e Mídias Sociais | Michael Skimó

Assessoria de imprensa | Rosilene Pereira

Produção | Mainá Santana e Willy Helm

Parceiros | Tecesol, Grupo Facetas, Papódromo, Gapix, Darte Entretenimento

Apoio Cultural | SEBRAE – RN

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