Professor da UFRN vê oportunismo em pedido de impeachment contra Lula
O professor do Departamento de Ciências Sociais da UFRN, cientista político, José Antonio Spineli, vê o pedido de impeachment do presidente Lula - que contou com a assinatura do parlamentar federal Paulinho Freire - como uma tentativa de oportunismo do bolsonarismo, por hora acuado, devido às inúmeras investigações que recaem sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro e a cúpula do governo anterior que teria orquestrado uma tentativa de golpe contra a democracia brasileira, no dia 8 de janeiro de 2023.
“Aí há muito de oportunismo político. A oposição surfou na onda, com pedido para que Lula se retratasse. Bolsonaro está sofrendo processos e há perspectiva de prisão. Eles encontraram aí um mote para sair do canto do muro e colocar o governo na defensiva. No caso de Israel, não é muito diferente o oportunismo político. O genocídio se torna mais evidente a cada dia. Muitos judeus, inclusive, têm se manifestado contra essa política. E Netanyahu resolveu chamar atenção para a fala de Lula, para tentar desviar atenção do fato real que é o genocídio que está sendo colocado em prática. Mas, parece que o cálculo dele não deu certo, porque as pessoas começaram a se voltar para a questão do genocídio mesmo", pondera o professor.
Spineli também atenta para o fato de que o presidente Lula não citou a palavra holocausto, como se tem amplamente divulgado. E que tal declaração, comparando o que vem ocorrendo em Gaza, a o que Hitler fez com os judeus na Alemanha, na opinião do docente não é o problema maior e sim as mortes que estão ocorrendo naquela região.
“Lula já havia condenado a invasão do Hamas porque aqueles ataques [o ataque surpresa de outubro de 2023] atingiram a população civil, mas também criticou a reação de Israel e, sobretudo, o que Israel vem fazendo, que não é de agora… muita gente ‘esquece’ que aquela ocupação em Gaza já dura mais de 70 anos. Israel tem uma política de apartheid e limpeza étnica contra os palestinos há muito tempo e de maneira sistemática, com ocupação do território. Não podemos isolar a ação do Hamas desse contexto mais amplo, nem estigmatizar seus membros apenas como terroristas, como faz a imprensa internacional e nacional, principalmente as maiores, como a Globo, UOL e CNN”,
diz ele.
“Se você admitir que a ação do Hamas foi terrorista porque não distinguiu civis de militares, por que não classificar, também, a política sistemática do Estado de Israel como terrorista? Digo do Estado, porque é preciso distinguir o estado de Israel do povo judeu. Lula só vocalizou aquilo que passa na cabeça das pessoas, pelo menos, das que têm algum censo crítico”, acrescenta Spineli.