Criação de sindicato termina em tiro e caso de polícia em Natal
Natal, RN 27 de abr 2024

Criação de sindicato termina em tiro e caso de polícia em Natal

19 de março de 2024
6min
Criação de sindicato termina em tiro e caso de polícia em Natal
Polícia conduziu dois à 5ª DP | Foto: Valcidney Soares

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O que era para ser a criação de um sindicato dos trabalhadores terceirizados do Rio Grande do Norte terminou em caso de polícia, na manhã desta terça-feira (19) em Natal.

Na ocasião, foi feita a convocação para uma assembleia de fundação do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Prestadoras de Serviços Terceirizados de Locação de Mão de Obra no Serviço Público no Estado do Rio Grande do Norte (Sindelocação). O evento seria realizado na sede do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal no RN (Sintsef), localizado na Avenida Rui Barbosa, bairro de Lagoa Nova, zona sul da capital.

A convocação havia sido feita desde fevereiro, com edital e retificações publicados no Diário Oficial da União (DOU). A ideia do Sindelocação seria representar todos os terceirizados do estado, de diferentes empresas e categorias. Acontece que outros grupos alegam que já são representados. É o caso dos rodoviários (que integram o Sintro), pessoal da limpeza (Sindlimp), ramo têxtil (Sinditêxtil), condutores de ambulância, dentre outros. Organizados, eles foram até a assembleia, marcada para às 9h, e alegam que foram recebidos com um cordão de isolamento feito por seguranças na entrada. Um dos homens teria atirado para cima. A confusão foi instaurada e a Polícia Militar foi acionada, levando dois detidos — o que estava com a arma de fogo e outro com uma arma de choque (taser) — para a 5ª Delegacia de Polícia.

Imagem mostra o buraco causado pelo tiro na parte interna do Sintsef, onde foi realizada a assembleia | Foto: Valcidney Soares

“Recentemente nós descobrimos que algumas pessoas estavam tentando fundar um sindicato na área de terceirização de mão de obra, quando hoje essa classe é representada por diversos sindicatos, em decorrência de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com o Ministério Público”, explicou Roberto Amorim, advogado de alguns dos sindicatos contrários à criação da nova entidade, e que estava na 5ª DP na manhã de hoje.

“E na tentativa de tirar a representação desses sindicatos, essas pessoas que sequer se identificaram convocaram essa assembleia para tentar fundar esse sindicato. Nós nos reunimos, todos os sindicatos do Estado do Rio Grande do Norte que estavam sendo atingidos por essa tentativa que estão chamando de um golpe, de tentar fundar um sindicato sem que a classe trabalhadora pudesse participar, e nós convocamos os trabalhadores para que eles pudessem demonstrar sua insatisfação nessa criação e demonstrar que atualmente eles já são bem representados, então que não haveria nenhuma necessidade de uma criação de um novo sindicato”, apontou o advogado. 

Garis próximos a Fernando Lucena entraram para votar contra criação do Sindelocação | Foto: Valcidney Soares

De acordo com o advogado, ao chegar na sede localizada na Avenida Rui Barbosa eles foram proibidos de entrar, e aí iniciou o tumulto.

“Em decorrência desse tumulto uma pessoa que estava dentro do recinto estava armado e atirou e graças a Deus não atingiu ninguém”, diz.

Entre as acusações, estaria de que o grupo ligado ao Sindelocação seria próximo da direita e de empresários. Jorge de Lima, um dos nomes por trás da tentativa de criação do Sindelocação, refuta.

Trabalhadores entoaram gritos contra criação de nova entidade | Foto: Valcidney Soares

“O pessoal é tudo trabalhador, nenhum tem contato com o pessoal da empresa, ninguém tem contato com coisa nenhuma. Ao contrário, os trabalhadores querem fazer o seu sindicato para poder se defender, que esses sindicatos, ao contrário, já estão aí há 40 anos e não fazem nada pela categoria”, diz.

Lima denuncia que há empresa que faz três anos que não paga férias do pessoal "e esse sindicato não faz nada. Ao contrário, eles é que estão recebendo dinheiro das empresas para ficar nesse nível. Tem denúncia de que os sindicatos recebem dinheiro das empresas para não fazer nada, e a categoria passando fome, necessidade, que passa até dois meses sem receber um tostão”.

Vídeo enviado por Jorge de Lima mostra trabalhadores que seriam favoráveis à fundação de novo sindicato indo em direção à assembleia; reportagem não conseguiu identificar a base favorável enquanto esteve lá | Vídeo: cedido

Assembleia rejeita criação do Sindelocação

A Agência SAIBA MAIS chegou ao local da assembleia por volta das 8h40, momento em que uma viatura da polícia já tentava deter a pessoa responsável por atirar para cima, na área de entrada do Sintsef. A marca do tiro era visível no teto forrado por PVC, próximo a uma lâmpada. 

Além das categorias contrárias já descritas acima (rodoviários, pessoal da limpeza, do ramo têxtil, condutores de ambulância, dentre outros), estavam dirigentes políticos como Fernando Lucena (presidente licenciado do Sindlimp) e o vereador Robério Paulino (PSOL). A reportagem não conseguiu identificar ninguém do grupo favorável à criação do Sindelocação enquanto esteve lá, e nem na 5ª DP. 

Com o clima menos quente após a polícia deter as pessoas armadas, o grupo favorável a criação do sindicato se retirou do local (segundo Jorge em torno de 90 trabalhadores) e os contrários esperaram até 9h30 (horário da segunda convocação), chamaram Edilene de Almeida Lima (presidente da comissão, segundo o edital publicado no DOU), que não estava presente, e assumiram por conta própria a coordenação da mesa da fundação. De forma unânime, rejeitaram a criação da nova entidade.

Sala no Sintsef ficou lotada; por unanimidade, fundação do SIndelocação foi rejeitada | Foto: Valcidney Soares

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