Crianças com deficiência recebem atendimento odontológico da UFRN
Natal, RN 15 de mai 2024

Crianças com deficiência recebem atendimento odontológico da UFRN

19 de março de 2024
7min
Crianças com deficiência recebem atendimento odontológico da UFRN
Equipe do projeto conta com 3 cirurgiões-dentistas, 2 técnicas em saúde bucal e 4 residentes - Foto: Viviane Fernandes

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Há dez anos, um projeto do Hospital Universitário Ana Bezerra, vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte e à Rede Ebserh (HUAB-UFRN/Ebserh), oferece atendimento odontológico gratuito a crianças com deficiência. Diariamente, crianças no Espectro Autista, com síndrome de down, com microcefalia e outras necessidades especiais, e  que moram no interior do Rio Grande do Norte, têm a possibilidade de ter o sorriso transformado por mãos de profissionais especializados em saúde bucal. 

O serviço, que existe desde 2014, atende os  pequenos que são encaminhados através da regulação do município de Santa Cruz, distante a 116 km de Natal. O Huab é um hospital estratégico para o SUS, por oferecer assistência materno-infantil para mais de 20 cidades do interior do Rio Grande do Norte. Além disso, o hospital é um local de prática direta na formação de estudantes de graduação de cursos da área de saúde da UFRN e também é uma unidade executora de programas de residência médica e multiprofissional em saúde. 

O Projeto oferece atendimento tanto ambulatorial quanto o do centro cirúrgico. Além disso, a equipe também oferece atendimentos para gestantes de alto risco e gestantes que fazem pré-natal no Huab. A parceria do projeto com o centro cirúrgico do hospital, inclusive facilitou o trabalho dos profissionais e beneficiou um número maior de crianças. Isso porque, em um único atendimento, é possível tratar de várias situações bucais das crianças, sejam cáries, teste da linguinha, extrações e cirurgias de correção, tanto da mãe quanto do filho. 

Iran Siqueira, cirurgião-dentista que está à frente do projeto, explica que o serviço é importante para o cuidado das crianças, já que em algumas situações, elas não conseguem ser atendidas em algumas Unidade Básica de Saúde. “Dadas as condições das crianças (TEA, TDAH, SÍNDROME DE DOWN,  MICROCEFALIA e ETC), às vezes elas estão com dor de dente, mas não conseguem expressar verbalmente e se auto mutilam (se arranham, batem a cabeça na parede, gritam). Os pais não sabem o que está acontecendo, até passar por uma consulta com nossa equipe.”, explica o profissional. 

“Nossa equipe faz o Teste da Linguinha nos recém-nascidos nascido, para detectar  a língua presa (anquiloglossia). Essa alteração dificulta a amamentação. Aí nós fazemos a Frenotomia (cirurgia para soltar mais a língua do RN), facilitando a amamentação.  Isso ajuda o bebê a ganhar peso e ficar mais forte e também ajuda as mães já que a língua presa causa ferimentos  nos mamilos.”, esclarece o cirurgião. 

Siqueira também explica que os pequenos de 2 a 14 anos de idade já podem ser atendidos. “Essas crianças são atendidas no ambulatório, quando é possível, ou são atendidas no centro cirúrgico, sob anestesia geral. Ocasião na qual a equipe odontológica faz todos os procedimentos de uma só vez”, completa. Além disso, o cirurgião comenta que o atendimento também pode ser estendido às mães dos pequenos para melhorar o bem-estar de ambos. 

“As gestantes que fazem pré-Natal aqui no Huab, também são acompanhadas pela nossa equipe. Fazemos todo o trabalho ambulatorial e educativo,  mostrando que a gestante pode, sim, ser atendida pelo dentista. Que dependendo do período de gestação, ou do grau de desconforto das doenças bucais, ela pode tomar anestesia, pode extrair dentes, pode se submeter a raios X.”, completa.

Atendimentos a crianças com deficiência são negligenciados na área da saúde 

Cuidar de uma criança PCD é um trabalho que requer atenção e cuidado e, infelizmente, é comum observar casos de descaso, mau ou até a falta de atendimento para essas crianças. “É extremamente gratificante para nós prestarmos esse tipo de serviço. Muitas famílias nos ligam, depois dos atendimentos, agradecendo por termos feito seu filho ficar mais calmo e se alimentar melhor.”, desabafa Siqueira. 

Quem também trabalha no projeto do hospital é a odontopediatra Viviane Fernandes. A profissional desabafa que trabalhar com o atendimento infantil é gratificante, principalmente com esse público que é negligenciado pelo serviço de saúde. A dentista também comentou dos desafios que enfrenta no serviço e do atendimento humanizado que é necessário para realizá-lo.

 “Ser dentista em um projeto tão grandioso como esse, há quase 10 anos, e em um Hospital Universitário Federal não é simples. Porque além do conhecimento técnico-científico que esse público requer, temos que estimular constantemente, em nós e nos residentes, habilidades humanas como sensibilidade para uma escuta efetiva e atendimento humanizado.”, explica a profissional. 

Fernandes explica que quando esses pacientes chegam no Huab, geralmente, já têm percorrido vários consultórios odontológicos sem sucesso nos atendimentos. E ao realizar os serviços ambulatoriais, preventivos, curativos e até sob anestesia geral, a saúde bucal dos pequenos é melhorada e a qualidade de vida dessas crianças e de suas famílias é elevada.

“Eles serem acolhidos pelo projeto traz grande diferença na vida dessas crianças e seus familiares, pois geralmente são pacientes que não estão conseguindo se alimentar e estão mais inquietos por muitas vezes estarem com dor. Temos consciência que não adianta só acolhimento, temos que trazer solução e tratamento para os problemas odontológicos desses pequenos.”, explica. 

“E para isso, o Huab disponibiliza, desde 2023, o atendimento odontológico sob anestesia geral em centro cirúrgico, proporcionando o atendimento em sessão única e trazendo grandes benefícios. Principalmente para os pacientes que estão incluídos no Transtorno do Espectro Autista, por precisarem ser expostos menos vezes ao barulho oriundo de um atendimento odontológico, por exemplo.”, completou a odontopediatra. 

Fernandes conclui lembrando da importância de projetos como esse para devolver a saúde bucal infantil e a possibilidade de devolver os sorrisos em seus rostos. “A importância desse projeto é devolver a essas crianças saúde, condições de se alimentarem de forma satisfatória sem dor e focos de infecção. É presenciar a capacidade deles ultrapassarem os medos para permitirem o atendimento odontológico e participar da comemoração de toda uma família com cada conquista. É presenciar e participar ativamente da possibilidade de um atendimento odontológico inclusivo no SUS. É permitir que crianças e seus familiares voltem a sorrir.”, finaliza.

O que é a Rede Ebserh

Desde 2013, o Hospital Universitário Ana Bezerra é integrante da rede de hospitais universitários públicos federais administrados pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).

Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas.

Por causa da natureza educacional, os hospitais universitários são campos de formação de profissionais de saúde. Com isso, a Rede Ebserh atua de forma complementar ao SUS, não sendo responsável pela totalidade dos atendimentos de saúde do país.

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