Mudanças climáticas impactam de forma diferente as regiões de Natal 
Natal, RN 16 de mai 2024

Mudanças climáticas impactam de forma diferente as regiões de Natal 

24 de março de 2024
5min
Mudanças climáticas impactam de forma diferente as regiões de Natal 
Regiões periféricas são mais afetadas por mudanças climáticas | Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

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As fortes ondas de calor e as mudanças climáticas que afetam o mundo, transformam e preocupam a vida das pessoas. Em Natal, conhecida como "Cidade do Sol", o cenário não é diferente, e o clima afeta as áreas da cidade de formas diferentes. As zonas Norte e Oeste, por exemplo, sentem mais os efeitos das mudanças climáticas. Essas situações demonstram um tema relativamente novo e que vem sendo debatido pouco a pouco: o racismo ambiental. 

O termo foi criado na década de 80 por Benjamin Franklin Chaves Jr e entrou em debate público após uma fala da ministra da igualdade racial, Anielle Franco, relacionando o estudo com as fortes chuvas que atingiram o Rio de Janeiro. O Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e coordenador do Coletivo Nacional de Juventude Negra (Enegrecer) e do Coletivo Salve Natal, Saulo Cavalcante, explica o tema mostra que parte da população natalense sofre com isso:

“É o processo de impacto e oneração de grupos étnicos e populações racializadas através das consequências da degradação ambiental e de eventos climáticos extremos ou mesmo da privação de acesso a recursos naturais e a processos decisórios sobre os territórios em que vivem”, defendeu.

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Ou seja, as regiões periféricas e que concentram o maior número de pessoas pretas e pardas são as mais suscetíveis a enfrentar problemas de mudanças climáticas, como ondas de calor e fortes chuvas, sendo, assim, as regiões mais afetadas pelo racismo ambiental. Em Natal, as comunidades localizadas nas zonas Norte e Oeste são predominantemente compostas por negros e pobres e habitantes da orla, que dependem da pesca artesanal para sobreviver. 

Falta de áreas verdes na zn agrava calor, defende estudante 

Pensando nisso, a reportagem da Agência Saiba Mais esteve na Zona Norte de Natal para conversar com quem enfrenta esse problemas diariamente. Ismael Nascimento é morador do Nossa Senhora da Apresentação, o bairro mais populoso da cidade, e é estudante de Arquitetura e Urbanismo. Ele afirma já ter estudado explicações sobre o racismo ambiental e passou a relacionar o assunto com a região onde mora: 

Isso é uma coisa que os arquitetos urbanistas têm que pensar muito nas na hora de criar e desenvolver as cidades: criar esses espaços e pensar como esses espaços vão servir para essa população. E como morador da Zona Norte, eu percebo que tem um descaso em relação a isso. Principalmente quando dentro da questão urbana de infraestrutura de Natal, eu acredito que tenha uma grande negligência quanto a serem feitos espaços públicos em Natal, principalmente na Zona Norte”, comenta o estudante. 

Ismael também falou da falta de equipamentos públicos, como praças e áreas verdes, que forneçam alívio térmico nessa questão ambiental, principalmente na Zona Norte. Entre 1984 e 2013, Natal perdeu mais da metade de sua área verde, o que deixou a cidade entre 0,9 0C e 1,50C mais quente, segundo o professor do IFRN (Instituto Federal do Rio Grande do Norte), Malco Jeiel, geógrafo e doutor em Climatologia pela Universidade Autônoma de Madrid.

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 “Aí justamente isso acaba sendo ligado ao racismo ambiental, porque esses espaços livres não estão sendo feitos em periferias, que é onde estão concentradas a maior população negra e parda de Natal. Esses espaços não estão sendo feitos na zona norte, ou onde as pessoas precisam,. Aí as pessoas mais pobres ou as pessoas pretas e pessoas pardas têm que sempre ficar à mercê dessas políticas públicas. Afinal todo mundo tem que ter um direito à cidade. Existe a lei de direito à cidade. E porque o direito à cidade está sendo relacionado apenas às pessoas que têm poder aquisitivo e não a maior parte da população?”, questiona o estudante. 

Ismael ressaltou, ainda, que todos têm direito à cidade e, além de tudo, se reconhecer nela.

“E o racismo ambiental acaba sendo justamente quando as políticas públicas não são pensadas para essa grande parte da população que é pobre, preta, periférica, parda, indígena e que mora dentro das cidades e não tem direito a esse acesso. Não tem direito à cidade. Porque a cidade não é feita só para os grandes empresários construírem, né?”, finaliza. 

Calor não é o único problema

Recentemente, a Agência Saiba Mais mostrou que 8 lagoas de captação em Natal estão sob alerta de vazamento, como apontou a Defesa Civil do RN. Isso aconteceu devido às fortes precipitações que atingiram a cidade em novembro de 2023. É importante destacar que, 7 dessas lagoas estão na Zona Norte e uma delas na Zona Oeste, justamente as regiões citadas nesta matéria. 

A Secretaria de Infraestrutura de Natal informou que está realizando os serviços nas lagoas afetadas, cumprindo o calendário da pasta. Só que os moradores temem que novas chuvas possam afetar ainda mais as suas vidas. 

Na lista das lagoas estão a do Jardim Progresso, José Sarney, Santarém, Dom Pedro I, Redinha I, Parque das Dunas I, Parque das Dunas II e São Conrado. A única lagoa fora da zn é a de São Conrado, que fica no bairro de Nossa Senhora de Nazaré, na Zona Oeste de Natal.

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