Professores da UFRN decidem em abril se entram em greve
Natal, RN 9 de mai 2024

Professores da UFRN decidem em abril se entram em greve

20 de março de 2024
5min
Professores da UFRN decidem em abril se entram em greve
Foto: ADURN-Sindicato

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Os professores da UFRN aprovaram nesta terça-feira (19) um indicativo de greve para abril. Os servidores criticam a proposta do governo de reajuste salarial zero para este ano, e também pedem a reestruturação da carreira da categoria e a recomposição do orçamento das instituições federais de ensino.

A assembleia foi realizada de forma híbrida — presencialmente no auditório da Biblioteca Central Zila Mamede, campus central da UFRN, e remotamente, via Zoom. Mas ainda terão algumas semanas pela frente até que os professores batam o martelo sobre adesão ou não à greve. Uma nova assembleia foi marcada para 8 de abril, quando a categoria terá o resultado da próxima mesa de negociação formada pelo governo federal com os servidores em caráter permanente. Após essa data, será feita uma consulta em plebiscito à categoria para definir sobre a deflagração da greve.

Inicialmente, o indicativo não estava na pauta da assembleia, que discutiria pontos como campanha salarial de 2024, informes relativos aos precatórios e eleições para diretoria do ADURN-Sindicato – Gestão 2024/2027, e apresentação das contas da Diretoria do ADURN-Sindicato, referente ao ano de 2022, segundo parecer do Conselho Fiscal. A inclusão desta discussão na pauta, então, surgiu como uma “subpauta”, explica o professor Alessandro Façanha, do campus de Caicó. Ele critica o que considera um “pensamento histórico de acomodação por parte do ADURN-Sindicato”, sindicato da categoria, “que não estava pautando nenhum tipo de possibilidade de greve.” 

“Então é importante dizer que isso veio realmente a partir do debate. Eu estava de maneira remota porque trabalho no interior, mas alguns professores do presencial que estavam presentes na plenária já começaram as falas levantando essa questão. Algumas pessoas do remoto, representadas por mim, por colegas da Facisa, da Escola Multicampi, que eu me lembro também levantaram essa questão. E aí meio que trouxe à tona uma subpauta, vamos assim dizer”, aponta.

Na votação remota, a aprovação pelo indicativo de greve foi de 69%, segundo o docente.

“Houve falas no final que tentaram apaziguar, colocar aquela temperatura mais morna, esperando uma suposta negociação que virá agora no final do mês, mas mesmo assim a diretoria não conseguiu”, diz. 

Para o professor do campus Caicó, o indicativo de greve não parte por demandas exclusivas dos docentes. 

“Eu recebo mensalmente, desde o final do ano passado, ligações, mensagens por WhatsApp, de alunos perguntando se eu tinha cortado do projeto essas pessoas, porque simplesmente a bolsa não pingava há 10, 15 dias. Então para você ver o nível de desespero, porque a gente precisa entender que uma bolsa dessa ela é acima de tudo permanência, ela não é só pesquisa, ela não é só extensão. Ela é permanência sobretudo pro aluno do interior, que é muito carente”, reflete.

“A gente precisa avançar nesse debate polarizado, porque muitos professores ficam dizendo que no governo passado não teve mobilização e agora tá tendo, e isso não é verdade. A gente sabe que nós tivemos muitas mobilizações a cada tentativa e a cada anúncio de corte e que hoje há uma parcimônia mais ideológica avançando que a gente precisa também frear”, defende Façanha.

Outro que votou a favor do indicativo de paralisação foi Fellipe Coelho Lima, do Departamento de Psicologia do campus Natal.

“Não é uma tradição na UFRN a questão da greve. Já tiveram greves históricas que a UFRN não aderiu, então é algo extremamente positivo e necessário”, avalia.

“A questão do reajuste do salário e da reestruturação da carreira são urgentes, mas a gente também tá falando de mais um ano em que a verba destinada à educação superior é inferior ao ano anterior. E falando de um cenário, inclusive, que ele já vem aí há alguns anos piorando. E havia grande expectativa do novo governo recompor as verbas para educação superior e o que a gente tem visto é a diminuição, o que vai inviabilizando a própria oferta de educação pública de qualidade nesse nível”, afirma o psicólogo. 

“Imagine só que ano passado a gente já terminou com déficit de R$ 10 milhões na UFRN e a verba aprovada para esse ano é menor do que a do ano passado. Então é uma grande questão como o UFRN terminará esse ano, além de qual estrutura está sendo ofertada. Hoje a gente tem sérios problemas. Só um dos exemplos é o uso das salas de aula em que os aparelhos de ar-condicionados estão quebrados, a reposição é difícil, se compra ar-condicionado, mas você não tem dinheiro para pagar as empresas que fazem a recolocação. Isso está inviabilizando inclusive as atividades de sala de aula, fora outras questões como o reajuste do valor das bolsas de mestrado e doutorado, mas a quantidade ainda continua insuficiente, tem uma defasagem enorme se a gente comparar o número de demandantes nacionais e o número de bolsas disponíveis”, aponta Coelho Lima.

O presidente do ADURN-Sindicato, Oswaldo Negrão, ainda aproveitou a assembleia para fazer um convite.

“Desde já convidamos professoras e professores para se apropriarem desse debate, para se apropriarem dessa luta em defesa  da carreira do Magistério Superior, da carreira do EBTT [Ensino Básico Técnico e Tecnológico], e de todos os profissionais da educação”, afirmou.

Na semana passada, o Sindicato Estadual dos Trabalhadores em Educação no Ensino Superior (Sintest), que reúne os técnico-administrativos da UFRN, deflagrou uma greve e  pede a reestruturação do Plano de Carreira dos Cargos Técnico-Administrativos em Educação – PCCTAE, incluindo a recomposição salarial. Nacionalmente, a paralisação dos técnico-administrativos envolve trabalhadores de 50 universidades e de quatro institutos. A assembleia do ADURN aprovou uma nota de apoio a esta categoria. Confira:

O ADURN-Sindicato, entidade que representa os docentes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), vem a público prestar apoio e solidariedade à greve dos Técnicos Administrativos em Educação (TAEs) desta universidade, deflagrada na última quinta-feira, 14 de março.

Uma educação pública, gratuita, de qualidade, e socialmente referenciada depende diretamente de um orçamento justo, condições de trabalho, salário digno e valorização das e dos profissionais da Educação. Por isso, a luta dos colegas TAEs, também é nossa.

Oswaldo Negrão

Presidente do ADURN-Sindicato

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