UERN e UFRN oferecem minicurso remoto sobre Igualdade no 8M
Natal, RN 9 de mai 2024

UERN e UFRN oferecem minicurso remoto sobre Igualdade no 8M

7 de março de 2024
8min
UERN e UFRN oferecem minicurso remoto sobre Igualdade no 8M

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Nesta sexta-feira, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, a professora Andressa Lidicy Morais Lima Freitas, vai oferecer o minicurso Construindo Igualdade para Transformação Social. Ela foi convidada pelo projeto de extensão Núcleo de Políticas Públicas (NPP) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) para ministrar essa atividade que faz parte das celebrações do 8 de março, que será em formato remoto e as inscrições já podem ser feitas nesse endereço, clicando aqui. Andressa Morais é professora adjunta do Instituto Humanitas da UFRN e aceitou o convite da professora do curso de Ciências Sociais da UERN, Terezinha Cabral de Albuquerque, que também lidera um grupo de pesquisa do CNPq que é intitulado “Informação, Cultura e Práticas Sociais (BITS)”. O minicurso é aberto ao público. Podem se inscrever estudantes, servidores públicos, docentes, sociedade civil organizada (ONGs, Movimentos Sociais, Conselhos, Associações).

Cartaz do evento que será remoto e aberto ao público

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A Agência Saiba Mais conversou com a professora Andressa Morais sobre alguns temas que serão tratados no minicurso, como também sobre outras questões ligadas à data, a o que se pensa sobre o feminismo, dentre outras questões. Sobre o fato de que ainda se vê distribuição de flores e bombons, num dia que é, sobretudo para se lembrar a luta das mulheres, a antropóloga reflete:

Como poderíamos pensar em um Dia Internacional das Mulheres confiando apenas flores e bombons? Trata-se também de observar a maneira como o sistema econômico promove uma inversão do seu sentido profundo de luta por igualdade.

Claro que com isso, a professora não está afirmando que as mulheres não gostam de flores ou de bombons. Mas, o 8M, segundo ela, é uma forma de resistir às duras desigualdades que atacam, violentam e imprimem condições de acentuada vulnerabilidade sobre os corpos das mulheres. Portanto, exige das mulheres e sociedade em geral, reflexão, memória e diálogo.

"Este seria o principal significado do 8M: reconhecer uma história que nunca para de ser contada. Nesse sentido, convém lembrar que o machismo não vai causar inanição às movimentações de mulheres. Temos demonstrado recorrentemente a renovação de fôlego para continuar lutando por melhores condições de existência para mulheres. Temos avanços e recuos ao longo da história e é necessário ter noção dessa perspectiva. Além disso, falamos em lutas no plural para lembrar não só um conjunto diversificado de demandas de igualdade, liberdade e reconhecimento, mas também lembrar aquelas demandas concernentes à redistribuição de recursos, à divisão justa do trabalho de cuidado, aos direitos reprodutivos, ao direito a uma vida livre de violência, entre outras questões como o direito à terra, à moradia, à saúde e à educação", diz

E, para ela, é essa pluralidade de temas que deve fazer parte das reivindicações das mulheres, sejam elas negras, indígenas, trans, quilombolas, brancas, entre outras.

Não poderia deixar de lembrar que necessitamos no presente de uma “política feminista” que supere a imagem do feminismo branco-liberal que se coloca como universal, que exerce sua influência às custas de mulheres negras e racializadas que são oprimidas em razão de práticas de poder de classe, raça, gênero, sexualidade. Ora, nós que estamos no Sul Global, nós que estamos na América Latina, no Brasil, no Nordeste e no Rio Grande do Norte, temos a tarefa de contextualizar nossas lutas para não repetir o que vem da hegemonia como se estivéssemos fazendo uma revolução sem sequer trincar uma estrutura de poder. Localizar significa desenvolver uma consciência aberta e concreta acerca das lutas que fazemos a partir desses lugares.

Sobre o que ela pensa a respeito das conquistas femininas e as mudanças no mundo desde os primeiros movimentos sufragistas (em suma, ao direito ao voto feminino) e as lutas na Rússia e Estados Unidos, por exemplo, por melhores condições de trabalho, ela faz uma ressalva que essas lutas são ainda mais antigas, do que as já conhecidas e encabeçadas por mulheres como Clara Zetkin e Alexandra Kollontai. O mérito dessas conhecidas é pela unificação da agenda de lutas e criação do 8M.

Historicamente nós temos uma voz potiguar ainda mais eloquente na luta pela igualdade que já vinha fazendo história ao contestar a supressão dos direitos das mulheres de ter acesso à educação. Chama-se Nísia Floresta Brasileira Augusta, que publicou “O direito das mulheres e a injustiça dos homens” em 1832 e estava afiada com a denúncia das condições de subalternidade vividas pelas mulheres, negros e indígenas no Brasil. O 8M sempre ecoa a partir desses lugares outros de silenciamento, de supressão da voz de uma mulher que falava de “interseccionalidade” em um tempo em que essa palavra sequer existia. Consolidou a voz das mulheres na esfera pública não só local, mas internacional.

Ser Mana, Mulher!

A Agência Saiba Mais criou o selo Ser Mana, Mulher! para essa série de reportagens, com o intuito de tratar de uma necessidade que é estimular nas mulheres a relação de sororidade (união, afeição e amizade entre as mulheres). Sobre se essa possível competição e "rivalidade feminina" seria um estímulo do patriarcado, a professora Andressa explica:

Poderíamos fazer um glossário desses termos, não é verdade? Mas veja bem, o patriarcado diz respeito a uma forma de relação de poder em que há subordinação das mulheres aos homens, cuja centralidade se dá no masculino. A figura do patriarca representa o chefe de família que organiza a vida econômica, social e política do seu núcleo familiar, com base em valores tradicionais. Nesse processo de socialização a distribuição de poder, prestígio e decisão vai se consolidar na figura desse patriarca. Ele manda. Ele tem a posse econômica. E nessa travessia histórica fomos moldando as nossas relações sociais. Nossa sociedade socializa mulheres para serem focadas nessa figura do chefe de família (o marido), reproduzindo comportamentos como se fosse o seu único destino.

Mas a história e a cultura está mudando. E a antropóloga reconhece que essa estrutura que ensinou mulheres a brigar entre si por homens, é a mesma que vem refletindo sobre a importância de consolidar políticas de amizade, solidariedade e reconhecimento.

Infelizmente lidamos com uma variável difícil de superar, mas não impossível. Você lembrou bem que durante muito tempo dizer-se feminista significava acionar estereótipos de gênero marcados por vulgaridades do tipo “são machonas”, “odeiam homens”, “não se depilam”, entre outras bobagens desse tipo. O maior medo articulado nesse pano de fundo é de que as mulheres descubram o quão podem mover-se ao lado umas das outras na luta pela sua autonomia, sua autoestima e seu autorrespeito. Esse caminho é um caminho incontornável para todas nós.

ONDE SE INSCREVER?

Minicurso Construindo Igualdade para Transformação Social.

Essa reportagem faz parte do projeto “Ser Mana, Mulher", idealizado pela Agência SAIBA MAIS para produção de pautas dedicadas a temas que impactam diretamente a vida das mulheres, ao tempo que contamos as histórias de Mulheres.

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