Alerta: Saúde de jovens e adolescentes carece de maior atenção no RN

Dos 3,3 milhões de habitantes do Rio Grande do Norte, aproximadamente 30% são jovens e adolescentes. Com perfil próprio, essa população demanda políticas públicas específicas. Porém, em se tratando de saúde pública, geralmente as atenções estão mais voltadas para crianças, mulheres e idosos.

Para ajudar a mudar esse quadro, a Agenda Jovem Fiocruz e o Centro de Saúde Escola Samuel Barnsley Pessoa (USP) estão atuando em parceria com os governos estaduais do Rio Grande do Norte, Bahia, Ceará e a cidade do Recife para desenvolver políticas de Linha de Cuidado para a Saúde na Adolescência e Juventude para o Sistema Único de Saúde (SUS).

O grupo apresentou um mapeamento da situação no Rio Grande do Norte no final de março. Entre as principais demandas de saúde da juventude potiguar identificadas estão os casos de internações de jovens mulheres após o parto e a incidência de violência, sobretudo entre jovens negros.

Para o levantamento foram mapeadas todas as 1.306 unidades de atenção básica e 55 centros de atenção psicossocial do estado. Os dados analisados são de 2021 e a responsável pelo mapeamento local é Pryscylla Fideles.

Entre as mulheres, os problemas relacionados a gravidez representam 80% dos casos, especialmente entre adolescentes. O recorte racial também é importante: 73% dessas mulheres eram pretas.

O parto representa 10% das causas de morte entre mulheres adolescentes e jovens no RN. Segundo os pesquisadores, isso é evidência de problemas na qualidade do cuidado pré-natal.

Já entre os homens, chama atenção o número de casos de violência, especialmente entre pardos e pretos. “Causas externas” como acidentes, envenenamentos e violências são os principais motivos de internação de jovens e adolescentes, representando 75% dos casos de morte nesse grupo, especialmente entre pardos (77%).

Para o subsecretário de Juventude do Rio Grande do Norte, Gabriel Medeiros, os dados são importantes para incluir jovens nas políticas de saúde: “A juventude muitas vezes é invisível para as políticas públicas. Especialmente na saúde, em função da tese de que o jovem não adoece. Produzir dados e elaborar uma política estruturante do SUS para a juventude é importante para desmistificar essa compreensão”, afirma.

Dados do SUS revelados pela Fiocruz em dezembro de 2023 revelam agravos à saúde dessa população. Jovens representam um terço das vítimas de acidentes de trabalho. Problemas de saúde mental são a primeira causa de internações entre homens jovens. Já para as mulheres, um dos principais motivos é a esterilização.

“Os dados de saúde mental, saúde sexual e reprodutiva e saúde do trabalhador, para citar três exemplos, comprovam que a experiência juvenil brasileira impõe agravos à saúde que justificam atenção especial das políticas públicas a esse setor”, complementa o subsecretário.

Mossoró demanda atenção especial

A região de saúde de Mossoró foi escolhida como região de referência. Com a maior quantidade de jovens, essa área contém 146 unidades básicas de saúde e 9 centros de atenção psicossocial. Também apresenta números elevados de internações e mortes de jovens e adolescentes.

Apesar de Mossoró abarcar 14% dos jovens e adolescentes potiguares, a região responde por 20% do total de óbitos por causas externas dessa população no RN. Nesse público, 76% das mortes foram causadas por agressões em 2021, de acordo com dados do SUS.

Com informações da Fiocruz.