Desigualdade de renda entre ricos e pobres aumenta na Grande Natal
Natal, RN 9 de mai 2024

Desigualdade de renda entre ricos e pobres aumenta na Grande Natal

10 de abril de 2024
6min
Desigualdade de renda entre ricos e pobres aumenta na Grande Natal

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A diferença da renda do trabalho entre os que fazem parte dos 10% mais ricos e os que estão nos 40% mais pobres cresceu na Região Metropolitana de Natal (RMN). E o crescimento dessa desigualdade foi maior do que a maioria das regiões metropolitanas do país. É o que mostra o mais recente Boletim Desigualdade nas Metrópoles, produzido em parceria pela PUCRS Data Social, o Observatório das Metrópoles e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL). 

Os dados são provenientes da PNAD Contínua trimestral, do IBGE, e dizem respeito à renda domiciliar per capita do trabalho, incluído o setor informal, e sem somar programas de transferência de renda (Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada). O recorte utilizado é o das 22 principais áreas metropolitanas do país, conforme as definições do IBGE. Todos os dados estão deflacionados para o quarto trimestre de 2023, de acordo com o IPCA. 

Segundo o Boletim, no conjunto das regiões metropolitanas do Brasil, a renda domiciliar per capita teve uma queda de 4,8% entre os 4º trimestres de 2019 e 2022, seguida de um aumento de 7,9% entre os 4º trimestres de 2022 e 2023. Isso indica que a perda na média de renda durante a pandemia foi superada e a renda voltou a retomar um padrão de crescimento.

Esse movimento se repetiu entre a maior parte das regiões metropolitanas, menos em apenas seis delas: Natal, Fortaleza, Recife, Salvador, Curitiba e Vale do Rio Cuiabá. Nessas regiões, o rendimento médio no 4º trimestre de 2023 foi inferior ao registrado antes da pandemia, no 4º trimestre de 2019.

A razão de rendimentos entre os 10% mais ricos e os 40% mais pobres no Brasil, outro indicador de desigualdade abordado no Boletim, alcançou 32,8, no 4º trimestre de 2023. Isso significa que os 10% mais ricos ganhavam, em média, 32,8 vezes mais que os 40% mais pobres.

Essa razão, na Região Metropolitana de Natal, chegou há 44,4. Ou seja, os 10% mais ricos na RMN ganhavam, em média, 44,4 vezes mais que os 40% mais pobres.

A RMN foi também a que mostrou maior percentual de indivíduos em domicílios com rendimentos per capita do trabalho de até um quarto do salário-mínimo - e que, portanto, estão mais sujeitos a situações de vulnerabilidade social. Foram 36,5% da população. No ranking, vieram atrás Recife (36,3%), João Pessoa (35,7%), Aracaju (35,7%) e Grande São Luís (34,8%), todas regiões metropolitanas do Nordeste. 

Já com relação ao coeficiente de Gini, que mede o grau de distribuição de rendimentos entre os indivíduos de uma população - onde o valor zero representa a situação de completa igualdade, em que todos teriam a mesma renda, e o valor um representa uma situação de completa desigualdade, em que uma só pessoa deteria toda a renda - a RMN obteve o segundo pior índice no 4º trimestre de 2023, com 0,652. Ficou atrás apenas da Região Metropolitana de João Pessoa (0,670) e à frente de Teresina (0,647), Fortaleza (0,638) e Grande São Luís (0,615).

Autores comentam o resultado do estudo

Coordenador da PUCRS Data Social e um dos autores do estudo, o professor Andre Salata informa que o levantamento foca apenas na renda do trabalho porque, além das informações sobre outras fontes de renda só serem reveladas pelo IBGE no meio do ano, em média o rendimento do trabalho representa 70% da renda dos domicílios do Brasil, logo sua dinâmica afeta mais fortemente a dinâmica da renda total.

Nesse sentido, ele diz que os dados revelam uma notícia boa e uma notícia ruim. "A notícia boa é o crescimento da renda, fruto de um mercado de trabalho mais aquecido. A notícia ruim é o aumento da desigualdade, o que significa que a renda do trabalho dos mais pobres não cresceu na mesma proporção que a dos demais estratos. Isso ocorre, em alguma medida, porque na base da pirâmide temos ocupações de muito baixa produtividade, informais, e que concentram trabalhadores de baixa qualificação", explica.

Sobre a situação da Região Metropolitana de Natal, o professor observa com cuidado. "A média da renda per capita do trabalho cresceu 7,2% entre o 4º trimestre de 2022 e o 4º trimestre de 2023. No entanto, entre as famílias de menos renda (40% menos), a variação no mesmo período foi de -5,2%. Entre as de maior renda (10% mais) foi de 11,6%. Ou seja, Natal reproduz, com maior intensidade, a tendência do conjunto das metrópoles, de aumento da média de renda com crescimento da desigualdade. Não à toa, a razão de rendimentos subiu de 38 para 44 em natal naquele período".

Ciclo eleitoral x Ciclo das políticas públicas

Perguntado sobre como combater a desigualdade, Salata é ponderado. "Não acho que estamos inteiramente no caminho errado. Se continuarmos com queda da taxa de juros com controle de inflação, política de aumento real do salário mínimo, e expansão dos programas sociais, creio que no próximo ano podemos ter crescimento com redução das desigualdades. No entanto, tudo isso permitiria apenas mudanças conjunturais", argumenta.

Para o coautor do levantamento, o professor Marcelo Ribeiro, do IPPUR-UFRJ, combater desigualdades requer uma conjugação de ações, principalmente quando se trata de desigualdades de renda e trabalho. Mas que não há receita pronta. O caminho passa por programas de maior qualificação profissional, avanços na escolarização da população e políticas que vão atuar diretamente na estruturação do mercado de trabalho, a partir da criação de atividades econômicas geradoras de empregos, além de processos para maior formalização.

“Algumas ações podem ser pensadas no curto prazo, mas muitas delas só têm efeito se pensadas como políticas de médio e longo prazo. E uma das preocupações que se tem é que o ciclo eleitoral é menor do que o ciclo dos efeitos de políticas como essas”, argumenta. Nesse sentido, Marcelo faz um alerta: “é importante pensar em candidaturas que tenham preocupação de realizar políticas de estado mais do que políticas de governo que deixam apenas marcas eleitorais”.

*O texto foi atualizado com os comentários dos autores do estudo.

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