Marcos Silva: um defensor ferrenho do ensino de história
Natal, RN 12 de mai 2024

Marcos Silva: um defensor ferrenho do ensino de história

2 de abril de 2024
4min
Marcos Silva: um defensor ferrenho do ensino de história

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Historiador de conhecimento abrangente, o professor potiguar Marcos Antônio Silva se dedicou com profundo compromisso ao estudo e compreensão da história política e social do Brasil. Publicou livros sobre o período da República, cartoons da imprensa brasileira, ditadura civil-militar, Câmara Cascudo, Nelson Werneck Sodré, dentre diversos outros temas. Também foi grande referência no ensino de história.

Falecido no último domingo, dia 31 de março, aos 73 anos, Marcos Silva deixa uma lacuna na comunidade acadêmica e intelectual brasileira.

Professor Titular de Metodologia da História na FFLCH/USP, Marcos nasceu em Natal em 1950, frequentou o Cine Clube Tirol, e ainda na juventude partiu para São Paulo de sonhos maiores, onde trilhou uma notável trajetória acadêmica e intelectual.

Graduou-se em História pela Universidade de São Paulo (1976) e em Artes Plásticas pela Faculdade Santa Marcelina (1999), com Mestrado (1981) e Doutorado (1987) em História Social na FFLCH/USP e Pós-Doutorado na Université de Paris III, em 1989.

Também deixou um legado significativo nas artes plásticas, música, quadrinhos, literatura e cinema, linguagens que permearam sua vida e suas pesquisas, enriquecendo o diálogo entre a história e a criação artística.

No portal Opera Mundi, um de seus alunos e amigo, o jornalista Gilberto Maringoni, destacou algumas das qualidades do professor. "Era um intelectual extremamente erudito e culto, ao mesmo tempo que se voltava para o estudo da cultura popular e de massas".

Maringoni também lembrou da coincidência do falecimento do professor ter acontecido no dia do fatídico Golpe Militar, e que Marcos Silva sempre posicionou-se crítico em relação ao revisionismo histórico acerca desse período tão emblemático da história brasileira.

"A ditadura sempre fez de conta que era outra coisa"

Sobre esse posicionamento, em uma entrevista para o site da FFLCH/USP, em 2018, Marcos Silva afirmou: "A ditadura sempre fez de conta que era outra coisa. Ela foi implantada e mantida não apenas pelos militares, mas também por civis do judiciário, legislativo, imprensa, setores da universidade. Falar da ditadura como se ela fosse outra coisa é reiterar a ideologia daquele caos”.

Na mesma entrevista, traçou paralelos entre 1964 e os acontecimentos de 2018. “Penso que, num plano genérico, o que se assemelha muito é o clima conspiratório, a violência física contra opositores (mataram João Pedro Teixeira, liderança das Ligas Camponesas, antes do golpe; mataram Marielle Franco, liderança popular no Rio de Janeiro, muito recentemente), o grande poder econômico de golpistas e suas alianças internacionais de peso”.

Com uma produção intelectual vasta, Marcos Silva influenciou gerações de historiadores e pesquisadores, deixando um impacto duradouro no campo da História no Brasil.

Em nota, Associação Nacional de História destacou sua atuação em diferentes campos da pesquisa histórica, ao longo de 32 livros publicados, 56 orientações de doutorado e 30 dissertações de mestrado.

A Associação Brasileira do Ensino de História também lastimou sua perda. “Foi defensor pioneiro da manutenção do ensino de História no currículo da Educação Básica, trazendo esse debate para dentro da universidade, em pleno contexto do fim da Ditadura Militar. Engajado nas discussões curriculares, sempre procurou contribuir com reflexões candentes sobre o ensino de História ao longo de quase 5 décadas de produção historiográfica significativa e consistente”.

Em seu estado de origem, Marcos Silva foi lembrado pela Secretaria Extraordinária de Cultura, Conselho Estadual de Cultura e pelo Instituto Câmara Cascudo, que, dentre as diversas obras do autor, destacou a publicação de “Dicionário Crítico - Câmara Cascudo”, de 2003.

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