“Quem precisa do Estado é o pobre”: candidaturas da periferia reivindicam moradia, cultura e mobilidade para bairros de baixa renda
Natal, RN 30 de abr 2024

“Quem precisa do Estado é o pobre”: candidaturas da periferia reivindicam moradia, cultura e mobilidade para bairros de baixa renda

3 de setembro de 2022
5min
“Quem precisa do Estado é o pobre”: candidaturas da periferia reivindicam moradia, cultura e mobilidade para bairros de baixa renda

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Enquanto o dia 2 de outubro não chega, candidaturas ligadas ao movimento popular perambulam pelo Rio Grande do Norte em busca de eleger um mandato representativo para a população dos bairros pobres. Em diferentes partidos, algo os une: as críticas à falta de infraestrutura e de investimentos na periferia.  

Um exemplo é Wellington Bernardo, 44, que busca uma vaga na Câmara dos Deputados pelo PSB. Liderança sem-teto, ele coordena o Movimento de Luta por Moradia Popular (MLMP), organização que tem sete ocupações urbanas em Natal. Segundo ele, a candidatura é inspirada na do paulista Guilherme Boulos (PSOL), que já disputou a Presidência da República e chegou ao segundo turno pela Prefeitura de São Paulo em 2020. O objetivo, segundo Bernardo, é formar uma bancada pela moradia em Brasília. “Não só a casa pela casa. Tem que ter as casas, mas tem que ter as condições de morar com dignidade também”, afirma.

“A periferia das grandes cidades continua sendo esquecida, não tem uma voz que venha trazer a público a situação que se encontra a questão da educação, da saúde, do esporte, da cultura. Tudo é levado para a Zona Sul, nada para as zonas periféricas da cidade”, critica. “O maior complexo habitacional de Natal é o Village de Prata. Tem 5 mil pessoas morando ali e você não tem escola, não tem creche, não tem posto de saúde, não tem transporte de qualidade. Só tem uma linha de ônibus, e pega o povo pobre, joga ali e acha que é um galpão de pobre. E não é”, pontua.

De acordo com o militante, a trajetória dentro da luta por moradia vem da própria família. “A minha mãe foi ocupante de áreas urbanas para construir a casa dela, e hoje tem uma casa fruto da luta pela moradia. Aqui em Natal, já faço essa luta há 19 anos. Morei na ocupação Leningrado e sei dessa realidade. Quando o poder público chega na periferia, é com a Polícia Militar com repressão, batendo, desrespeitando todos os direitos que o cidadão tem”, afirma ele, que atualmente mora no Planalto.

No mesmo bairro, está o barraco de Marcos Antônio, 48, de outro grupo sem-teto, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). Há 15 anos dentro da organização, ele é candidato a senador pela Unidade Popular (UP) e tem como bandeiras a defesa intransigente das reformas urbana e agrária. Caminhando com a camisa vermelha do MLB e chinelos nos pés pelas ruas e programas de rádio e TV em que é entrevistado, ele critica o déficit habitacional e diz que as grandes empresas não têm olhos para os bairros pobres.

“As grandes construtoras não constroem empreendimentos que sejam para as famílias de baixa renda, porque elas sabem que mesmo tendo lucro, ele é mínimo. Elas preferem construir para quem tem um salário acima de R$ 5 mil, de R$ 7 mil, porque a prestação do imóvel ultrapassa os R$ 800. Aí você coloca água, energia e condomínio, e é basicamente um salário mínimo para você morar num prédio”, diz.

“Então, a gente sabe que a construção civil não vai voltar os olhos para as habitações populares”, opina. Para resolver o problema, diz, deve-se construir o que ele chama de “frentes únicas de trabalho”. 

“Com as frente de trabalho, o próprio trabalhador desempregado vai ter a oportunidade de trabalhar. Ele vai ter a chance, seja ele pedreiro, seja eletricista, seja encanador. Se ele não for qualificado para essas funções, ele vai trabalhar como servente, mas vai estar trabalhando. Ele vai estar trabalhando para ele mesmo, e além de ter uma casa própria no futuro, ele ainda é remunerado enquanto trabalha”, defende. Atualmente, Marcos é morador da ocupação Valdete Guerra, no Planalto.

Já Yara Costa, 26, está na sua segunda eleição. Em 2020, concorreu a vereadora de Natal pelo PT e ficou na quinta suplência. Agora, tenta uma vaga pelo MDB. Moradora das Rocas, na Zona Leste, enxerga a falta do poder do Estado no local e tem como principais bandeiras a cultura e a juventude.

“Falta investimento público de uma forma mais efetiva, porque a cultura do bairro continua, sendo que agora organizada pelos próprios moradores. Então não tem tanto incentivo, não têm destinação de emendas, as emendas que são destinadas pros segmentos culturais são para fazer grandes eventos e eventos que são muito pontuais”, explica, sobre seu bairro.

Formada em Gestão de Políticas Públicas pela UFRN, ela ocupou anteriormente o cargo de secretária de Igualdade Racial, Direitos Humanos, Minorias e Pessoas com Deficiência (SEMIDH) na Prefeitura de Natal e defende mais espaços de convivência dentro das comunidades.

“Eu acho que é fundamental cada vez mais a gente ter candidaturas da periferia, porque quem precisa do Estado é o pobre. Quem precisa que o posto de saúde funcione, que o transporte funcione, que a escola pública funcione é o pobre. A gente precisa capacitar pessoas para estar nesses espaços de decisão, porque enquanto estiverem as mesmas pessoas, as mesmas famílias, as coisas não vão mudar tanto”, reflete.

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