Eleitor potiguar parece cansado das oligarquias e dos "políticos de sempre"
O Rio Grande do Norte sempre viveu um paradoxo político, muito comum no país: reclamava-se dos "políticos de sempre" e da ineficácia deles e eleição após eleição os escolhidos pelos potiguares sempre foram "os de sempre", leia-se aí tantos os próprios como seus familiares e agregados. Desta forma durante um século ergueram-se três oligarquias políticas no Estado, claro, os Alves, Maia e Rosado, circundados por mini-oligarquias regionais (os Rego, em Pau dos Ferros, os Soares, em Assu e por aí vai).
Os números confirmam essa vocação esquizofrênica do eleitor norte-riograndense. Henrique Alves passou 44 anos na Câmara Federal, e passaria lá mais umas décadas não fosse o sonho de governar o Estado. O primo Garibaldi está há um quarto de século no Senado, assim como o também ex-governador, José Agripino Maia. Exemplos não faltam e cansariam os leitores.
Mas, por falar em cansar, finalmente esta cultura oligárquica/hereditária parece ter cansado o eleitor. Não completamente, claro, ainda são muitos os "filhos de fulano" e as "esposas de beltrano" a conquistarem cargos eletivos neste pleito, mas, parece haver a chance real de ter uma diminuição nesta cultura, o que seria um primeiro passo.
Comecemos pelo Governo. O favoritismo e liderança nas pesquisas é de Fátima Bezerra, ex-professora vinda de Nova Palmeira, cidade paraibana, abissalmente distante de seus concorrentes Carlos Eduardo Alves (sobrinho e primo de ex-governadores) e de Robinson Faria (filho de Osmundo, que quase foi ungido governador biônico durante a Ditadura Militar).
Não precisa se ir longe para perceber que os antecessores de Robinson eram todos de oligarquias. Robalba (da família Rosado), Iberê (Ferreira de Souza), Wilma (ex-esposa de ex-governador da família Maia).etc etc etc.
No Senado, os ex-governadores Garibaldi e Geraldo Melo brigam com foice pelas duas vagas com Zenaide Maia (sobrenome de oligarquia e com família toda na política, mas com modus operandi diferenciado) e com a celebridade Capitão Styvenson Valentim.
Na Câmara Federal, nomes identificados com hereditariedade de poder temem perder mandatos, casos de Beto Rosado, Rafael Motta e Rogério Marinho. Outros, como Felipe Maia, sequer serão candidatos, já que este, especificamente cedeu a vaga de candidato para o pai, José Agripino, que recuou de tentar reeleição para o Senado (o que já é um indicativo da ideia central deste texto).
E para a Assembleia Legislativa, existe a chance de renovação de até 30%, com nomes novos despontando no cenário marcado por polarização e descredibilidade do eleitor com os políticos.
Claro que computadas as urnas, o eleitor pode surpreender e mostrar que não esquece os velhos sobrenomes, mantendo a relação tapas e beijos que lhe caracteriza com este tipo de político. Mas, por outro lado, poderemos ter uma renovação real com sobrenomes ilustres caindo fora da vida pública. Esperar para ver.